06/12/2016

O PAPEL DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO DESENVOLVIMENTO MOTOR DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN

JESUS, M.A.¹; LIMA, N.S.¹; OLIVEIRA, R.C.¹; ALVES, V.N.¹; ZUNTINI, A.C.S.2

1 Discentes do Curso de Educação Física – UniÍtalo.

2 Orientadora, Bacharel em Fisioterapia pelo UniÍtalo, Especialista em Anatomia Macroscópica pelo Centro Universitário São Camilo, Mestranda em Farmacologia e Fisiologia pela UNIFESP, Docente do Curso de Educação Física do UniÍtalo.

                                       

RESUMO

Este estudo teve como tema o desenvolvimento motor de crianças com Síndrome de Down (SD) e a importância das aulas de Educação Física. A Síndrome de Down é uma alteração genética que ocorre na distribuição cromossômica, causada pela trissomia do par 21. Nos indivíduos com SD há algumas características específicas como hipotonia e frouxidão ligamentar, língua protusa, face achatada, tendo, na maioria das vezes, o seu desenvolvimento motor mais lento. Por meio da  revisão de literatura aqui apresentada, foi observado que a atividade física desde o nascimento até a fase adulta é de suma importância para o desenvolvimento motor da criança com SD, por isso, as Educação Física Escolar pode contribuir para um melhor desempenho motor dessas crianças, favorecendo, inclusive, o aprendizado.

Palavras-chave: Educação Física Escolar, Deficiência Física, Desenvolvimento  Motor, e Educação Inclusiva.

ABSTRACT

This study analyzes the motor development of children with Down Syndrome in Physical Education classes. Down syndrome is a genetic disorder that occurs in the chromosomal distribution, and thus classifies it as trisomy 21. There are some characteristics such as hypotonia and ligament laxity, protuberum tongue, flat face, having a slower motor development, not hindering one Day reaches a degree of normalcy. Through the studies it was verified that the physical activity from birth to adulthood is of paramount importance for the motor development of the child with DS,therefore, the Physical School Education can contribute to a better motor performance of these children, favoring, even, the learning.

Keywords: Physical Education, Physical Disability, Motor Development, and Inclusive Education.

INTRODUÇÃO

            Atualmente, existem muitas pesquisas relacionadas a vários tipos de deficiências como deficiência física, motora, intelectual e sensorial e neste contexto, aqui procurou-se destacar a síndrome de Down.

A Síndrome de Down (SD) é uma desordem genética, que ocorre quando existe a terceira cópia do cromossomo 21, comprometendo o desenvolvimento de milhares de pessoas (PUESCHEL, 2007).

O aluno com SD possui limitações que dificultam a realização de algumas atividades, como os demais alunos também possuem, e cada qual com suas particularidades, a questão é como essas limitações estão sendo administradas na escola e o que a literatura diz a respeito (NASCIMENTO; COSTA; LAUREANO, 2015).

Segundo Nascimento, Costa e Laureano (2015), atualmente, pessoas com SD estão vivendo mais e melhor, praticam esporte, trabalham, se casam, criam seus filhos e, como todo cidadão, possui o direito à educação de qualidade em escolas regulares ou especializadas, garantidos pela lei contida na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Brasileira (LDB).

É de grande importância que os estudos na área da Educação Física colaborem para o desenvolvimento global, já que os exercícios físicos são fundamentais para que isso ocorra. Nesse sentido o mover-se ajuda na descoberta do mundo à sua volta, adquirindo o desenvolvimento físico, mental e emocional por meio de sua adaptação no meio social (SILVA; FERREIRA, 2001).

Nesse contexto, o presente estudo buscou favorecer o processo de discussão acerca do Desenvolvimento Motor em escolares com Síndrome de Down, sobretudo no que se refere à importância das aulas de Educação Física. São expectativas pertinentes e possíveis que, com a apresentação deste trabalho, se possa contribuir para novos estudos científicos.

Este trabalho qualifica-se como levantamento bibliográfico descritivo simples, usando fontes de dados documentais, por meio da busca de artigos científicos sendo que alguns eram compostos por pesquisas de campo, em bases de dados eletrônicos no Google Acadêmico, Scielo e Pubmed, entre os meses de Agosto até Outubro. Foram empregados os termos livres: “Educação Física Escolar”, “Deficiência Física”, “Desenvolvimento Motor”, e “Educação Inclusiva”, sem especificação de idiomas, todos relacionados à Síndrome de Down. Após a revisão literária foram selecionadas as referências mais relevantes para o desenvolvimento do trabalho.

SÍNDROME DE DOWN

Kaplan e Sadok (1990) descrevem que os primeiros estudos relacionados à síndrome de Down, começaram no século XIX, pelo cientista inglês John Langdon Hydon Down. Até então, esses deficientes eram vistos como um grupo homogêneo e assim tratados e medicados. Coelho (2016) constatou que aproximadamente 1 criança em 1000 nascidos vivos mundialmente são SD. 

Em 1959, o médico francês Jérôme Lejeune constatou a presença de um cromossomo a mais em indivíduos com Síndrome de Down, caracterizando assim a trissomia do 21, e essa identificação até hoje é considerada a principal causa genética de deficiência (PUESCHEL, 2007).

A primeira definição desse tipo de encefalopatia feita por Langdon Down, em 1866, consiste nas características físicas, associadas ao funcionamento mental subnormal, resultando uma descrição precisa da população estudada: cabelos pretos ou de cor amarronzada, ralos e lisos, face achatada e larga, olhos oblíquos e nariz pequeno (SHWARTZMAN, 1990).

Como relata Shwartzman (1992):

 

“A síndrome de Down é uma condição clínica caracterizada por retardo mental, baixa estatura, alterações esqueléticas, imunológicas, vários estigmas fenótipos, bem como anormalidades em outros sistemas e órgãos; os pacientes afetados apresentam vários indícios de um processo precoce de envelhecimento.”

 

A síndrome de Down é uma anomalia que se encontra dentro das deficiências mentais, causadas por acidentes biológicos. Ela faz parte do grupo de encefalopatias não progressivas, doenças localizadas no cérebro e instituem um conjunto de quadros clínicos com variados sintomas patológicos, mentais e motores (KAPLAN; SADOK, 1990).

Bomfim (1996) cita alguns dos sintomas físicos como características da SD, a saber, deficiência mental geralmente moderada, hipotonia muscular generalizada, pouca coordenação dos movimentos, língua protusa, respiração bucal, cardiopatias (em 40% dos casos), fala tardia, sensibilidade a infecções, hiperextensibilidade articular, frouxidão ligamentar da primeira e segunda vértebra cervicais, entre outras. Damasceno (1992) apresenta as características mais evidentes, a descoordenação motora, lentidão na aprendizagem da marcha, da fala e dos cuidados pessoais.

            Ao falar sobre a Síndrome de Down, dois dos aspectos encontrados, a hipotonia muscular e a frouxidão ligamentar, favorecem problemas articulares, não impedindo que as pessoas realizem determinados tipos de movimentos; a realização de atividades motoras poderá adequar o tônus muscular (ORNELAS; SOUZA, 2001).

         Embora as crianças com síndrome de Down apresentem numerosos problemas médicos, é necessário ressaltar que muitas não apresentam nenhuma patologia, encontrando-se em perfeito estado de saúde (BOMFIM, 1996.).

DESENVOLVIMENTO MOTOR E SÍNDROME DE DOWN

Conforme Helen Bee (2003, apud ALMEIDA, 2007) o desenvolvimento motor implica o uso do corpo para a capacidade de movimentar-se, como as habilidades motoras amplas (engatinhar, caminhar, correr e andar de bicicleta) e as habilidades motoras finas (agarrar objetos, segurar um lápis e usar uma agulha). Ambas as habilidades estão presentes em todas as fases do desenvolvimento, e de modo geral são desenvolvidas mais cedo as habilidades motoras amplas.

Os distúrbios associados à Síndrome de Down (SD) podem interferir na aquisição motora, tornando as crianças mais frágeis ao aprendizado, o atraso no desenvolvimento da motricidade fina e global está altamente correlacionado à hipotonia, bem como em outras áreas do desenvolvimento, como o cognitivo e a aquisição da fala (TECKLIN, 2002).

Segundo diferentes pesquisas e estudos (FONSECA, 1983; WALLON, 1989; ALMEIDA, 2007; ROSA et al., 2008) crianças deficientes, seja ela mental ou física, demonstram o desenvolvimento das funções cognitivas e motoras mais tardio do que as crianças sem deficiência, não impedindo que em diferentes estágios do desenvolvimento cheguem a um grau de normalidade.

 

O desenvolvimento motor:

[...] é um processo contínuo e duradouro, que acontece durante toda a vida do ser humano. É ordenado e sequencial, sendo que esta sequência é igual para todas as crianças, apenas a velocidade de progressão (ritmo) varia. A ordem de domínio depende do fator maturacional, o grau e a velocidade                       dependem das experiências e diferenças individuais. (TANI et al., 1998, apud ALMEIDA, 2007).

 

Conforme Bonomo e Rosseti (2010) são adquiridas na infância grandes habilidades motoras, que proporcionam um controle corporal maior em diversos movimentos e em tarefas diárias. Crianças que passam por diversas experiências nos primeiros anos de vida tem um processo de desenvolvimento facilitado. Sendo assim, ao explorar mais as capacidades a criança tende a aprender mais. Por isso é importante que o desenvolvimento motor adquirido na infância se estenda até a idade escolar.

Crianças com SD necessitam de intervenção precoce para o seu desenvolvimento, diminuindo assim os problemas decorrentes da síndrome e possibilitando uma superação, um agradável convívio social e melhoria de qualidade de vida. Para que ocorra a intervenção faz-se necessário uma precedida observação ou avaliação, onde o terapeuta ou educador faz um inventário com as dificuldades e possibilidades de cada criança com relação ao seu sistema psicomotor (ROSA NETO, 2002).

Atualmente pode-se dizer que as crianças com SD não tem um limite de desenvolvimento estabelecido, isso irá depender diretamente dos programas de estímulos adequados oferecidos a elas. Para isso desde o nascimento faz-se necessário à estimulação precoce com uma intervenção e avaliação específicas, com uma equipe multidisciplinar, passando pela infância e adolescência, estimulando o psicomotor, enquanto na idade adulta o estímulo é voltado para a produção e o trabalho (PACANARO; SANTOS; SUEHIRO, 2008).

Almeida et al. (2007) destacam que geralmente as crianças que têm de zero a três anos recebem estímulos precoces em centros especializados ou APAE’s (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais), e após essa idade tem uma redução considerável ou até mesmo encerra-se o estímulo. Silva e Kleinhans (2016) destacam a necessidade dos programas de intervenções não limitarem o atendimento somente a pequenas crianças.

Sendo assim, ocorre um aumento na importância do desenvolvimento motor na infância, o acompanhamento das capacidades e habilidades motoras em crianças de idade escolar é considerado uma atitude preventiva para a aprendizagem, já que estudos que vinculam o desenvolvimento motor e rendimento escolar evidenciam uma estatística significativa entre a capacidade que a criança tem de aprender (cognitivo) e a capacidade que tem de fazer (motor) (FONSECA et al., 1994; POETA; ROSA NETO, 2007).

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

A Educação Física, por meio de atividades físicas, exercícios, jogos recreativos e esportivos, contribui significativamente na formação do indivíduo, apoiando-se em bases científicas do conhecimento biológico, pedagógico e psicológico para alcançar seus objetivos (RODRIGUES, 1993).

O professor é o elemento fundamental no trabalho de adequação e vivência dentro do ambiente escolar, ele é o responsável pela determinação da qualidade de interação, aquisição dos conceitos pelos alunos e a transferência destes conceitos, bem como para a funcionalidade na vida cotidiana (MASUZAKI, 1995).

Segundo Cidade e Freitas (2002), a Educação Física vem apoiando significativamente a inclusão de alunos com deficiência nas atividades escolares. E com a SD não é diferente, com atividade adaptada e moderada a Educação Física, coopera na valorização das capacidades físicas, reforça a autoestima, beneficia a qualidade de vida e ajuda na revitalização das capacidades do aluno, além da aceitação de suas limitações. 

A Educação Física Adaptada Inclusiva foi introduzida no Brasil como um assunto importante de acordo com o momento, devido às insatisfações sociais e movimentos de órgãos direcionados a proteger os direitos dos deficientes. A educação inclusiva passou a ser questionada a partir do século XVII (JANNUZZI, 2004).

Segundo Gomes (2000), a Educação Física adaptada e/ou Educação Física Especial tem sua prática voltada às pessoas com deficiência e desde sua origem teve uma atenção focada para o aluno em sua totalidade, tendo como conceito ser a ciência que proporciona ao aluno o conhecimento de seu corpo, levando-o a usá-lo como instrumento de expressão consciente, na busca de sua independência e satisfação de suas necessidades.

A Atividade Física Adaptada sublinha e congrega todas as formas de participação desportiva de qualquer indivíduo, mesmo com fortes limitações da capacidade de movimentos e seja qual for o propósito dessa atividade, se educativo, recreativo, competitivo ou terapêutico (MARQUES; CASTRO; SILVA, 2001).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) de (ROSA NETO, 2002), é um dos instrumentos utilizados para a avaliação do desenvolvimento motor, nas áreas de motricidade fina (óculo manual), motricidade global (coordenação), equilíbrio (postura estática), esquema corporal (imitação de postura, rapidez), organização espacial (percepção do espaço), organização temporal (linguagem, estruturas temporais) e lateralidade (mãos, olhos e pés). Esta avaliação determina, por meio de pontos alcançados no teste, a idade motora e o quociente motor obtido pela divisão entre a idade cronológica multiplicada por 100. Os testes consistem em baterias com 10 tarefas motoras cada, com exceção dos testes de lateralidade, e são distribuídas para crianças dos 2 aos 11 anos, organizadas progressivamente em grau de complexidade. Em casos de êxito na realização dos testes é atribuída a cada tarefa um valor correspondente à idade motora (IM) expressa em meses, para casos onde a criança não conclui com êxito a tarefa ocorre a interrupção conforme protocolo. Ao final da aplicação do teste e conforme o desempenho individual em cada bateria é atribuído à criança uma determinada IM (Idade Motor) em cada área conforme informado anteriormente (IM1, IM2, IM3, IM4, IM5, IM6), e após é calculada a idade motora geral (IMG) e o quociente motor geral (QMG) da criança. (SANTOS; WEISS; ALMEIDA, 2010).

Foi realizado um estudo por Santos, Weiss e Almeida (2010), onde o participante era uma criança do sexo masculino com a idade cronológica de sete anos, ele participava do Programa de Estimulação Psicomotora Específica – PIPE desenvolvido através do Laboratório de Desenvolvimento Humano, do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte – CEFID, da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, em Florianópolis/SC.

Para saber o que a criança é capaz de fazer e como ela faz, ocorreu primeira uma avaliação do desenvolvimento percepto-motor. Após descrever as suas habilidades é feito uma comparação com os padrões esperados para uma criança com desenvolvimento típico, com a mesma idade do participante da pesquisa (SANTOS, 2016).

Para o desenvolvimento deste estudo de Santos, Weiss e Almeida (2010), seguiu-se a sequência de etapas:

1ª etapa - avaliação biopsicossocial;

2ª etapa - avaliação motora;

3ª etapa - aplicação do programa de intervenção;

4ª etapa - reavaliação motora.  

 Santos, Weiss e Almeida (2010), destacam que o programa de intervenção tem o objetivo geral de estimular o desenvolvimento da motricidade de crianças com Síndrome de Down, proporcionando a todas as áreas o aprimoramento. As sessões foram realizadas com atividades lúdicas com a inclusão das áreas da motricidade fina e global, esquema corporal, equilíbrio, organização temporal e espacial e também a lateralidade. A criança juntamente com mais três alunos com SD, realizaram as mesmas atividades de intervenções motoras. Após as sessões de intervenção foi estipulado um período para uma reavaliação motora através da EDM de Rosa Neto (2002).   

Santos (2016), alega ao verificar o estágio de desenvolvimento motor em que o participante com SD se encontra, é desenvolvido um programa de intervenção motora contendo 32 sessões:

  • 5 sessões: (motricidade fina) objetivo de estimular/desenvolver destreza e óculo manual, com desenho, pintura, jogos de encaixe, pinçar pequenos objetos, separar blocos por cores, passar fio na tela, furar pontos em isopor. 
  • 5 sessões: (motricidade global) objetivo de estimular/desenvolver coordenação e controle do corpo, com jogos com bolas, com música (estátua), vivo ou morto, circuito com obstáculos (banco, corda, elástico, cones, bolas).
  • 4 sessões: (equilíbrio) objetivo de estimular/desenvolver postura, equilíbrio dinâmico/estático, com diversos materiais (auxiliares ou não), diferentes posições, jogos de troca de nível (subir e descer, correr e parar), etc.
  • 4 sessões: (esquema corporal) objetivo de estimular/desenvolver imitação, partes do corpo, rapidez, com brincadeiras cantadas, relacionamentos (monitor, pais, amigos), brincadeiras no espelho, atividades com papel, tinta, figuras geométricas, etc.
  • 4 sessões: (orientação espacial) objetivo de estimular/desenvolver percepção do espaço e percepção sensorial, com jogos de quebra cabeça, encaixe, manusear vários materiais e classificar (grande/pequeno, grosso/fino, mole/duro).
  • 4 sessões: (orientação temporal) objetivo de estimular/desenvolver linguagem e estruturas temporais, com brincadeiras com música (ritmo), palmas, bater o pé e parar, estimular a composição de frases, conversas, cantar.
  • 6 sessões: (lateralidade) objetivo de estimular/desenvolver dominância de mãos, pés, olhos, com jogos de encaixe, jogos com bola, saci-pererê, máscara, circuitos, binóculo, olho mágico.

Segundo Santos (2016), as crianças que participaram do programa de intervenções psicomotoras obtiveram resultados positivos, e houve aumento da Idade Motora Geral (IMG), e do Quociente Motor Geral (QMG).

Segundo o relato de Silva e Ferreira (2001), outra pesquisa foi realizada com nove alunos com síndrome de Down que apresentavam deficiência mental moderada, variando a idade entre 6 a 10 anos, sendo cinco crianças do sexo masculino e quatro do sexo feminino, pertencentes a escola APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Maringá, onde a coleta de dados foi realizada. A coleta de dados foi dividida em duas fases. Na primeira fase, foram explicados e demonstrados os exercícios que compõem o teste, e após iniciou-se a realização da coleta de dados do pré-teste.

Foi desenvolvido um programa de atividades sistematizadas com o grupo, no período entre pré-teste e pós-teste. Visando diretamente as habilidades motoras foram desenvolvidas atividades práticas, na forma de aulas de Educação Física, foram aplicadas duas vezes na semana, durante quatro meses, com o objetivo de promover e desenvolver a coordenação corporal (SILVA; FERREIRA, 2001).

Na segunda fase foi realizada a coleta de dados para o pós-teste. E para isso foram dadas novamente as explicações e demonstrações para a sua realização. Ao aplicar o teste tinha como objetivo não só a avaliação quantitativa (como é exigida pelo instrumento utilizado), mas se atentou às dificuldades e facilidades dos alunos durante a sua execução (SILVA; FERREIRA, 2001).    

Como instrumento de medida foi utilizado o teste de coordenação corporal KTK de Kiphard e Schiling (1974 apud GORLA, 1995), que é composto por provas de balançar de ré (caminhar à retaguarda), pulo monopedal (saltos monopedais), pular de lado (saltar de lado e testes de mudar de lado), sendo que o teste deveria ser executado por cada uma das crianças com três tentativas em cada prova.

O primeiro teste é nomeado de “caminhar à retaguarda nas traves”, ou seja, a criança deve caminhar para trás na trave de madeira sem cair, sendo que uma trave tem a largura diferente da outra. Foi observado que devido o contato com o material ou com similares durante o teste de “caminhar para trás nas traves”, houve uma maior segurança na realização após o desenvolvimento do programa estabelecido. Porém, conforme as observações de pré-teste e pós-teste de Silva e Ferreira (2001) não houve diferença estatisticamente significativa.

Segundo Pupo Filho (1997), o equilíbrio foi reconhecido como um importante papel na aprendizagem e desenvolvimento em pessoa com síndrome de Down, já que nessas pessoas o cerebelo é uma estrutura menor que o normal.

O segundo teste é de “saltos monopedais” que consiste em saltar espumas empilhadas, sendo alcançado o máximo de 12 peças. São realizados os saltos com a perna direita e esquerda. Conforme o resultado encontrado, Silva e Ferreira (2001) confirmam que ocorreu uma melhoria da qualidade adquirida no desenvolvimento dos saltos monopedais. Foi constatado que do pré-teste para o pós-teste houve uma diferença estatisticamente significativa, pois 78% das crianças demonstraram um progresso considerável. Porém foi observado que os saltos monopedais estão diretamente relacionados com o equilíbrio e durante a realização das atividades o mesmo ainda precisa ser aperfeiçoado.

O terceiro teste é chamado de “saltos laterais” onde a criança deve saltar lateralmente em uma plataforma de madeira, durante 15 segundos o mais rápido possível. Com as análises do pré-teste e pós-teste foi constatado que após a aplicação do programa de atividades com os saltos laterais, houve uma evolução para a maioria dos sujeitos (SILVA; FERREIRA, 2001).

Gesell (1987) afirma que, na faixa etária de 6 a 10 anos, as crianças gostam muito de pular, correr, subir e descer, estando sempre em atividade. Kaplan e Sadok (1990) pontuam que as crianças com síndrome de Down apresentam má formação cardíaca. Sendo assim segundo Silva e Ferreira (2001) esse pode ser o argumento ou a razão para os níveis baixos constatados nos resultados dessa prova, observaram que as crianças se cansam rapidamente com o esforço requerido do teste.

O quarto e último teste tem o nome “transferência lateral” e consiste em mudar de lado em duas plataformas; a criança deve estar sobre a primeira plataforma, passar para a segunda, pegar a primeira e colocá-la do outro lado, e assim sucessivamente, durante 20 segundos, o mais rápido que puder. Neste teste os números demonstraram que 22% dos sujeitos não apresentaram progresso; porém houve uma diferença considerada estatisticamente significativa, ficando de forma geral aperfeiçoada a sua coordenação motora (SILVA; FERREIRA, 2001).

Por fim, segundo observação geral de Silva e Ferreira (2001), os participantes dos testes apresentaram um nível de desenvolvimento satisfatório com relação a sua coordenação motora, podendo afirmar que a estimulação de crianças com atividades programadas pode resultar de forma geral em uma melhoria significativa no desenvolvimento.

Ainda que a correlação da tabela de classificação do teste KTK tenha considerado como baixos os níveis de coordenação motora, foi confirmado por meio do trabalho realizado com crianças síndrome de Down, que o programa ofereceu um aumento na qualidade das respostas motoras, dando a Silva e Ferreira (2001) subsídios para comprovar que os usos de métodos similares de trabalho, com certeza resultaram em melhoras no desenvolvimento das crianças e na coordenação motora.    

Contudo esse modelo de trabalho, que são as aulas de Educação Física direcionadas especificamente ao desenvolvimento motor, mostra-se importante, pois proporcionou resultados satisfatórios, que por sua vez, é o que todos os profissionais de Educação Física objetivam com seu trabalho, que é o desenvolvimento da criança (SILVA; FERREIRA, 2001).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É sabido que a Educação Física possui inúmeras estratégias e conhecimentos que podem ser de suma importância no desenvolvimento global da criança com Síndrome De Down, desde que pensada e articulada às especificações e interesses a serem alcançados, cabendo ao professor o extraordinário dever de fazer valer os diferentes tipos de valores e saberes embutidos na Educação Física.

A Síndrome de Down possui suas especificidades e estas devem ser entendidas para serem respeitadas, tanto pelo professor quanto pelos colegas de turma, já que além do atraso mental nota-se características físicas diferenciadas.

O desenvolvimento motor é algo bem trabalhado nos aspectos do desenvolvimento da criança com Síndrome de Down. Conforme a revisão de literatura, no momento em que a criança é incluída ao cotidiano em aulas “normais”, elas sofrem com o descaso, rejeição e profissionais despreparados para ajudá-los em seu desenvolvimento. Enquanto nas escolas especializadas o ambiente é adaptado para suas necessidades, favorecendo seu núcleo de amizade e assim contribuindo para o desenvolvimento favorável.

 A educação inclusiva no Brasil anda em passos de “Tartaruga”, e ao invés de beneficiar pode prejudicar o desenvolvimento motor, afetivo e cognitivo de crianças com Síndrome de Down, pois elas começam rejeitar a ideia de irem à escola regular de ensino.

Por fim, recomenda-se mais estudos referentes à Educação Inclusiva, a fim de analisar a interação de crianças com deficiências em aulas de Educação Física nas turmas regulares, e também as interações entre as crianças com deficiências e sem deficiências.

 

REFERÊNCIAS

ORNELAS, M. A,; Celso, S. A contribuição do profissional de educação física na estimulação essencial em crianças com síndrome de down.

Disponível  em: <file:///C:/Users/lab1/Documents/Downloads/3779-10611-1-PB.pdf,> Acesso em ago.2016.

AGUIAR, J. S. de,; DUARTE, É. Educação inclusiva: um estudo na área da educação física. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbee/v11n2/v11n2a5.pdf,> Acesso em ago.2016.

SANTOS, A. P. M. dos,; WEISS, S. L. I,; ALMEIDA, G. M. de. Avaliação e intervenção no desenvolvimento motor de uma criança com síndrome de down.

Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbee/v16n1/03.pdf,> Acesso em ago. 2016.

SANTOS, G. C. dos. Avaliações motoras para indivíduos de 0 a 12 anos portadores da síndrome de down. Disponível em: <http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/144020/000869935.pdf?sequence=1&isAllowed=y,> Acesso em ago. 2016.

COELHO, C. A síndrome de down. Disponível em: <http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0963.pdf> Acesso em ago. 2016

NASCIMENTO, C. dos S,; COSTA, O. R. da.; LAUREANO, M. L. M. A inclusão do aluno com síndrome de down nas aulas de  educação física em uma escola estadual de Parintins/AM. Disponível em: <http://www.revista.ulbrajp.edu.br/ojs/index.php/actabrasileira/article/viewFile/2239/734  > Acesso em ago. 2016

RODRIGUES, E. de A. S. Educação inclusiva para alunos com síndrome de down. Disponível em: < file:///C:/Users/lab1/Downloads/31297-145670-1-PB.pdf> Acesso em ago. 2016.

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Volume/Edição

Autores

  • Marina Amaral de Jesus, Nauzilda Santos de Lima, Rosemeire da Costa Oliveira, Valéria Neiva Alves, Ana Carolina Siqueira Zuntini.

Páginas

  • a

Áreas do conhecimento

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Palavras chave

  • Educação Física Escolar, Educação Inclusiva, Desenvolvimento Motor, Síndrome de Down

Dados da publicação

  • Data: 06/12/2016
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