30/09/2020

O Desenvolvimento Moral Infantil Segundo Kant e Piaget.

O DESENVOLVIMENTO MORAL INFANTIL SEGUNDO KANT E PIAGET

 

GOUVEA DOS SANTOS, Juliana de Lourdes[1]

ROCKER DOS SANTOS, Lúcio Mauro

 

RESUMO

 

Assim como Piaget expõe em suas pesquisas em torno da moral infantil, o sujeito tem um papel ativo na construção dos valores, das normas de conduta, atuando sobre o meio e o meio sobre ele, e não simplesmente internalizando o que recebe. A moral tem que indicar como ‘bom’ ou como ‘certo’ algo que aparece assim para o maior número de pessoas possível, que atinja toda e qualquer pessoa do mundo e indicando um principio de dever necessário a todos, tornando-se assim um Princípio Universal, onde o homem buscaria um motivo racional para agir. O ambiente em que a criança está inserida propicia tal desenvolvimento, um ambiente democrático, constituído por relações de cooperação e respeito mútuo. Com isso a presença da família é de extrema importância dentro desse processo, oferecendo essa relação de cooperação entre os adultos e seus pequeninos que certamente os levarão a uma futura autonomia, sendo que a coação necessária deve ser bem direcionada, imposta pelo adulto. Esse estudo se desenvolve com objetivo de compreender como tal construção moral ocorre na criança, e como a família pode contribuir nessa etapa das aquisições infantil, tão importante ao desenvolvimento humano, onde valores éticos e morais serão estabelecidos e os  acompanharão por toda sua vida.

 

 

 

ABSTRACT

 

As Piaget exposes in his researches about children's moral, the subject has an active role in construction of values, conduct's standards, acting on the environment and the environment on it, and not simply internalizing what it receives. The moral has to indicate as "good" or as "right" something that is seen as it says for most of people, that reaches every and anyone of the world and indicates a principle which must be necessary to everyone, making it an Universal Principle, where the man would search a racional motive to act.The environment in which the kid is inserted provides such development, a democratic environment, made by relations of cooperation and mutual respect. Therefore, the family presence is extremely important on this process, offering this relationship of cooperation in between the grown ups and their children that certainly will take them to a future autonomy, being that the necessary coercion should be well targeted, imposed by the adult. This study is conducted by the objective of understanding how this moral construction occurs in children, and how the family can contribute on this phase of children aquisitions, so important to the human development, where ethical and moral values will be established and will follow them in their entire life.

 

Keywords : Children's Moral, Construction, Family

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

Entender a construção e o desenvolvimento moral na criança é algo que desperta a curiosidade e interesse em muitos pais, educadores e psicólogos da infância. Sobre a formação moral dos pequeninos, muitos estudos e pesquisas foram realizados, porém percebe-se na nossa atualidade que este aspecto do desenvolvimento infantil necessita se melhor investigado.

A importância de se propiciar e contribuir para esta aquisição depende da participação integral da família, sendo no âmbito da mesma o lugar privilegiado para a construção dos valores e padrões de conduta. Ao enfrentar na vida cotidiana, conflitos envolvendo valores morais, a criança recorre à ajuda do adulto para resolução dos mesmos, e é neste momento que uma intervenção significativa e positiva contribuirá para uma futura autonomia da criança, pois se deixadas livres, inatas essas aquisições permanecerão anárquicas, expostas às piores intervenções negativas ocorrentes no processo de desenvolvimento humano, podendo tornar-se neutras do ponto de vista moral.

         E será através das relações sociais, do convívio com outros grupos, da interação com outras crianças, que a construção moral começará a desenvolver-se, pois são nas relações interindividuais que as normas e regras se constituem entre a criança e o adulto ou, entre elas e seu semelhante, as quais a levarão a tomar consciência do dever e a colocar acima de seu egocentrismo a realidade normativa na qual a moral consiste.

A presente pesquisa, embasada em leituras e análises bibliográficas, permitirá ao leitor, identificar e compreende o desenvolvimento moral na criança,  apontando a qualidade do tempo e do relacionamento que a família estabelece com a criança um dos elementos determinantes para aquisição da moral infantil. Se o relacionamento for pautado em respeito mútuo a criança perceberá a necessidade de respeitar as pessoas com as quais convive. Porém, respeitar a criança não significa deixa-la livre para fazer o que bem lhe convier.

No decorrer deste trabalho, se desenvolverá o conceito de moral infantil, utilizando como apoio os principais pesquisadores em torno da autonomia infantil, como Jean Piaget, Rheta DEVRIES, Ives De La Taille, entre outros e para finalizar tendo como base nas principais idéias abordadas, apresenta-se o entendimento adquirido no decorrer da pesquisa, com o propósito de responder aos questionamentos iniciais, a provocar outros, e contribuir para estudo.

 

 

 2 O DESENVOLMENTO MORAL SOB O OLHAR DE EMANUEL KANT

 

Emanuel Kant, filósofo alemão, nasceu em 1724 em Kaliningrado, dedicou-se no século XVIII a pensar muitas questões importantes, entre elas, as sobre a moral.

Kant deposita sobre a educação a grande responsabilidade de formar o homem para o bem, devendo sempre educar o ser humano com um olhar para o futuro, buscando uma sociedade cada vez melhor e mais aperfeiçoada.

Deste modo o pensador alemão é otimista em acreditar no aprimoramento da humanidade por meio da educação, porém ele apresenta certo descontentamento com a educação vigente em seu momento histórico, no qual  De La Taille nos aponta:

 

É coisa digna de nota para um espírito especulativo, e triste para um amigo da humanidade, ver a maioria dos grandes somente pensar neles próprios e nunca se preocupar com importantes experiências que podem ser feitas na educação, a fim de a natureza humana fazer um passo em direção à perfeição. (...) Os pais habitualmente seus filhos apenas em vista do mundo atual, por mais corrompido que seja. Eles deveriam, pelo contrário, lhes dar uma educação melhor, de maneira que um melhor estado possa surgir no futuro. Mas dois obstáculos encontram-se aqui: 1) os pais ordinariamente somente têm preocupação que seus filhos se dêem bem na vida; 2) os príncipes somente consideram seus sujeitos como instrumentos para seus objetivos. Os pais somente pensam na casa, os príncipes, no estado. (DE LA TAILLE, 1996, p.140).

 

 

Apesar de sua insatisfação, de como a educação é ministrada em sua época, Kant (1724-1804) aposta que é ela quem levará a humanidade a buscar a sua perfeição: “sem educação, o homem não é nada, não é homem, o homem só pode se tornar homem pela educação”. (apud DE LA TAILLE, 1996, p.139).

É com base nas contribuições de Kant (1724-1804) sobre a educação que buscaremos compreender a questão da aquisição da moralidade em suas perspectiva.

Segundo De La Taille (1996), para o filósofo, agir moralmente bem não é a mesma coisa que seguir as regras sociais ou mesmo as leis que nos cercam, se assim fosse não precisaríamos de moral, de respeito, de valores. Todos os povos e sociedades possuem suas leis, regras e, para ser uma pessoa boa ou correta bastaria segui-las. Da mesma forma Kant (1724-1804) refere que a moral não é algo assim tão simples, que está ligada apenas aos costumes de cada povo, a leis e regras de cada país.

A moral tem que indicar como bom ou como certo algo que aparece assim para o maior número de pessoas possível, que atinja toda e qualquer pessoa do mundo, deste modo a moral indicaria um princípio de dever necessário a todos, tornando-se assim um Princípio Universal, onde o homem buscaria um motivo racional para agir, ou seja, motivos que sejam possíveis para toda e qualquer pessoa (o que pode valer para mim devo concordar que possa valer para todos).

Para melhor compreensão observa-se um exemplo: suponha uma pessoa que pretende fazer uma promessa que ela já sabe, antecipadamente, que não vai cumprir. Poderia ser essa promessa falsa algo moralmente correto? Para saber isso basta aplicar o Imperativo Categórico. [2]

 

[...] ficaria eu satisfeito de ver minha máxima (de me tirar de apuros por meio de uma promessa não verdadeira) tomar o valor de lei universal (tanto para mim como para os outros)? E poderia eu dizer a mim mesmo: toda gente pode fazer uma promessa mentirosa quando se acha numa dificuldade de que não pode sair de outra maneira. (MENIN, 1996, p.39).

 

A situação acima seria algo insuportável para qualquer pessoa, pois podemos até querer uma lei universal de mentir, imagine se ela existisse não haveria mais como fazer promessas, ninguém acreditaria mais em ninguém.

Percebe-se assim que a moral de um ato, sua corretude, bondade, não está em que lei, regra ou norma obedece, mas sim no por que obedecemos, ou seja, no princípio de obediência.

Para Kant (1724-1804), observar esses, entre outros princípios universais levaria a humanidade a desenvolver a ética pelo desejo, mas puramente pela razão, pela lógica, pois o prazer e o desejo não devem desempenhar papel algum. Isto posto vamos ver agora as recomendações pedagógicas de Kant no que se refere à formação moral das crianças e jovens.

Kant (1724-1804) define duas linhas pedagógicas: a disciplina e a instrução, as duas contribuem na educação moral, como princípios básicos em que essa formação deve se alicerçar.

A disciplina é coercitiva e deve livrar o homem de seus impulsos irracionais, já a instrução por sua vez, vai instrumentalizar o homem suprindo-o de habilidades e conhecimentos.

Kant (1724-1804) enfatiza o papel da disciplina nos procedimento de educação moral, vale a pena citar alguns aspectos apontados por De La Taille (1996) sobre esta questão:

 

[...] rendemos um péssimo serviço às crianças procurando tranqüiliza-las logo que gritem [...] estragamos as crianças fazendo tudo o que elas querem [...] Se queremos formar o caráter das crianças, importa muito que lhes mostremos em tudo um certo plano, algumas leis que possam seguir exatamente[...].” (p. 143, 144).

 

Ao observarmos essas orientações, concluir-se que as idéias de Kant (1724-1804) sobre a disciplina são opressoras, porém para o filósofo, observar tais orientações não significa coagir as crianças, mas sim mostrar a elas que para terem um bom convívio social é necessário o respeito às outras pessoas e a si mesma, ou seja, a liberdade da ação pressupõe respeito, pois a criança ao internalizar seus desejos e sentimentos, deve cuidar para não comprometer a liberdade alheia.

Desta forma devemos articular a disciplina com a liberdade e a autonomia da vontade, pois a coerção é necessária para que a criança alcance sua moralidade. É preciso fazer com que os pequeninos usufruam a liberdade pela coação, e instruí-los a fazer bom uso de sua liberdade.

Pensando a disciplina como uma das formas necessárias à formação moral da criança, Kant (1724-1804), mostra-nos em suas pesquisas que devemos impor a disciplina logo no início da infância, pois se a mesma não for imposta, as chances de uma moralidade vantajosa se perderão definitivamente: “[...] a falta de disciplina é um mal pior que a falta de cultura, pois a primeira pode ser remediada mais tarde, enquanto não se pode mais afastar a selvageria e corrigir um defeito de disciplina”. (apud DE LA TAILLE, 1996, p.143).

Ao atender prontamente uma criança ao chorar ou gritar, levamo-nas a um comportamento consciente de que é a forma mais eficaz para saciar seus desejos, levando o adulto a tornar-se escravo das vontades da criança, com isso são as crianças que ditam as regras e não mais os adultos.

Outro aspecto importante do desenvolvimento moral que o filósofo enfatiza, diz respeito à obediência: “[...] criança deve obedecer cegamente; não é natural que mande, que o forte  obedeça o fraco”. (apud DE LA TAILLE 1996, p.144).

A criança precisa aprender a conhecer e respeitar o adulto, percebendo assim que o que lhe é imposto tem como finalidade ensiná-la a empregar sua própria liberdade, a qual o adulto instrui, dando base para a formação de seu caráter, para que um dia a criança seja capaz de agir por si própria, honrando seus deveres perante a humanidade, tornando-se assim autônoma.

Portanto, para Kant (1724-1804), a educação moral se completa pela instrução, ao instruir a criança, o adulto a está ensinado a pensar e cultivar alguns procedimentos que ela não cria por si só, e a trabalhar a memória acompanhada sempre pelo juízo, não como mera técnica: ”A memória é muito útil, mas não é bom torná-la mero exercício para as crianças, como fazê-las decorar discursos [...] A melhor maneira de compreender é fazendo; o que se aprende solidamente e se retém melhor é o que se aprende por si próprio”. (DE LA TAILLE, 1996, p.146).

Percebe-se com isso que todos os esforços devem se investidos na direção de a criança respeitar o ser humano e respeitar-se a si mesma como parte integrante de uma sociedade.

A fim de desenvolver este conceito do respeito, Kant (1724-1804) aborda dois níveis bastante relevantes para entender a educação moral, o auto-respeito e as sanções.

No que concerne ao auto-respeito, para adquiri-lo faz-se necessário que o adulto ajude a criança a honrar sua palavra sempre que empenhá-la:

 

A coisa mais importante é fundar o caráter [...], o respeito que a criança pode desenvolver por si própria, começa a partir da confiança que ela estabelecerá nela mesma, a criança precisa aprender a dominar suas paixões, seu impulsos, não deixando se levar por tendências afetivas, ou seja, se promete algo a alguém ou a si própria, ela deve honrar sua palavra.  (DE LA TAILLE, 1996, p.147).

 

Desta forma a criança é levada a confiar em si mesma o que lhe dá dignidade. O adulto ao fazer elogios constantes à criança, pouco contribui para sua formação moral, pois elogios demasiados resultam em vaidade e não numa moral autônoma.

Kant (1724-1804) ao se referir ao auto-respeito nos mostra que: “[...] a criança deve retirar a estima de si a partir de conceitos de razão; a humildade não é nada além da comparação entre o próprio valor e a perfeição moral”. (apud DE LA TAILLE, 1996, p.147).

Ao aprender a colocar deveres em relação a si próprios, os pequeninos, dão passos firmes para alcançar sua dignidade, aprendendo assim a se valorizar, não ficando presa a elogios alheios, que não contribuem para formar seu caráter.

Em relação às sanções, o filósofo nos aponta que, a melhor forma de punir uma criança quando comete erros justos de punição é tirar momentaneamente a estima alheia. Quando uma criança comete alguma falta o ideal é ignorá-la, demonstrando desprezo pela sua ação (não pela criança, mas pela ação dela), de forma não agressiva.  “Assim, este tipo de punição é a melhor, vem ajudar a moralidade; por exemplo, se uma criança mente, um olhar de desprezo é punição suficiente, é a melhor punição” (DE LA TAILLE, 1996, p.147).

É dentro das sanções morais que Kant (1724-1804) destaca outros conceitos no que concerne a moralidade infantil, como o sentimento de vergonha. O homem que age imoralmente deve sentir-se envergonhado perante si próprio, do que fez, o que o separa da perfeição moral, dos imperativos de sua consciência. Porém o autor ressalta que ”[...] não devemos colocar em jogo o sentimento de vergonha nas crianças, mas esperar para isto a juventude; este sentimento somente pode ter lugar quando o conceito de honra já se enraizou”. (DE LA TAILLE, 1996, p.148).

Mas, o filósofo admite que as crianças menores, no caso da mentira, podem-se assimilar a vergonha, porque ela é perfeitamente capaz de entender este sentimento, porém é o desprezo que o filósofo aconselha como recurso, deixando claro que desprezar, não é fazer com que a criança sinta-se humilhada, nem tampouco, deixar que ela humilhe os outros.

E assim, cada vez que ela agir mal, um mero olhar será suficiente, a criança sentirá que está perdendo a estima em função de seus atos, e não em razão de uma agressividade alheia.

Com isso percebe-se a importância de levar à criança a reflexão sobre seus atos, o qual a proporcionará um julgamento partindo de seu próprio ponto de vista, como veremos a seguir na perspectiva de Jean Piaget.

 

3 A MORALIDADE INFANTIL SOB O OLHAR PIAGETIANO

 

Piaget formula suas concepções sobre o julgamento moral, estudando as relações presentes entre as crianças e o jogo, basicamente procurando saber o que é o respeito pelas regras do ponto de vista da própria criança, utilizando primeiro das regras do jogo social, para em seguida passar às regras propriamente morais, prescritas pelos adultos em termos de deveres, para o autor: “toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por estas regras”. (PIAGET, 1977, p.2).

Para Piaget, os jogos coletivos de regras são de suma importância para a formação e o desenvolvimento da moralidade humana, pois representam uma atividade interindividual necessariamente regulada por certas normas que embora geralmente sejam herdadas de gerações anteriores, podem dentro do jogo ser modificadas pelos membros de cada grupo de jogadores; as regras do jogo em si não apresentam caráter moral, porém o respeito a elas é moral e envolve questões de justiça e honestidade, pois tal respeito provém do acordo mútuo entre os jogadores e não da simples aceitação das regras por imposição de adultos .

Os jogos infantis constituem uma forma de instituição social e para compreender concretamente como tais regras são internalizadas pela criança, o autor em suas pesquisas de campo colocou-se muitas vezes a jogar juntamente no chão com as crianças, pedindo-lhes que o ensinasse como se joga e interagindo com eles, deste modo, podia observar as concepções das crianças relacionadas às regras do jogo, levantando questões  de onde elas vinham, quem as tinha inventado e se podiam ser modificadas, com isso Piaget buscava "saber o que vem a ser o respeito à regra, do ponto de vista da própria criança". (PIAGET, 1994, p. 21).

Conseguiu com suas pesquisas entender que a criança apresenta três etapas na consciência de regras, evoluindo conforme sua idade mental. (PIAGET 1994, p. 34).

 

 3.1. PRIMEIRA ETAPA: ANOMIA E A MORAL DE COAÇÃO

 

Nesta etapa do desenvolvimento da consciência das regras que segundo Piaget acontece aproximadamente por volta dos dois anos de idade, as crianças não seguem regras coletivas, não demonstram interesse por jogos a não ser para satisfazerem seus interesses motores ou suas fantasias simbólicas, e não para participarem de uma atividade coletiva, não podendo então estabelecer regras coletivas ou sociais, portanto ainda não há consciência da regra. Segundo o autor, a criança “Estabelece, nessa ocasião, esquemas mais ou menos ritualizados, mas, permanecendo o jogo individual, ainda não se pode falar senão de regras motoras e não de regras propriamente coletivas.” (PIAGET, 1994, p. 33).

Como objetivo do presente trabalho é a compreensão da construção moral na criança, passa-se a segunda etapa, a já evidência de características morais.

 

 3.2. SEGUNDA ETAPA: HETERONOMIA

 

Os interesses em participar de atividades coletivas e regradas já começam a ser percebidas nessa etapa, em crianças com média entre cinco anos de idade segundo Piaget (1994).

As regras durante essa etapa são entendidas pelas crianças como sagradas e imutáveis não podendo ser mudadas, sendo considerada uma trapaça a sua alternância, e tais regras não são concebidas como um contrato firmado entre os jogadores, mas sim como algo sagrado e imposto por alguém a quem ele respeita. A criança não se vê como legisladora criadora de regras, e nem que as regras podem ser concebidas por mútuo acordo entre os participantes. A criança heterônoma não assimila ainda o sentido de existência de regras, não as entende como necessária para regular e harmonizar as ações de um grupo de jogadores e por isso não as segue a risca, e justamente por não as conceber desta forma, atribui a regra uma origem totalmente estranha à atividade e aos membros do grupo, e uma imutabilidade definitiva que faz as regras assemelharem-se a leis. “[...] a regra é considerada como sagrada e intangível, de origem adulta e de essência eterna; toda modificação proposta é considerada pela criança como uma transgressão.” (PIAGET, 1994, p. 34).

Nesta faixa etária as crianças encontram-se em idade pré-escolar sendo difícil de se estabelecer regras verbalmente com elas através da cooperação mútua, e as brincadeiras que envolvem o lúdico, o faz de conta são fundamentais, no que diz respeito às suas futuras concepções morais, pois será através delas que se  poderá desenvolver o respeito, neste caso, pelo adulto que determina a regra. Esse período do desenvolvimento é o da moral de coação na criança, onde ela julga seus atos pela conseqüência e não pelas suas intenções, observando apenas a realidade objetiva que diz respeito aos acontecimentos do mundo exterior, afastando de si qualquer sentimento. De acordo com Piaget, isso vai evoluir chegando á consciência e ao respeito à regra.

É fundamental a presença do adulto enquanto pais ou responsáveis pela criança estar direcionando seus julgamentos morais levando-as a reflexão sobre seus atos, questionando o que ela julga certo e errado e intervindo nas situações de conflito moral vividas pela criança. Se neste momento é o adulto a quem ela respeita, ele deve ser o modelo, porém sempre questionando a criança sobre o que ela considera certo ou errado e porque, levando-a a reflexão e ao caminho da moral autônoma como o estágio mais desenvolvido da moralidade.

 

 3.3. TERCEIRA E QUARTA ETAPAS: AUTONOMIA

 

As características da autonomia são opostas às da fase de heteronomia, que inicia aproximadamente ao seis (6) ou sete (7) anos seguido de um quarto e último estágio que ocorre por volta dos onze (11) ou (12) doze anos em diante, e é denominado co­­di­ficação das regras,  elas pro­­­cu­­­ram regular e codificar as regras, antes do jogo em si. As partidas são regula­men­tadas em minúcias, buscam discuti-las, construí-las de forma justa e comple­ta, e sentem grande prazer em apresentá-las e debatê-las (SOUZA, 2002). Estas etapas correspondem à concepção adulta do jogo, onde as crianças jogam seguindo regras com perfeição e o respeito pelas regras é compreendido como resultante de mútuos acordos entre os jogadores, cada um concebendo a si próprio como possível legislador das regras do jogo. “A regra do jogo se apresenta à criança não mais como uma lei exterior sagrada, enquanto imposta pelos adultos, mas como o resultado de uma livre decisão, e como digna de respeito na medida em que é mutuamente consentida.” (Piaget, 1977 p.56). Nos diz o autor

 

Reconhecemos, com efeito, a existência de duas mo­rais na criança, da coação e da cooperação. A moral da coação é a moral do dever puro e da heteronomia: a criança aceita do adulto um certo nú­me­ro de ordens às quais deve submeter-se, quaisquer que sejam as circuns­tâncias. O bem é o que está de acor­do com estas ordens; a intenção só desem­penha pequeno papel nesta conce­pção, e a responsa­bilidade é objetiva. Mas, à margem desta moral, depois em opo­­­­sição a ela, desen­volve-se pouco a pouco, uma moral da cooperação, que tem por princípio a solidariedade, que acentua a autonomia da consciência, a inten­cio­na­lidade e, por conseqüência, a responsabilidade subjetiva. (PIAGET, 1994, p. 250).

 

 

Portanto nesta etapa a aplicação de regras pelo adulto para a criança vai caminhando para o desenvolvimento que Piaget define moral de cooperação, onde a criança começa a substituir o respeito pelo adulto, pelo respeito mútuo e igualdade entre todos, as regras começam a ser entendidas como convenções que resultam do compromisso entre indivíduos, ainda mais importante que na etapa da heteronomia.

A presença do adulto nesta fase é importante  pois apesar dos pequeninos estarem evoluindo suas concepções sobre as regras, elas precisam entender que o respeito, pelo adulto deve prevalecer, e a substituição do respeito pelo adulto pelo respeito mútuo se não bem dirigida e orientadas, resultarão no desrespeito, na  falta de valores essenciais para se viver harmoniosamente em sociedade.

 

4 OS PROCEDIMENTOS DA EDUCAÇÃO MORAL

 

A busca por uma formação moral que conduza a uma autonomia positiva ou inversa depende muito do método a ser utilizado, partindo dessa intencionalidade podem-se classificar os procedimentos morais sob diferentes pontos de vista, é o que Jean Piaget relata em seu texto: Os procedimentos de educação moral (1930-1996).

Quando se procura um método, uma forma de contribuir para a aquisição de valores morais na criança, o adulto parte do ponto de vista dos fins perseguidos, “é evidente que os métodos serão muito diferentes se desejarmos formar uma personalidade livre ou um indivíduo submetido ao conformismo do grupo social a que ele pertence”. (Piaget, 1996, p.1).

Já se o que se quer alcançar é a autonomia da consciência, parte-se do ponto de vista das próprias técnicas que se utilizará, isto é, um ensinamento oral apontando virtudes, valores, ensinando como se deve respeitar, ser justo entre tantos outros aspectos morais é tão eficaz quanto se utilizarmos uma pedagogia inteiramente ativa para este fim. O domínio moral, procedimento no qual se desenvolvem os fins perseguidos e aplicam-se os métodos utilizados, faz parte da terceira etapa que Piaget classifica os diferentes pontos de vistas que embasam os procedimentos de educação moral.

Porém é importante ressaltar que qualquer que sejam os fins que se proponha alcançar e qualquer que sejam as técnicas, domínios que se aplique, é essencial saber as disponibilidades da criança, partindo da psicologia infantil para embasar a pedagogia moral.

Deste modo o objetivo da educação moral é a de auxiliar a criança a construir sua autonomia como afirma Piaget (1996).

 

 

 

 

4.1. A EDUCAÇÃO MORAL SOB A PERSPECTIVA PSICOLÓGICA

 

Como se verificou no capítulo anterior, nenhuma realidade moral é completamente inata, todo indivíduo possui em sua constituição psico-biológica disposições, tendências afetivas e ativas como a simpatia e o medo que são componentes do respeito, característica essa da sociabilidade, da subordinação e, sobretudo da afeição que permitirá os pequeninos amar um ideal como amar seus pais. Porém essas disposições precisam ser desenvolvidas, sendo necessário direcioná-las, pois imaginemos se deixadas livres ou até mesmo mal direcionadas quais serão os resultados morais? Servirão de fonte para formação de indivíduos sem princípios morais, valores, respeito mútuo, cometendo atrocidades que vemos atualmente em nossa sociedade.

Para que as realidades morais se constituam se faz necessária uma disciplina normativa por parte do adulto, embasada em regras, combinados, normas a serem seguidas, levando a criança a estabelecer relações com as outras crianças e adultos, assim as normas morais começam a se desenvolver, e ao relacionar-se com os outros, as crianças pequenas começam a perceber que precisam obedecer a regras, a respeitar valores, desenvolvendo e praticando sua moralidade.

O ponto de vista da responsabilidade é outro fator importante do desenvolvimento moral, pois ao levar as crianças a avaliarem atos de mentiras, roubos, e na medida em que as regras de não mentir e não roubar é impostas pelo adulto, a criança heterônoma as aceita por respeito unilateral, por obediência, não avaliando as intenções: “a intenção não desempenha nenhum papel: o ato material, ou melhor, a própria materialidade da obediência à regra é tudo”. (PIAGET, 1996, p.7).

Quando uma positiva autonomia juntamente com a cooperação é formada nos pequeninos, esse fator da mentira é visto pela responsabilidade subjetiva e as ações são julgadas em função das intenções.

A sanção de regras, deveres, obrigações para as crianças tanto em fase de respeito unilateral ou mútuo é de suma importância, pois são as mesmas que estabelecerão a consciência do indivíduo. Fica claro que a reação dessas sanções será diferentemente absorvida ou interpretadas devido à fase de desenvolvimento em que cada criança se encontra, se heterônoma elas as receberam como forma de censura ou castigo: “como a criança respeita o adulto, essa reação lhe aparece como normal e necessária: toda falta implica, assim uma censura e uma dor; estes constituem a conseqüência obrigatória da desobediência”. (PIAGET,1996, p.8).  Se autônoma, as infrações às regras provocarão a suspensão momentânea dos laços afetivos entre os envolvidos e a forma mais justa de se julgar é pela reciprocidade.

A educação moral, para Piaget (1996), não constitui uma matéria especial de ensino, mas um aspecto particular da totalidade do sistema, dessa maneira, as crianças e os jovens não deve ter aulas de educação moral, mas vivenciar a moralidade em todos os aspectos e ambientes presentes no dia a dia. Nesse sentido, as brincadeiras em grupo, são atividades facilitadoras para a construção da autonomia, pois as crianças, ao brincar juntas, podem trocar pontos de vista, discutir, ganhar em algumas idéias e perder em outras, enfim, perceber que não é só o seu ponto de vista que vale, superando a heteronomia podendo exercer assim o respeito mútuo que a conduzirá a autonomia.” As crianças adquirirão a possibilidade de aprender, pela experiência, o que é a obediência à regra, a adesão ao grupo social e a responsabilidade individual”. (PIAGET,1996, p.22).

 

Tendo em vista as considerações de Jean Piaget (1996) acerca dos procedimentos morais, pode-se perceber que a existência de técnicas verbais ou ativas, de nada valerá se não levarmos em conta a própria criança, respeitando os valores que ela já possui, permitindo sua interação com o meio e com outros indivíduos, proporcionando-lhes momentos de equilíbrio e desequilibro onde gradativamente ela perceberá o meio, a sociedade, o mundo em que vive e que o mesmo é ditado de regras, valores  os quais necessitam ser respeitados, não por obrigação ou por imposição, mas sim por cooperação e reciprocidade.
 

4.2. AMBIENTE SÓCIO-MORAL E A CONTRIBUIÇÃO DA FAMÍLIA NA CONSTRUÇÃO DA MORALIDADE INFANTIL.

 

O ambiente em que a criança esta inserida é o contexto em que ela irá construir seus sentimentos e idéia sobre si mesma, sobre as pessoas e o mundo dos objetos. Dependo da natureza do ambiente sócio-moral em que a criança vive, é que ela aprenderá se o mundo dos adultos é seguro ou perigoso, carinhoso ou hostil, coercivo ou cooperativo. A natureza desse ambiente será determinada pelo adulto através de interações diárias.

 

O ambiente sócio-moral da criança é formado, em grande parte, de incontáveis ações e reações do adulto para com a criança, que formam o relacionamento adulto/criança. As relações com outras crianças também contribuem para o ambiente sócio-moral, mas o adulto frequentemente estabelece os limites e possibilidades dessa relação. (DE VRIES e ZAN, 1998, p.52).

 

Ao contrário do que muitos adultos pensam os valores morais não são ensinados diretamente a criança, será a partir de sua interação com as inúmeras experiências cotidianas  com pessoas e situações os quais permitiram a  construír sua conduta. Se o que se quer é a construção de tais valores, ela necessita interagir com situações em que a honestidade, justiça ou o respeito estão presentes de em seu dia-dia. Sabe-se da necessidade da existência de normas ao nos relacionar com os outros e neste momento entra o papel da família estabelecendo normas e regras, repassando valores para seus filhos, pois é ela quem: ”promove a construção das bases da subjetividade, da personalidade e da identidade (...) a família constrói os alicerces do adulto futuro”. (Gomes, 1994, p.58).

Mas o importante não são as normas em si, mas o porquê de segui-las. É comum, nas situações em que a criança mente, agride, desrespeita, não compartilha algo ou é mau educada, que a  família ensine-a a importância de não cometer tais atos, pois será no berço familiar que estes valores começaram a ser observadas pela criança. A questão é como o adulto o faz. Ao desejar que a criança cumpra as normas é preciso dar exemplos de procedimentos coerentes. É necessário que o adulto associe uma norma a uma sensação de bem estar, de satisfação pessoal ao cumpri-la e também reflita com a criança às conseqüências do não cumprimento da mesma, para que ela vá compreendendo a necessidade de sua existência, deste modo, as crianças vão aprendendo a necessidade de existirem normas que gerenciem as relações entre as pessoas, legitimando-as.

O que parece favorecer o desenvolvimento da autonomia moral são as relações estabelecidas pela criança no ambiente em que ela vive se autoritária ou cooperativa. Assim como confundem muitos pais que aderem a tendência construtivista, a autonomia não é o mesmo que individualismo, ou liberdade para fazer o que quer, significa coordenar os diferentes fatores relevantes, para decidir agir da melhor maneira para todos os envolvidos, levando em consideração, ao tomar decisões, os direitos, o ponto de vista do outro. Constance Kamii, afirma que “não pode haver moralidade quando se considera apenas o próprio ponto de vista”. (KAMII, 1991, p.108).

Com isso percebe-se a importância que se tem o ambiente em que criança esta inserida, bem como a relação estabelecida entre ela e o adulto com o qual convive.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Com base nas leituras e pesquisas bibliográficas realizada para desenvolvimento deste trabalho, pode-se constatar que os valores morais nos pequeninos vão sendo construídos internamente, em um processo que ocorre na medida em que as crianças se relacionam com outras crianças e adultos e, quando se confrontam com situações que pedem uma atitude moral. Nesses momentos se destaca o papel da família  como interventora, enquanto pais , ou seja, cabe a estes, propiciar um ambiente que oportunize o desenvolvimento positivo da moral, pois o que nos preocupa é a qualidade do meio em que nossas crianças estão crescendo, ou ainda, as leis, as regras, as punições ou sanções que sofrem, quem as transgridem, precisam ser dialogadas, geridas no grupo de forma coletiva.

A criança ao ser submissa a uma regra, norma ou lei precisa ter claro para si que essas lhes são necessárias para o seu bem estar e principalmente para toda comunidade a qual ela está inserida, por este motivo precisa ser seguida, visando o bem comum, e não apenas por imposição, por obrigação.

Atualmente vivemos em uma sociedade com muitos problemas éticos e morais e o limite muitas vezes é imposto as crianças de maneira que ao invés de proporcionar um comportamento moral por reciprocidade, as levam é  à oposição das mesmas, com objetivo de ir contra a quem lhe impõe tais maneiras de agir e  se comportar.

Muitos são os atos inadequados, vindos de adolescentes e jovens em nossa sociedade, roubo, homicídio, entre tantos outros nos deixam estarrecidos e nos levam a reflexão de onde esta o erro na educação moral desses que um dia foram crianças.

Como vimos o ambiente em que as crianças se desenvolvem contribuem de forma relevante na sua formação de valores éticos. Infelizmente o que se vê é que muitos não enfatizam os valores que elas estão passando para seus pequeninos, dizer que a criança tem pais separados, ou que sua situação social é precária, não justifica o ambiente em que ela esta inserida.

O que se faz necessário é a conscientização dos responsáveis por estas crianças, da importância de se ter comportamentos, atitudes, palavras que sejam coerentes ao seu desenvolvimento, pois como uma criança que convive em um ambiente onde a mentira, o desrespeito, a falta de valores se faz presente em seu cotidiano, poderá obter valores éticos?

Desta forma é de extrema urgência encontrar caminhos, que conduzam nossos pequeninos a formação de uma sociedade ética, para que com isso as futuras gerações sociais consigam viver em harmonia, ou pelo menos, que estabeleçam uma relação de respeito mútuo.

 

REFERÊNCIAS

 

DE VRIES, Rheta. A ética na educação infantil: O ambiete sócio-moral na escola /-Rheta De Vries e Betty Zan; trad. Dayse Batista – Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

 

DE      LA TAYLLE, Yves. A educação moral: Kant e Piaget. In: Cinco estudos de educação moral. (org.) Lino de Macedo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996. Trad. Maria Suzana de Stefano Menin. pp. 105-137.

 

HERMANN, Nadja. Pluralidade e ética em Educação. Coleção: [o que você precisa saber sobre...] Editora DP&A, São Paulo, 2001

 

MENIN, Stefano, Maria Suzana de. Desenvolvimento Moral. In: Cinco estudos de educação moral. (org.) Lino de Macedo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996. Trad. Maria Suzana de Stefano Menin. pp. 37-105.

 

PIAGET, Jean. Os procedimentos de educação moral. In: Cinco estudos de educação moral. (org.) Lino de Macedo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996. Trad. Maria Suzana de Stefano Menin. pp. 1-36.

 

PIAGET, Jean. O Juízo moral na criança. Tradução Elzon Lenardon. São Paulo: Summus, 1994. 302 p. ISBN 85-323-0457-5

 

PILLEGI, Vinha, Telma. Valores morais em construção. Artigo publicado na Revista AMAE-Educando, nº285, agosto, pp.6-12. Belo Horizonte: Fundação Amae para a Educação e Cultura, 1999.

 

 

RUIZ, Ferreira, Maria José. Reflexões sobre a moralidade infantil. Artigo publicado na revista IBEDAMERICANA DE EDUCACIÓN, Brasil, 2003, ridei.org. (ISSN: 1681-5653).

 

KAMII, Constance. A criança e o número: implicações educacionais da teoria de Piaget para atuação junto a escolares de 4 a 6 anos / Constance Kamii ; tradução: Regina A. de Assis – 11ª ed. – Campinas, SP: Papirus, 1990.

 

 

 

 

 

                         

 

[1] Graduada em Pedagogia, pela Unioeste Campus de Foz do Iguaçu, atua como Professora de Educação Infantil na rede Municipal de Educação de Foz do Iguaçu.2Coordenador do Grupo Rhema Educação, Mestre em Enfermagem Fundamental pela EERP/USP.

[2] Lei prática incondicionada, válida por si mesmo.

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Volume/Edição

Autores

  • GOUVEA DOS SANTOS, Juliana, ROCKER DOS SANTOS, Lúcio Mauro

Páginas

  • a

Áreas do conhecimento

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Palavras chave

  • Criança, Moral, Construção, Família

Dados da publicação

  • Data: 30/09/2020
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