24/11/2014

O conto de fada “CHAPEUZINHO VERMELHO” em suas várias versões como estratégia para incentivar a Leitura e a Escrita

O conto de fada “CHAPEUZINHO VERMELHO” em suas várias versões como estratégia para incentivar a Leitura e a Escrita

Eva Maria Silva Oliveira e Carla Borges Montalvan

RESUMO

              Este trabalho apresenta uma proposta baseada em uma pesquisa bibliográfica em obras de autores que acreditam que os contos de fadas são ótimos recursos para se incentivar a leitura entre crianças e adolescentes. Por isso, é um estudo fundamentado na aplicação dos contos infantis como meio de incentivar a leitura e a escrita. Para tanto, foi escolhido o conto Chapeuzinho Vermelho (em oito versões), o qual foi apresentado às crianças do 6º ano, bem como o filme “Deu a louca em Chapeuzinho”. Em seguida foi realizado um estudo dos autores das obras apresentadas, uma descrição do enredo do filme e dos contos. Após expusemos o diagnóstico da aplicação dos contos infantis, a leitura dos contos e acompanhamento do filme. “Deu a louca em Chapeuzinho”. E finalmente, incentivamos produções de contos produzidos pelos alunos, as quais foram expostas no mural da escola.

 

PALAVRAS CHAVES

          Contos de fadas, Chapeuzinho Vermelho, reescritura, leitura, produção de texto

 

INTRODUÇÃO

            A literatura é a arte da palavra, pois transporta o leitor para determinados cantos da imaginação ou do pensamento jamais visitados. A viagem é fantástica, cheia de surpresas, os acontecimentos são imprevisíveis e leva a refletir, contestar, concordar, esclarecer dúvidas, avançar horizontes. Assim o livro de literatura infantil é um rico material que estimula a vivência de muitas emoções, algo que deve ser resgatado na vida das pessoas.

            Segundo Regina Zilbermam (1988), a sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela leitura, assim como um importante setor para o intercâmbio da cultura literária, não podendo ser ignorado, muito menos desmentido sua utilidade. A autora enfatiza que a sala de aula é para algumas crianças como o único espaço que se tem para aprender a gostar de ler. No entanto, acredita que o papel ou responsabilidade de ensinar aos seus filhos o prazer da leitura é também dos pais.

            Bettelheim (1980) aposta nos contos de fadas para incentivar o prazer pela leitura. Mas, lembra que os contos de fadas foram banidos, por alguns pais e educadores, do processo pedagógico e formativo devido à interpretação equivocada do comportamento infantil, e por falta de informação, pais e professores passaram a ter medo de que a criança não conseguisse fazer a distinção entre o real e o imaginário fantástico.

Fanny Abramovich (1989) assinala que as histórias infantis representam uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, das dificuldades, dos impasses, das soluções diante dos problemas pessoais.

Segundo Abílio e Silva (1994), especialista em Literatura infantil e Juvenil pela UFF e Mestre em Literatura Brasileira pela UFF, conhecendo o fascínio das crianças pelas histórias de fadas, príncipes e princesas, bruxas, magos, madrastas, duendes e animais que voam, até os adultos sentem o encantamento que os contos oferecem e nem sempre sabem explicar o porquê. Mas, acreditam que a Literatura Infantil auxilia na compreensão do mundo e desenvolve a leitura e a escrita, como enfatizam:

 

Assim, articulando expressão oral e escrita, podendo estimular o desenvolvimento da linguagem escrita na criança que está na dependência direta da maior ou menor presença, em sua vida cotidiana, de práticas de leitura e escrita, e também dos modos de inserção dessa criança nas práticas discursivas orais (ABÍLIO; SILVA, p. 39, 1994).

 

             Os estudiosos em questão têm o conto de fada como estratégia para auxiliar a leitura e produção de textos. Desse modo, o objetivo principal desse trabalho é o de apresentar um projeto realizado com os alunos do 6º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual “Carlos Hugueney” de Alto Araguaia – Mt, onde aplicamos o conto Chapeuzinho Vermelho em oito versões do mesmo, bem como o filme “Deu a louca em Chapeuzinho”. Inicialmente apresentamos a aplicação de contos infantis como meio de incentivar a leitura e a escrita. Em seguida fizemos e descrição do desenvolvimento do filme e dos contos e alguns de seus autores. Após expusemos o diagnóstico da aplicação dos contos infantis. Leitura dos contos e acompanhamento do filme. “Deu a louca em Chapeuzinho”, produções de contos, apresentações de contos produzidos pelos alunos, descrição dos questionários aplicados aos alunos e leitura dos dados coletados. Finalmente apresentamos no último capítulo, as conclusões e resultados finais desta pesquisa.

 

1.APLICAÇÃO DE CONTOS INFANTIS COMO MEIO DE INCENTIVAR A LEITURA E A ESCRITA

            Nesta pesquisa, o centro será a Literatura Infantil, as narrativas da tradição – contos infantis, mais especificamente o Conto de Fada Chapeuzinho Vermelho, pois na relação adulto/criança, é grande a força do jogo de contar histórias, especialmente as histórias oriundas da tradição originalmente oral, já que estas estão presentes na vida cotidiana das crianças, seja em relatos feitos pela família, seja em relato feito pelos professores, a partir da entrada na Educação infantil.

 

  1. Leitura: divertimento ou um desafio à lembrança?

As narrativas da tradição são criações populares – feitas por autores anônimos – que sobreviveram e se espalharam, devido à memória e à habilidade de seus narradores que, de geração em geração se incumbiram de manter viva a tradição. Segundo Darnton (1986), essas narrativas são histórias que se prendem ao imaginário popular ou à memória coletiva; em sua origem, eram destinadas a homens, mulheres e crianças que não sabiam ler e que se reuniam, à noite, ao redor de fogueiras ou lareiras, principalmente entre os camponeses da França medieval, para escutar o que viria a se tornar, mais tarde, material registrado por estudiosos e folcloristas, como Charles Perrault, no século XVII, e os irmãos Grimm, no século XIX.

Apesar do distanciamento da camada popular e do desprezo por sua cultura, a classe nobre conhecia tais narrativas através do inevitável contato por meio do comércio ou pela presença das governantas e de outros serviçais. Após coletar tais narrativas, Perralt eliminou o quanto pôde as passagens obscenas ou repugnantes que continham incesto, sexo grupal e canibalismo, para manter o seu apelido literário junto aos salões letrados parisienses. Assim vieram a público, várias histórias ou contos do tempo passado, com suas modalidades, entre elas Chapeuzinho Vermelho.

De acordo com Maria Flora Guimarães (2001), com uma técnica de exposição simples, essas narrativas surgem uma seqüência lógica, sem grandes pormenores, raramente abandonando-se a ação principal pela secundária: como o fato do contador, ou narrador, para prender a atenção usava inflexões de voz, o ocasionava modulações melódicas, expressões fisionômicas e gestos, o que realçava alguns pontos da história.

Para a escritora Ana Maria Machado (2001), o homem conta histórias para tentar entender a vida, sua passagem pelo mundo, para ver na existência uma espécie de lógica. Segundo ela, cada texto e cada autor lidam com elementos diferentes nessa busca, e vão adequando forma de expressão e conteúdo de modo a que se mantenha uma coerência interna profunda e sentido.

Para Nelly Novaes Coelho (1991), fábulas, apólogos, parábolas, mitos, lendas, contos: é esta matéria narrativa que está na origem das literaturas modernas e que guardam um saber fundamental: “e são essas mesmas narrativas que ocupam, muitas vezes, o imaginário de nossas crianças, pois vem sendo recontadas, em casa e na escola (COELHO, 1991, p. 67).”

Por isso vale destacar que o conto infantil ainda é uma das narrativas mais comumente contadas às crianças.

 

  1. – O conto infantil

Nelly Novaes Coelho (1991) afirma que há duas formas de narrativa: o maravilhoso e o fantástico que se tornam mais visíveis e se destacam, principalmente, pela divulgação que alcançaram através dos séculos. São identificadas como formas distintas, em virtude de duas atitudes humanas por elas expressas: a luta do eu, empenhado em sua realização interior profunda, no plano existencial ou em sua realização exterior, no plano social.

No conto de fadas, transparece sempre a atitude mais voltada para a realização interior das personagens, no plano existencial. Isso é, são narrativas que, tendo ou não a presença de fadas, apresentam  a questão da realização essencial do herói ou da heroína, geralmente ligada a alguns ritos de passagem de uma idade para outra ou de um estado civil para outro que, segundo Machado (2001) é daí que vem o porque os contos de fadas guardarem marcas simbólicas para que o herói alcance sua realização pessoal ou existencial; essa realização tanto pode se revelar no encontro do verdadeiro eu, como na conquista da pessoa amada. Podem-se citar como exemplos A Bela Adormecida, A Bela e a Fera, Rapunzel, Cinderela, entre outros.

No conto maravilhoso, evidenciam-se os questionamentos econômicos e sociais isto é, os problemas da sobrevivência em nível socioeconômicos ou ligados a vida pratica, concreta, cotidiana. São exemplos de contos maravilhosos: O Gato de Botas, Os três porquinhos, Aladim e A lâmpada maravilhosa, muitos dos contos de As Mil e uma noites, entre outros.

Segundo Nelly Novaes Coelho (2003), antes de ter sido voltado para as crianças, o conto de fadas foi originalmente criado para leitores adultos. Uma vez que até o século XVII, a criança era percebida como um ser socialmente igual ao adulto.  Philippe Áries (1978), destaca que assim, circulando entre adultos, as crianças entravam em contato com os contos de fadas e invariavelmente se sentiam atraídas para seu universo imaginativo.

Para Abramovich (1989) os Contos de Fadas estão envolvidos no maravilhoso universo da fantasia: partindo sempre de uma situação real, concreta, veiculando emoções que qualquer criança já viveu ou poderá vir a viver. As intrigas conduzem a uma realidade familiar, centrada na família e em seus conflitos. Os personagens são simples e são colocados diante de situações diferentes, em que tem que buscar e encontrar respostas de importância fundamental. As narrativas fazem a criança a se deparar com dificuldades e vencer obstáculos. Convidam-na a cumprir o ciclo de “provação e superação de um problema, em busca de amadurecimento. Todo esse processo é vivido por meio da fantasia, do imaginário, com a intervenção de entidades fantásticas” (ABRAMOVICH, 1989, p. 120).

Para trabalhar bem os contos da tradição e explorar seu conteúdo, de modo a não domesticarem as crianças, nem lhes dirigirem moralismo, uma alternativa consiste em proporcionar aos alunos uma trajetória de leitura, iniciando-se pelas versões originais dessas narrativas, passando por Perrault e pelos irmãos Grimm e chegando à releitura dessas versões feita por autores modernos e contemporâneos tomando como exemplo a narrativa de Chapeuzinho Vermelho, o qual é o objetivo deste trabalho.

 

 

1.3. Algumas versões do Conto O Chapeuzinho Vermelho

Há, no meio acadêmico, muitas versões para o conto O Chapeuzinho Vermelho, do françês Charles Perrault. Existe um paralelo de “Chapeuzinho Vermelho” do francês Charles Parrault com Chapeuzinho Vermelho dos alemães Jacob e Wilhein – irmãos Grimm: Chapeuzinho Amarelo de Chico Buarque de Holanda; Fita Verde no cabelo de Guimarães Rosa; Chapeuzinho Vermelho de Maria Izabel Mendonça Soares; o Chapeuzinho Vermelho de Elza Nascimento: A menina do Capuzinho Vermelho de Zé Oliveira; Capuchinho Vermelho de Roald Dahl; o novo Capuchinho Vermelho de o “avô dos Bigodes”;  “Um lobo Culto” de Becky Bloom; A Menina do Chapeuzinho Vermelho de Patrícia Moura; “Chapeuzinho Vermelho” de Mário Prata e, demais versões de autores não declarados. Em todos os textos, nota-se uma intertextualidade entre eles.

            Todas as versões possibilitam à criança meditar sobre a inevitável luta constante que existe entre o bem e o mal, a luta contra as dificuldades da vida, e perceber que a vitória é possível. Assim, o conto fornece o consolo necessário para lidar com problemas existenciais:  o envelhecimento (avó), a presença do mal (lobo), e a ingenuidade (Chapeuzinho) a superação da rejeição (“um lobo culto”).

 

1.3.1 – Chapeuzinho Vermelho: Charles Perrault

            Segundo Christovão (2007) a primeira versão do conto Chapeuzinho Vermelho foi registrada em texto em 1697 por Charles Perralt. Porém mais de seis séculos antes de Perrault já se conhecia a história de uma menina descoberta na companhia de lobos que usam uma capa ou um chapéu vermelho.

 

1.3.2 – Versões de “Chapeuzinho Vermelho”

            Amadeu Carlos Taborda  Christovão (2007), professor de Educação Básica II, afirma que há pelo menos 35 versões de Chapeuzinho Vermelho, na comparação, verifica-se uma série de elementos novos, incluídos na oralidade, conforme na região e o caldo cultural da época. A versão considerada como base às outras a seguir foi a de Charles Perrault a qual vimos anteriormente.

 

1.3.3 – Chapeuzinho Vermelho: Jacob e Wilheim – Irmãos Grimm

            Christovão (2007) ressalta que os primeiros contos recolhidos pelos irmãos Grimm foram publicados em 1812. A obra chamava-se Histórias das crianças e do lar e apresentava 51 contos. O número cresceu com o tempo e acredita-se que os irmãos Grimm tenham recolhido e registrado cerca de 200 histórias. Os textos publicados por eles logo espalharam pelo mundo, ganharam outras versões  e fascinaram pessoas de diferentes línguas e culturas.

            No século XIX, os irmãos Grimm deram outra versão à história “verdadeira” de “Chapeuzinho Vermelho”. A temática remonta e mitologia grega, pois segundo Bettelheim (1980, p. 204), os filhos de Cronos, após terem sido engolidos por seu pai, conseguem fugir e enchem seu estômago de pedras é o que os irmãos Grimm coloca em seu conto: caçador enche barriga do lobo de pedras depois de tirar Chapeuzinho e sua avó de lá.

Era uma vez uma linda menina, que vivia numa bonita aldeia, e a quem chamavam de Capuchinho Vermelho.  Assim se chamava porque usava todos os dias, um casaco vermelho com capuz, feito pela sua querida avó.

 

1.3.4- Chapeuzinho Amarelo: Chico Buarque de Holanda

            Vemos na literatura infantil brasileira, várias versões do conto Chapeuzinho vermelho. Na versão “Chapeuzinho Amarelo”, nota-se uma inversão total da história original.

            Inicialmente podemos notar que a mudança de cor do nome do personagem é significativa. Segundo a estudiosa Suzana Ribeiro Martins (2007) no conto que deu origem às várias versões, cor vermelha é associada à pureza da mulher. O amarelo associado ao medo que possuía de tudo, a menina.

            Este texto refere-se também a uma trajetória, pois personagem principal consegue vencer o medo que a impedia de viver como outras crianças. Chico Buarque faz essa paródia, Chapeuzinho Amarelo, para pré-adolescente.

 

1.3.5 – Fita Verde no cabelo: Guimarães Rosa

            Para Martins (2007) Chapeuzinho Vermelho de Perrault como Fita Verde no Cabelo são textos metafóricos, que relatam a trajetória do ser humano da inocência para a maturidade. No conto de Perrault, há a perda da inocência ocasionada pela ação das pessoas sem caráter que são metaforizadas pela figura do lobo. Em Fita verde no Cabelo, a personagem, ao presenciar a morte da avó, transforma-se e madurece, conscientizando-se da realidade que a cerca.

            No dizer de Martins (2007) ver os signos orientadores do processo amadurecimento de fita- Verde no segundo parágrafo a que perde no caminho sua grande fita verde e no vigésimo segundo parágrafo Fita Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez. Para a autora, Fita Verde no Cabelo é um texto riquíssimo, que aborda uma série de temas importantes para a adolescência como as relações familiares, a doença, a velhice, os perigos a quem estamos sujeitos, os medos eu estão no outro e dentro de nós mesmos.

 

1.3.6 – O Capuchinho Vermelho: Maria Izabel Mendonça Soares

Neste conto a avó não é engolida. Ela somente é trancada no armário. Mas se assusta e desmaia. O caçador como sempre vem salvar a Capuchinho Vermelho e a avó.

 

1.3.7 - Chapeuzinho Vermelho de Raiva: Mario Prata

            Mário Prata inicia seu conto com Chapeuzinho já conversando com a avó (lobo mal) e deixa o conto sem desfecho. Submete-se que para se inteirar da história, o leitor deve conhecer a versão original do conto.

            Chapeuzinho mora na cidade. Depois de chegar de Guarujá vai visitar sua avó. Montada na sua moto. Ela gasta apenas quinze minutos para chegar à casa da avó, pois a estrada é asfaltada. A menina leva para avó produtos industrializados, diferentes das outras personagens/Chapeuzinhos. Essa avó preocupa-se com o cabelo, deixando-o sempre na moda.

 

2. DIAGNÓSTICO DA APLICAÇÃO DOS CONTOS INFANTIS

Segundo Zilberman e Lajolo (2002) a infância é o melhor momento para o individuo iniciar sua emancipação mediante a função liberatória da palavra. É entre os oito e treze anos de idade que as crianças revelam maior interesse pela leitura, por meio dos sentidos, a criança é atraída pela curiosidade, pelo formato, pelo manuseio fácil e pelas possibilidades emotivas que o livro pode conter. Os primeiros contatos despertam na criança o desejo de concretizar o ato de ler o texto escrito, facilitando o processo de alfabetização.

Para as autoras, a leitura está relacionada com a escrita: se lemos bem, conseqüentemente escrevemos bem. Cada vez que se lê um livro ele é interpretado de uma forma, ou seja, a cada leitura se torna mais fácil o entendimento. E a reação ou interpretação dependerá do estado em que se encontra o leitor, de saber a hora certa e o momento certo para que se tenha uma visão mais ampla do assunto. E assim, o ato de ler irá se tornando mais preciso e importante na vida do indivíduo, o que permitirá aos leitores os mais belos espetáculos de imaginação e a se familiarizar com todos os tipos de assunto, facilitando o convívio social e o entendimento de novos signos lingüísticos que vão auxiliar nas conquistas de valores sociais e culturais para o educando ter uma noção completa de leitura é necessário antes de tudo que o educador saiba transmitir o seu saber, se doando por completo.

Abramovich (1989) lembra que o acesso ao livro é dificultado às crianças brasileiras por uma conjunção de fatores sociais, econômicos e políticos. São raras as boas bibliotecas escolares. As existentes não dispõem de um acervo adequado, ou de profissionais aptos a orientar o público infantil no sentido de um contato agradável e próprio com os livros. Mais raras ainda são as bibliotecas domésticas. Por isso, é de extrema importância para pais e educadores discutir o que é leitura, a importância do livro no processo de formação do leitor, bem como, o ensino da literatura infantil como processo para o desenvolvimento do leitor critico.

 

2.1. Leitura dos contos pelos alunos

Inicialmente, foi exposta a história dos contos de fadas, mostrando que eles provêm da tradição oral e que foram escritos e adaptados a partir do final do século XVII por quatro escritores: o francês Charles Perrault, o dinamarquês Hans Christian Andersen e os irmãos Grimm – Jacob e Wilhelm, alemães. Naquela época, na Idade Média, as pessoas viviam em aldeias e florestas cheias de perigos. Nas florestas da Europa, o lobo era símbolo do perigo. A maioria das pessoas era analfabeta, incluindo os reis.

Depois de mostrar como eram produzidos e baseados os contos de fadas, enfocamos no conto original “Chapeuzinho Vermelho” de Charles Perrault. Após as crianças lerem o conto original, receberam outras versões do conto de Chapeuzinho Vermelho e dada a oportunidade para cada uma delas irem à frente da sala ler a sua versão enquanto que outras prestavam atenção nas características comuns entre as narrativas.

 

2.2 – Filme “Deu a louca em Chapeuzinho”

Após lerem os contos, fomos à sala de vídeo para que eles assistissem ao filme “Deu a louca em Chapeuzinho” para que as crianças conhecessem outra versão de Chapeuzinho Vermelho através de outra tecnologia além do texto escrito.

 

2.3 – Produção dos contos

Após lerem os contos e assistirem ao filme, foi pedido para que as crianças produzissem um conto semelhante ao de Chapeuzinho Vermelho baseando-se em uma versão que mais lhes tivessem identificados e que se possível incluíssem questões do presente. Algumas crianças mesmo sentindo dificuldades, produziram textos maravilhosos e criativos.

Isso porque, a criança, muito antes de entrar na escola, o desenvolvimento de leitura e escrita já está sendo construído, uma vez que desde o nascimento está cercada de escrita a todo o momento, em placas, jornais, revistas, bulas de remédios, entre outros. Essas experiências fazem com que ela compreenda o que é a escrita e sua finalidade.

De acordo com Vygotsky (1984), o domínio da escrita resulta de um longo processo de desenvolvimento de funções comportamentais complexas, no qual a criança participa e que leva para a sala de aula. A escrita é uma atividade que atrai a atenção da criança desde muito cedo. A leitura e a escrita são processos cognitivos que ocorrem simultaneamente na escola. Quando iniciado o processo de aquisição da leitura e da escrita, parece haver uma interferência recíproca de forma que quanto mais se lê melhor se escreve, e o que a criança aprende sobre leitura a ajuda a se tornar um escritor, e tudo o que é aprendido sobre escrita contribuí para a habilidade de leitura.

 

2.4 – Apresentações dos contos

Depois de produzidos os textos, cada criança fez a leitura de seus contos na frente da sala de aula para seus colegas ouvirem. Terminada a leitura de cada conto, as outras crianças aplaudiram quem havia terminado de apresentar. Ao final de cada apresentação, foi sorteada a próxima apresentadora. Ao final, os textos foram recolhidos e expostos no mural da escola.

 

2.5. Análise dos textos produzidos pelas crianças

Nos textos produzidos pelas crianças percebemos que a intertextualidade se faz presente, como a quinta criança apenas reescreve o conto de Charles Perrault. O texto começa com o pedido da mãe de Chapeuzinho para que ela leve doces para sua avó e que não converse com estranhos. Ela desobedece e conversa com o lobo e este lhe oferece um buquê de flores para Chapeuzinho Vermelho levar para sua avó. Ele chega primeiro que chapeuzinho na casa da avó e a come. Chapeuzinho bate na porta, a “avó” pede para que ela entre. O lobo tenta comer a menina, mas ela sai correndo e pede ajuda ao caçador. O caçador tira a avó de dentro da barriga do lobo e as duas vivem felizes para sempre.

A décima primeira criança escreveu sobre uma menina chamada Chapeuzinho Malvada. Ela ganhou esse nome porque brigava com outras Chapeuzinhos: Chapeuzinhos Vermelhos, Chapeuzinhos Amarelos, Chapeuzinhos Rosas, etc. Esta Chapeuzinho quase não obedece sua mãe. Um dia quando ia levando bolinho e tapinha de manteiga para sua avó, apareceu-lhe um lobo. Com intenção de se casar com Chapeuzinho Malvada, pois não queria saber dos três porquinhos e nem da Chapeuzinho Vermelho, pediu informações para onde ela ia. Então ela informou-lhe que ia à casa da avó. Então, disfarçadamente, o lobo vai à casa da vovó, ao chegar lá, o lobo oferece flores a Chapeuzinho Malvada. A menina pega o machado e quando vai matar o lobo, a vovó vê e mata Chapeuzinho Malvada sentindo ciúmes do lobo, pois pretende se casar com ele.

            O lobo, então descobre que a vovó o ama. Fazem uma festa de casamento com vários convidados entre eles pessoas e lobo do bem e os dois vivem felizes para sempre.

            Este autor faz referência, no início do texto ao lobo dos três porquinhos e cita várias Chapeuzinhos.

            A décima quarta criança escreveu dois textos. A primeira é uma menina chamada Chapeuzinho que fica na floresta e anda de bonde. Um dia ela cai do bonde e o lobo mal e seus amigos tenta pegá-la. Ela vai para a casa da vovó e engana o lobo. A Chapeuzinho Vermelho e sua avó vivem felizes para sempre. Este texto remonta partes do filme “Deu a louca em Chapeuzinho”.

            O segundo texto mostra a história de uma menina chamada Chapeuzinho azul que tinha um bode e uma avó. Um dia o lobo mal bate na casa da avó de Chapeuzinho, amarra-a e a coloca dentro de um guarda-roupa. Um homem com um machado, captura o lobo. Outro lobo aparece e vai ver o que o bode está cantando, o bode vê o lobo e o pega e todos vivem felizes para sempre.

            Foi verificado que os títulos e desenvolvimentos dos textos foram bastante diversificados. Houve criança que apenas reescreveu um dos contos ouvidos em sala de aula pelos colegas, outros se embasaram em partes de alguns contos e outros foram criativos fugindo totalmente dos textos ouvido e do filme assistido.

            Vale ressaltar que  90% dos alunos começaram seus textos como “Era uma vez...” e “Era uma Chapeuzinho...”, o que mostra que eles tentaram imitar a maioria dos inícios dos contos lidos por eles. Quanto aos finais dos textos a maioria dos alunos deu um final feliz, mas houve alguns que concluíram com um final triste, assim como eles haviam escutado em sala de aula.

 

2.6. Descrição do questionário

Após lerem, assistirem, produzirem e exporem todas as produções das versões de Chapeuzinho Vermelho feitas pelas crianças foi solicitado que respondessem um questionário, no qual obtinha quatorze perguntas, entre elas objetivas e descritivas, perguntando o nome delas; se gostavam de ler, se já conheciam a história de” Chapeuzinho Vermelho” e assistindo ao filme “Deu a Louca em Chapeuzinho” se todas as versões lidas já conheciam alguma e de qual delas elas mais gostaram; qual dos personagens principais elas mais se identificaram; mostrassem as principais semelhanças e diferenças que apareceram nos textos e a que conclusão chegaram ao ouvirem e assistirem diversas versões de Chapeuzinho Vermelho, o que sentiram ao ser pedido para produzirem um texto parecido com a do Chapeuzinho Vermelho e finalmente, qual dos outros contos conhecidos que elas queriam conhecer em outras versões.                                                            

            Foi acompanhado o desempenho das crianças quanto ao questionário aplicado a eles, após terem ouvido/lido quatorze versões de Chapeuzinho Vermelho e assistido ao filme “Deu a louca em Chapeuzinho”.

Nas questões obtivemos os seguintes resultados: além do nome, idade e série, foi questionado às crianças se estas gostam de ler. De 14 crianças, seis responderam que “gostam muito” e oito, “às vezes”. Esse resultado mostra que ainda deve-se incentivar a criança a adquirir o gosto pela leitura.

Ao serem questionados sobre o fato de conhecerem a história clássica “Chapeuzinho Vermelho? As respostas das crianças foram unânimes em afirmarem que sim. O que supostamente, representa que mesmo a maioria, mesmo não gostando muito de ler, todos conheciam a história de Chapeuzinho Vermelho, o que implica que os professores devem procurar cativar seus alunos com leituras que os chamem a atenção.

Quanto à questão: “Já assistiu ao filme “Deu a louca em Chapeuzinho?” O resultado foi o seguinte: de quatorze alunos, seis disseram sim, e oito “não”. As crianças, que não tinham assistido ao filme “Deu a louca em Chapeuzinho, acharam-no interessante.

 Das quatorze questões escritas do conto Chapeuzinho Vermelho que foram lidas em sala, você já conhecia alguma?Das quatorze versões de Chapeuzinho Vermelho oito crianças já conheciam as versões. Chapeuzinho Amarelo de Chico Buarque, treze crianças porque logo no início do ano foi trabalhado a compreensão e interpretação do mesmo.

Outra questão feita aos alunos às crianças foi: “A respeito das versões dos contos de Chapeuzinho Vermelho, qual delas você mais gostou? E por quê?” Oito crianças que gostaram mais da versão do filme “Deu a louca em Chapeuzinho de Cory Eduard, assim como as seis crianças que se diversificaram gostando mais de outras cinco versões: Capuchinho Vermelho de Elza Nascimento; Capuchinho Vermelho de Roal Dahl; um Lobo Culto de Becky Bloom; O novo Capuchinho Vermelho da Avó dos bigodes; Fita Verde no Cabelo de Guimarães Rosa não as conheciam, isso prova que o professor deve sempre apresentar novidades para elas, para cativá-las à leitura mais facilmente.

Com relação da segunda pergunta responderam da seguinte forma: Divertida 01 criança – legal 01 criança – bonita 01 criança – ver a imagem 01 criança – por conhecê-la -01 criança – porque no final do filme, a avó perdoou Chapeuzinho 01 criança – engraçada 04 – interessante 04.

            As oito crianças que gostaram mais da versão do  filme “Deu a louca em Chapeuzinho de Cory Edward, assim como as seis crianças que se diversificaram gostando mais de outras cinco versões: Capuchinho Vermelho de Elza Nascimento; Capuchinho Vermelho Roald Dahl; Um lobo Culto de Becky Bloom; o novo capuchinho vermelho do Avó dos Bigodes; Fita verde no Cabelo de Guimarães Rosa não as conheciam, isso prova que o professor deve sempre apresentar novidades para eles, para cativá-las à leitura mais facilmente.

Com este estudo percebemos que as aulas que foram aplicadas as versões de Chapeuzinho Vermelho, contribuíram muito para cativar o gosto pela leitura e até mesmo pela escrita das crianças, pois eram raras as crianças que realmente gostavam de ler, porém com a apresentação das estórias diferentes referentes ao conto que elas já conheciam, elas mostraram o interesse em ouvir e ler outras estórias.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Acredita-se ser o mais conhecido de todos os contos populares, pertencente ao folclore de vários países. O nome genérico, Chapeuzinho ou Capuchinho, permite que tanto um menino quanto uma menina possam identificar com a personagem, que é uma criança comum, com interesses comuns como colher flores, perseguir borboletas ou catar avelãs.

            Em todas as versões que foram estudadas e assistidas, exceto em “Um lobo culto” de Bechy Bloom, pudemos ver a figura do lobo como metáfora do homem sedutor, de forma cautelosa ou direta.

            O capuz Vermelho que acompanha a menina nas diversas versões remete aqui simbologicamente a cor do sangue, da menstruação, cor da alma e do coração. A partir disto, tem-se a visão da relação simbólica entre lobo e Chapeuzinho. Se observarmos este conto, podemos entender que talvez este lobo do conto seja o tempo devorador a fase da menina de Chapeuzinho, já que nela se desperta a sua nova condição marcada pela menstruação; a juventude e os desejos amorosos possam a envolvê-la nesta transformação. Isso é o que acredita Fromm (1973), o capuz de veludo vermelho que a avó dá para Chapeuzinho, pode então ser encarado como símbolo de uma transferência prematura da atração sexual.

            Segundo Wolfgang Iser (1979) dentro do diálogo travado entre Chapeuzinho e o Lobo, surge marcada fortemente como característica desta narrativa que estabelece sua moral através do castigo que Chapeuzinho sofre ao se descuidar saindo do caminho. Mesmo tendo consciência do dever de visitar a sua avó doente, Chapeuzinho aceita disfarçadamente o jogo da figura sedutora masculina, para aos poucos deixar ser devorada por meio de uma simbologia que sussurra a aflorar do desejo sexual.

Enfim, Chapeuzinho Vermelho além de ser uma interessantíssima obra de um de nossos mais importantes escritores, leva-nos a criar o próprio Chapeuzinho Vermelho, como a maioria dos alunos da quinta série (sexto Ano) da Escola “Carlos Hugueney” fizeram: leram, assistiram ao filme, produziram o texto mudando o foco narrativo, o enredo, o desfecho e as características essenciais dos personagens dos contos de fadas, nos quais foi obtidos um resultado satisfatório, percebendo que,, além de divertidas elas mostraram problemas interiores dos seres humanos e suas soluções; também deram-nas uma grande contribuição para sua educação moral.

REFERÊNCIAS:

ARIES, Philippe. História Social da Criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1978

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Contato do autor: evamelcsempre@hotmail.com

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Volume/Edição

Autores

  • Eva Maria Silva Oliveira

Páginas

  • a

Áreas do conhecimento

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Palavras chave

  • Contos de fadas, Chapeuzinho Vermelho, reescritura, leitura, produção de texto

Dados da publicação

  • Data: 24/11/2014
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