21/11/2016

MEDITAÇÃO: Análise das alterações nos níveis de cortisol em alunos pré-vestibulandos do ensino médio - uma revisão bibliográfica

RESUMO

A meditação é hoje considerada uma das principais práticas naturais para o combate do estresse. Suas funções estão associadas a vários tipos de posições corporais relacionadas a técnicas de respiração e relaxamento que consiste em proporcionar qualidade de vida, concentração, além de estimular as defesas naturais do corpo. Atua na redução do nível do cortisol (hormônio do estresse) assim como diversos tipos de doenças, especialmente o câncer, doenças cardiovasculares, entre outras. Estudos revelam que o estresse psicológico desencadeia a liberação de norodrenalina e cortisol, que atrapalha o equilíbrio das células imunes. O objetivo deste artigo é informar alguns dos efeitos benéficos da meditação na diminuição dos níveis de cortisol no sangue de indivíduos pré- vestibulandos estressados. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica qualitativa em bases de dados. Os resultados apontam que a meditação pode estar envolvida na diminuição do nível de cortisol plasmático induzido pelo estresse, bem como de diversas patologias relacionadas.

Palavras Chave: Estresse. Meditação. Cortisol.

ABSTRACT

Meditation is now considered one of the main natural practices to combat stress. Its functions are associated with various body positions related to breathing techniques and relaxation is to provide quality of life, concentration, and stimulate the body's natural defenses. Works to reduce the level of cortisol (stress hormone) and a variety of diseases, especially cancer, cardiovascular diseases, among others. Studies show that psychological stress triggers the release of cortisol and norodrenalina, which disrupts the balance of immune cells. The purpose of this article is to inform some of the beneficial effects of meditation in reducing cortisol levels in the blood of individuals pre-stressed vestibulandos. The methodology was qualitative literature databases. The results show that meditation may be involved in decreased plasma cortisol levels induced by stress as well as several related pathologies cardiovascular.

Keywords: Stress. Meditation. Cortisol.

INTRODUÇÃO

O período de preparação para o vestibular pode ser uma fase capaz de gerar efeitos emocionais negativos, como estresse, ansiedade e depressão nos estudantes, devido às escolhas que precisam ser feitas, a competição e a pressão da família. 

Alguns colégios de São Paulo estão adotando a técnica de meditação para alunos estressados, principalmente os que estão estudando para o vestibular. No Colégio Ítaca, no Butantã, zona oeste da capital, a sessão de meditação ocorre nos 20 minutos iniciais da aula para que os alunos fiquem mais concentrados, e é neste momento, segundo um dos professores, que eles se acalmam e quando a aula começa, eles estão mais interessados e abertos para o aprender (PALHARES, 2015).

Este trabalho consistiu em analisar se a prática da Meditação pode melhorar o nível do cortisol (hormônio do estresse), em alunos pré-vestibulandos do Ensino Médio, bem como os benefícios que esta prática pode trazer ao sistema nervoso autônomo.

MEDITAÇÃO

Meditatum, em latim, significa ponderar.

Capra (1996), cita Maturama e Varela como revolucionários da biologia no que se refere à meditação, absorvendo os conceitos da filosofia budista e aplicando-os em suas pesquisas neurocognitivas.

Hoje, a meditação é uma ferramenta utilizada na medicina, psicologia, educação e no autoconhecimento. Muito se fala e se lê sobre meditação com o intuito de melhorar o desempenho nos negócios, nos estudos, diminuir as nefastas influências do estresse, melhorando a qualidade de vida em geral (PAIVA, 2015).

A meditação pode influenciar beneficamente o ser humano alterando ainda sua fisiologia. Muitos trabalhos científicos têm verificado estas alterações, como: reduções da frequência cardíaca, alterações do fluxo sanguíneo encefálico e da atividade eletroencefalográfica, modificações nas concentrações de inúmeras substâncias neurotransmissoras, variações hormonais, reduções da temperatura corporal, aumento no volume sanguíneo, alterações dos sentidos e das percepções, aumentos da resistência galvânica da pele, diminuições da resistência vascular periférica, quedas do consumo de oxigênio e da produção de gás carbônico, assim como acentuadas reduções no lactato sanguíneo, além de outras modificações (DANUCALOV, 2006).

Em todas as religiões, sempre foram utilizadas práticas de meditação, mesmo que inconscientemente. Platão em seus estudos fazia uma comparação da mente do homem a um navio em que os marinheiros haviam se amotinado e trancado capitão e navegador em um camarote. Desta forma o navio viajava a esmo, não tendo um governante para conduzir o navio (PAIVA, 2015).

Uma das diferenças entre as drogas e a meditação é que as duas podem levar-nos a uma nova visão da realidade. Sabe-se que é pouco provável que você esteja preparado para manejar esta nova realidade sob o estado das drogas; que é pouco provável que você se desenvolva com a experiência e que possa ser forçado a ir a lugares para os quais não esteja preparado. No entanto, a meditação vai levando a personalidade a evoluir em longo prazo, preparando-a para longas e boas viagens e maravilhosos encontros (LÊ SHAN ,1997).

Técnicas de Meditação

Existem vária técnicas de meditação desde a verbalização de um som vocálico, até as técnicas respiratórias. A atenção na própria respiração é uma delas. Frequentemente utilizada pelos iogues, talvez seja a mais simples e eficaz de todas, posiciona-se sentado no chão em posição de lótus, ou em uma cadeira se preferir. Calmamente, deve-se dirigir a atenção para a respiração; deixar que os pensamentos venham e liberá-los sem refletir sobre eles (PAIVA, 2015)

Em outras palavras o individuo que deseja começar a pratica da meditação deve focar seu pensamento somente na sua respiração, puxando o ar pelo nariz de forma profunda e pausada tentando relaxar a mente. Consiste em um momento calmo de oxigenação do cérebro, onde é possível eliminar a tensão e o estresse. É importante, concentrar-se especialmente na medula oblongata. Este ponto, é a sede do ego no corpo, (por isso, os indivíduos orgulhosos mantêm a cabeça erguida).  Na verdade, a cabeça se inclina para trás porque a tensão do ego na base do crânio, a região da medula oblongata, puxa-a nessa direção (KHAYYAM, 2003).

Benefícios da Meditação

A meditação é usada em hospitais como auxílio ao combate dos sintomas de diversos males. Esta prática invadiu o mundo corporativo e chegou às escolas. Alunos que meditam antes da aula mostraram níveis maiores de concentração, obtendo notas melhores. Diante disto, observou-se também melhora no relacionamento entre estudantes e professores (MELO, 2015).

Quanto aos benefícios fisiológicos, observa-se uma melhora nos níveis de estresse em pessoas com patologias mais comuns na modernidade, como ansiedade, câncer, dor crônica, infecções, hipertensão, doenças cardiovasculares (MELO, 2015).

Em geral, através da meditação consegue-se atingir um estado alterado de consciência, enquanto a mente se mantém alerta. A prática da meditação pode influenciar a amídala, que acaba estimulando o SNAP, promovendo um estado hipometabólico, que é o oposto ao estado de alerta causado pela ansiedade, reduzindo as taxas respiratórias e cardíacas. Diminui a distribuição da noradrenalina, cortisol, hormônios envolvidos no estresse e ansiedade (LE SHAN, 1997; DANUCALOV). Através da meditação é possível desenvolver maior capacidade autorregulatória, melhorando a cognição, humor, atenção, memória de trabalho e o controle emocional para lidar com a ansiedade (TELLES, 2006). Para Goleman (1997), o estado de fluxo também pode ser visto como um dos benefícios psicológicos conseguido pela meditação.

Antes do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), muitos estudantes ficam ansiosos com a prova. Para ajudá-los a administrar a tensão, colégios e cursinhos de São Paulo estão montando grupos para ensinar meditação, técnicas de relaxamento e ginástica holística para os candidatos.

No Colégio Pio XII, no Morumbi, em São Paulo, nas semanas que antecedem a prova, os alunos têm aulas de ginástica holística e aprendem técnicas de respiração. Nesses momentos, segundo professores, eles deixam de pensar nos estudos ou na pressão das provas e se concentram no próprio corpo. Eles já aprenderam todo o conteúdo, mas o corpo e a mente precisam estar em harmonia para que consigam resgatar tudo o que precisam na hora do exame (PALHARES, 2015).

Estudos também indicam que a meditação reduz os níveis do hormônio do estresse, reforça o sistema imunológico, aumenta o foco e a concentração e melhora o desempenho de estudantes (TELLES, 2006).

Essa explosão de pesquisas sobre a meditação, começou com um juBu chamado Jon Kabat –Zinn, um  microbiólogo formado no MIT que alegou ter tido uma epifania- “uma visão”, como diziam, durante um retiro em 1979. Essa visão era de que ele poderia levar a meditação para um público muito maior se a despisse da metafísica budista. Ele criou um método de oito semanas chamado Redução do Estresse Baseada na Atenção Plena (MBSR) que ensinava meditação secular para milhares de pessoas nos Estados Unidos e no resto do mundo.

Um estudo em Harvard descobriu que as pessoas que participavam do curso de oito semanas de Kabat - Zinn tinham mais massa cinzenta nas áreas do cérebro associadas à autoconsciência e à compaixão, enquanto as áreas associadas ao estresse diminuíam. (HARRIS, 2015).

O Hormônio Cortisol

O cortisol (ou hidrocortisona) é um hormônio secretado pelo córtex da glândula suprarrenal. Este hormônio é o glicocorticóide mais potente, responsável por aproximadamente 95% de toda a atividade glicocorticóide do organismo. O cortisol é sintetizado a partir do colesterol por meio de várias etapas mediadas por enzimas. A molécula de cortisol é lipofílica e apresenta no organismo uma meia-vida aproximada de 80 minutos, com baixo peso molecular. O cortisol é o produto final frente a uma situação estressora, independentemente se esta tenha origem psicológica, física ou ambiental; por isto é também conhecido como o hormônio do estresse (MANHN,2013).

O cortisol é um hormônio importante quando está em quantidades normais, pois deixa o organismo preparado para situações de perigo. Este hormônio ajuda a manter a pressão e diminui a queima calórica para poupar energia em caso de risco (STUPPIELLO,2015).

O problema é que o organismo não faz a diferenciação entre uma situação de risco real e imaginária. Assim, em momentos de estresse no trabalho, por exemplo, o corpo também irá interpretar que está em perigo e liberar o cortisol. Quando temos um caso de estresse crônico hiperestimula-se a produção de cortisol, afirma (KOZASA, 2006). 

O excesso deste hormônio pode causar uma série de complicações. Ele aumenta o risco de diabetes, hipertensão arterial e depressão e em casos extremos, como a Síndrome de Cushing, que pode levar a uma atrofia muscular (MANHN,2013).

A Meditação e o Hormônio Cortisol

Aumentam-se as evidências de que há relação do estresse crônico com uma série de desordens psiquiátricas e somáticas. O Office of Alternative Medicine – OAM, que mudou sua denominação para National Center for Complementary and Alternative Medicine – NCCAM, publicou um estudo recente com a posição da entidade sobre meditação, que foi classificada como procedimento de saúde, depois de avaliar diversos artigos médicos publicados em todo o mundo (SANTOS, 2010).

Entendendo-se por respostas psicofisiológicas agudas, ou neurofisiológicas, as mudanças no Sistema Nervoso Central (SNC) e no Sistema Nervoso Autônomo (SNA) decorrente de uma sessão de meditação apontam para uma relação entre essas respostas agudas com a meditação (MELLO,2015).

Portanto, técnicas de redução de estresse começam a receber atenção como prevenção e tratamento complementar. Em meditadores foram encontradas respostas consideradas melhores ao estresse em relação às alterações de níveis hormonais de cortisol, TSH e GH (MANHN,2013). Os níveis basais de cortisol, TSH e GH são reduzidos do pré para algum tempo pós-treinamento. De acordo com Jacobs (2015), ocorrem também alterações no ciclo diário de ACTH e endorfina, porém não há alterações nos níveis de cortisol.

Levando-se em conta que o estresse aumenta os níveis de cortisol plasmático, e que o mesmo também é produzido pelo próprio organismo, averiguou-se que sob situações estressantes a meditação baixou o  nível de cortisol  no sangue. Este foi o primeiro estudo que demonstrou uma relação direta entre o cortisol no repouso e escores de qualquer tipo de escala de atenção plena, (MANHN, 2013).

Ao encarar as crises da vida diária, sua programação complexa e às vezes eventos apavorantes, freqUentemente o indivíduo acaba sendo dominado por sentimentos de impotência e medo. Isso e compreensível e costuma ser inevitável. No entanto, se esses sentimentos se tornam um estado mental constante e acompanham mudança na fisiologia que podem danificar as defesas do organismo. Logo, evitar o estresse a qualquer preço seria impossível, mas o que pode ser feito é aprender a relaxar as tensões regularmente (SCHEREIBER, 2009).

Segundo Khalsa (2001), a meditação reduz o lactato do sangue (que é um marcador químico do estresse) e também o cortisol, um dos hormônios do estresse. O relatório do Office Alternative Medicin (OAM) também registra que a Meditação Transcendental reduz a concentração do cortisol sanguíneo (SCHEREIBER, 2009).

Na Universidade Emory foi realizado uma pesquisa com pessoas comuns que haviam passado por um breve curso sobre meditação para compaixão. Essas pessoas eram colocadas em situações estressantes em laboratório, incluindo ter uma câmera de TV apontada para elas. Os cientistas descobriram que o cérebro dos meditadores produzia doses significativamente significantemente menores de cortisol, o hormônio do estresse. Isso tinha consequências importantes, pois a produção excessiva de cortisol contribui para causas doenças cardíacas, diabetes, demência em idosos, câncer e depressão (HARRIS, 2015).

CONCLUSÃO

Sabe-se hoje, por numerosos estudos, que a prática da meditação é uma das melhores maneiras de se restabelecer a harmonia na fisiologia do corpo humano e, consequentemente, de estimular as defesas naturais do corpo. Várias pesquisas científicas comprovaram o que os antigos já sabiam: respirar profundamente relaxando o corpo por um tempo e esvaziar a mente desaceleram os batimentos cardíacos, reduz a pressão arterial e ajuda a combater o estresse, a angustia, as doenças auto-imunes e os distúrbios psicossomáticos.

A meditação também auxilia nas psicoterapias. Sabe-se que permanecer alguns minutos em silêncio, respirando conscientemente, traz serenidade e clareza mental o que auxilia os estudantes pré-vestibulandos a enfrentar este momento complicado livrando-os das turbulências da mente, seus conceitos e discursos.

Através desta pesquisa pode-se concluir que o nível do cortisol plasmático pode ser diminuído através da meditação diminuindo assim o estresse nos alunos pré-vestibulandos do Ensino Médio.

REFERÊNCIAS

CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 1982. 452p.

DANUCALOV, M. A. D.; SIMÕES, R. S. Neurofisiologia da meditação. São Paulo: Phorte, 2006. 496p.

DANUCALOV, M. A. D.; VIDILE JÚNIOR, G. Aspectos neurofisiológicos da meditação. Neurociências. v. 3, n. 3, p. 1-7, 2006.

GOLEMAN, D. A mente meditativa. São Paulo: Ática; 1997. 432p.

GOLEMAN, D. A arte da meditação. Rio de Janeiro: Sextante, 2005. 48p.

HARRIS, D. 10% mais feliz. Rio de Janeiro: Sextante, 2015. 67p.

JACOBS,T. Cortisole atenção plena. 2015. Universidade da Califórnia. Disponível em :<www. el s e vi e r.c om.> Acesso em:10 out de 2015.

KOZASA, E. H. A prática de meditação aplicada ao contexto da saúde. Saúde Coletiva. v.4, n.2, p. 123-132, 2015. 

LE SHAN, L. Meditação Transcedental. Rio de Janeiro: Record: Nova Era, 1997. 176 p.

MANHN P. A. Ansiedade, qualidade do sono e concentração de cortisol salivar em tenistas adolescentes. [Tese]. Doutorado em Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, 2013.

MELO, C. A ciência da Meditação. Revista Veja, São Paulo,7 de janeiro de 2015,p.76-83.

PAIVA, I. M. R. A maior das perdas. Rio de Janeiro: Barra Livros, 2015.

PALHARES, I. Contra estresse do Enem, escolas adotam meditação. Jornal o Estadão.2015. Disponível em: <http://atarde.uol.com.br/brasil/noticias/1717053> Acesso em:10 out de 2015.

SANTOS, J. O. Meditação: fundamentos científicos. 2010. Disponível em:<http://www.castroalves.br/drjair/meditacao_fundamentos_cientificos.pdf. >Acesso em: 15 out de 2015.

SCHEREIBER, S. D. Anti-câncer: prevenir-se e vencer usando nossas defesas naturais. Rio de Janeiro: Objetiva,2009.

STUPPIELLO, B. Dietaanticortisol: saiba regular o hormônio que causa acúmulo de gordura. São Paulo: Ética, 2015.

TELLES, G. O livro das meditações. São Paulo: Publifolha, 2006.

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Volume/Edição

Autores

  • DE PAIVA, Ione Maria Ramos; SILVA, Jamila de Fátima Alves; DA SILVA, Giuliano Roberto; RABELLO, Luís Gustavo

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  • a

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Palavras chave

Dados da publicação

  • Data: 21/11/2016
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