JUDÔ NO CONTEXTO ESCOLAR COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA
JUDÔ NO CONTEXTO ESCOLAR COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Wesley Sebastião da Silva Moraes
Acadêmico de Educação Física da Universidade Norte do Paraná Campo Grande – UNOPAR CG – Campo Grande, MS, Brasil
Gildiney Penaves de Alencar
Professor Tutor Presencial do Curso de Educação Física da Universidade Norte do Paraná – UNOPAR CG – Campo Grande, MS, Brasil
Mestrando em Saúde e Desenvolvimento da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS – Campo Grande, MS, Brasil
Especialista em Fisiologia do Exercício e Treinamento Esportivo pelo Instituto de Educação e Pesquisa Alfredo Torres – IEPAT – Campo Grande, MS, Brasil
RESUMO
Em toda sociedade moderna, é na escola o lugar onde o homem é emancipado e tornado humano, é educado com princípios básicos éticos e morais e também preparado para o convívio social, tornando-se indivíduo construtor e transformador de sua realidade. No entanto, a prática do judô nas escolas não é vista somente como “prática esportiva ou prática marcial”, mas sim como ação formadora, reflexiva e construtiva, que busca trabalhar os valores morais, bem como o respeito mútuo. Desta forma, pretende-se neste trabalho realizar uma breve discussão sobre a importância do judô na Educação Física Escolar, de modo a mostrar sua relevância neste contexto, no ensino-aprendizagem e na formação do indivíduo. Quando mencionamos o conteúdo lutas inserido nas aulas de Educação Física, este pode proporcionar ao aluno a experimentação e vivência de diversos movimentos humanos e faz com que o discente consiga enxergar não somente como uma luta de defesa ou ataque, mas o que ela oferece de conhecimentos filosóficos, históricos de educação e respeito dentro e fora da escola, oferecendo ao aluno um conhecimento que lhe sirva para a vida toda. Partindo destas afirmativas, o referido estudo se propõe em fundamentar a grande relevância da prática do judô, em âmbito escolar, devido sua metodologia transformadora onde possamos citar três aspectos básicos: a) Condicionamento físico; b) Espírito de luta; c) Atitude moral e bons costumes. Tendo em vista os aspectos observados através deste breve estudo, podemos observar que as lutas em geral, em especial a modalidade judô, podem ser aplicadas nas diversas fases da educação escolar como ideia para implantação na grade curricular da Educação Física Escolar, no entanto, para que o judô seja inserido de maneira eficaz no ambiente escolar, deverá ser abordado de maneira lúdica e saudável, sem perder sua essência tradicional, portanto, seria de suma importância que essa arte seja ministrada por profissionais altamente capacitados e graduados, onde tais graduações competem.
Palavras-chave: Artes Marciais. Educação Física. Judô.
JUDO IN THE SCHOOL CONTEXT AS A CONTENT OF PHYSICAL EDUCATION
Wesley Sebastião da Silva Moraes
Gildiney Penaves de Alencar
ABSTRACT
In every modern society, it is in the school where man is emancipated and made human, educated with basic ethical and moral principles and also prepared for social life, becoming a constructive and transforming individual of his reality. However, the practice of judo in schools is seen not only as "sport practice or martial practice", but rather as a formative, reflexive and constructive action that seeks to work on moral values as well as mutual respect. In this way, we intend to present a brief discussion about the importance of judo in Physical School Education, in order to show its relevance in this context, in teaching-learning and in the formation of the individual. When we mention the content of fights inserted in Physical Education classes, this can give the student the experimentation and experience of various human movements and causes the student to see not only as a defense or attack, but what it offers of knowledge philosophical, historical education and respect in and out of school, providing the student with lifelong knowledge. Based on these assumptions, this study proposes to base the great relevance of the practice of judo in school, due to its transforming methodology where we can cite three basic aspects: a) Physical conditioning; b) Spirit of struggle; c) Moral attitude and good customs. Considering the aspects observed through this brief study, we can observe that the struggles in general, especially the judo modality, can be applied in the various phases of school education as an idea for implementation in the curriculum of Physical Education School, however, for that judo be inserted in an effective way in the school environment, should be approached in a playful and healthy way, without losing its traditional essence, therefore, it would be of the utmost importance that this art be taught by highly qualified professionals and graduates, where such graduations compete.
Keywords: Martial Arts. Physical Education. Judo.
1. INTRODUÇÃO
Em toda sociedade moderna, é na escola o lugar onde o homem é emancipado e tornado humano, é educado com princípios básicos éticos e morais e também preparado para o convívio social, tornando-se indivíduo construtor e transformador de sua realidade. E é na escola onde convivemos com nossos semelhantes e nos socializamos pela primeira vez em nossas vidas, assim formando nossos primeiros grupos sociais.
No entanto, a prática do judô nas escolas não é vista somente como “prática esportiva ou prática marcial”, mas sim como ação formadora, reflexiva e construtiva, que busca trabalhar os valores morais, bem como o respeito mútuo (OIMATSU, 1984).
Acredita-se que o judô, através dos seus princípios filosóficos e hierárquicos, pode contribuir para a educação de nossos alunos, trilhando o processo de ensino-aprendizagem, mais completo, onde a prioridade principal seria a busca do caráter e dos valores sociais, como também proporcionar ao indivíduo maior autonomia, requisito necessário para definir melhor seus objetivos durante sua vida adulta (QUEIROZ; GOMES; SANTOS, 2010).
Desta forma, pretende-se neste trabalho realizar uma breve discussão sobre a importância do judô na Educação Física Escolar, de modo a mostrar sua relevância neste contexto, no ensino-aprendizagem e na formação do indivíduo.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Lutas no contexto escolar
Em relação ao conceito que abarca as lutas, estas são consideradas práticas corporais que ocorrem por meio de disputas através de técnicas, estratégias de desequilíbrio, impacto, contusão, imobilização e exclusão de um determinado espaço e envolvem ataque e defesa entre dois atletas rivais, que na maioria das vezes, se confunde com superioridade de um indivíduo em relação ao outro (BRASIL, 1997).
Em meio a isso, durante muito tempo, a sociedade compreendia que os esportes de combate na educação básica não explorava o lúdico, e sim influenciavam a violência. No entanto, para muitos educadores e estudiosos da área defendem que as lutas em geral podem auxiliar na formação cognitiva, afetiva e motora de maneira ampla em crianças e pré-adolescentes, além de promover melhor interação e socialização de nossos discentes (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
Quando mencionamos o conteúdo lutas inserido nas aulas de Educação Física, este pode proporcionar ao aluno a experimentação e vivência de diversos movimentos humanos e faz com que o discente consiga enxergar não somente como uma luta de defesa ou ataque, mas o que ela oferece de conhecimentos filosóficos, históricos de educação e respeito dentro e fora da escola, oferecendo ao aluno um conhecimento que lhe sirva para a vida toda.
Portanto, as lutas se fazem parte dos conteúdos que compõem a cultura corporal de movimento, a qual deve ser ensinada nas aulas de Educação Física Escolar, tendo o professor como peça chave, auxiliando, assim, no processo de formação integral do aluno como cidadão completo (ARAÚJO; SANTOS, 2012).
2.2 A prática do judô na escola
Poderemos perceber neste estudo os benefícios do judô na Educação Física Básica, e quais motivos que justifica sua prática nesta fase da vida. Sem deixar de mencionar a importância no desenvolvimento das capacidades físicas, motoras, cognitivas e morais, também podemos ressaltar a grande relação interpessoal entre alunos e professores (QUEIROZ; GOMES; SANTOS, 2010).
No entanto, podemos salientar que a prática do judô nos primeiros anos escolares é muito pouco trabalhada no âmbito escolar, quando trabalhada, pois em sua grande maioria é praticada apenas em academias, clubes e agremiações, geralmente em horário extracurricular, onde nem todas as crianças participam ou tem acesso à modalidade.
Quanto à origem, o judô se deriva do Ju-jutsu, uma arte considerada de guerra, servindo tanto para defesa quanto para o ataque, onde a principal arma seria o próprio corpo. Ainda jovem, Jigoro Kano era praticante desta temida arte. Por se tratar de golpes devastadores, Kano, ainda jovem, se dedicou e começou a fazer um estudo minucioso sobre essas antigas técnicas de autodefesa, e encontrou através de explicações científicas, baseadas em leis de dinâmica, ação e reação, um novo método com o intuito de minimizar os traumas causados pelas antigas técnicas de Ju-jutsu.
Sendo assim, começou a desenvolver outras técnicas menos danosas e mais eficientes, usando o princípio da máxima eficácia sem o emprego de força, onde começou a classificá-las, assim dando origem ao Judô. O princípio da palavra judô, o qual em “japonês", Ju significa (caminho), e dô, (suave).
Caminho suave, modalidade idealizada por “Jigoro Kano”, filósofo, e também professor, sendo considerado o pai da Educação Física no Japão, classificou o judô como esporte saudável, sem nenhuma tendência a violência e que poderia ser praticado não só por homens com vigor físico, mas por qualquer indivíduo saudável, independente de faixa etária e sexo.
Em 1882, o já mestre, Jigoro Kano fundou o “Instituto Kodokan”, KO (palestra, estudo, método), DO (caminho ou via) e KAN (instituto). Assim, significa “Um lugar para estudar o caminho” (INTERNATIONAL JUDO FEDERATION, 2018).
Sensei Kano, ao criar os principais fundamentos que precedem a prática do judô como modalidade esportiva, na verdade estava preocupado com bem-estar social do indivíduo que o pratica, e para isso, buscava uma educação plena e integral, ou seja, que através de ações físicas, mentais e sociais o ser conviveria melhor no ambiente socialmente constituído (KODOKAN JUDO INSTITUTE, 2018).
Partindo destas afirmativas, o referido estudo se propõe em fundamentar a grande relevância da prática do judô, em âmbito escolar, devido sua metodologia transformadora onde possamos citar três aspectos básicos:
a) Condicionamento físico: obtido através da prática da modalidade que exige um vigoroso esforço físico de forma ordenada e metódica proporcionando um corpo forte e saudável, prevenindo diversas doenças, condicionando-o a reagir rapidamente para evitar acidentes, como por exemplo uma queda repentina ou provocada.
b) Espírito de luta: torna o indivíduo mentalmente mais condicionado a proteger seu próprio corpo e integridade em circunstâncias difíceis e adversas, defendendo-se quando ameaçados ou coagidos a cometer algo ilícito. Exemplo: dizer não às drogas. Outros pontos primordiais, seria o aprimoramento da autoconfiança e autocontrole, portanto, podemos afirmar que o judô é de fato uma arte marcial de autodefesa, onde o autocontrole sempre prevalece.
c) Atitude moral e bons costumes: o judô ensinado à sua maneira tradicional induz o praticante à humildade, através do seu rigor e da hierarquia que se exige no treinamento, onde automaticamente propicia a paz de espírito, perseverança, tolerância, cooperação, generosidade, respeito, coragem, compostura e a cortesia (princípios do respeito mútuo).
O que reveste de valor, o Judô como educação é a formação espiritual, que deve ser intrínseca no treinamento do judoca. Porém, esta percepção moral não tomou parte do processo de evolução do Judô treinado em academias, pelo contrário, ficou retraída e em alguns casos até mesmo esquecida (MORIMOTO, 2006).
Sendo assim, a prática do judô de maneira bem orientada por um Sensei capacitado devidamente graduado e outorgado, faixa preta, reconhecido pela Confederação Brasileira de Judô (CBJ), podendo proporcionar aos alunos a paz de espírito, dignidade, compaixão e amor ao próximo, condições fundamentais para uma vida próspera (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE JUDÔ, 2018). Portanto, se faz necessário divulgar esse fundamento e a verdadeira doutrina que esse esporte pode agregar na vida de pais, alunos e professores e de toda comunidade em questão, além disso por ser um esporte Olímpico de alto prestígio em todo mundo.
O ensino do judô para crianças preconiza uma metodologia específica, aprender a lutar “brincando”, o qual Kishimoto (1997, p. 68) menciona que:
A criança deve desenvolver habilidades para interagir positivamente com seu meio natural e social e incorporá-lo em sua vida diária com os objetivos de: “Ter prazer em experimentar fenômenos e eventos da natureza por meio de brincadeiras; brincar pela experimentação e criar com coisas que a cercam; desenvolver interesse por brinquedos e coisas feitas pelo homem” (KISHIMOTO, 1997, p. 68).
Já Virgílio (1986) lembra que no judô crianças entre 6 a 10 anos de idade, devem receber um ensino especial, baseado na recreação, sem impor-lhes formas e técnicas especializadas.
O judô não é apenas uma luta desportiva ou um sistema invencível de ataque e defesa. Antes de tudo, é um processo de educar a mente, o corpo e a moral, portanto, é educação (MORIMOTO, 2006).
Diante a esses benefícios, podemos enfatizar que o judô é de suma importância para a formação educacional da criança. Vale ressaltar que a modalidade foi declarada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como um dos esportes mais adequados e aconselhados para fase que compreende desde a infância até a adolescência, e ainda permite que a luta e o lúdico, conjugue fatores essenciais para o pleno desenvolvimento do indivíduo.
Alguns dos seus benefícios podem ser citados como o aprimoramento de todas as possibilidades psicomotoras: localização espacial, perspectiva, ambidestria, lateralidade, jogar, puxar, empurrar, rastejar, pular, rolar, cair, coordenação conjunta e independente de ambas as mãos e pés, dentre outras. Também podemos citar que é um esporte inclusivo, onde deficientes visuais, autistas e portadores de Síndrome de Down podem vir a praticá-lo, desde que sejam avaliados previamente por um corpo clínico especializado.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista os aspectos observados através deste breve estudo, podemos observar que as lutas em geral, em especial a modalidade judô, podem ser aplicadas nas diversas fases da educação escolar como ideia para implantação na grade curricular da Educação Física Escolar, visto que país como Japão, o judô já se faz presente na Educação Física como componente obrigatório, preconizando a formação do caráter integral da criança.
No entanto, para que o judô seja inserido de maneira eficaz no ambiente escolar, deverá ser abordado de maneira lúdica e saudável, sem perder sua essência tradicional, portanto, seria de suma importância que essa arte seja ministrada por profissionais altamente capacitados e graduados, onde tais graduações competem especificamente a Confederação Brasileira de Judô (CBJ), que também é reconhecida pela Federação Internacional de Judô (FIJ) onde terá o reconhecimento de seus atributos como faixa preta de judô.
Vale lembrar também que é essencial a formação como Sensei e, atuando no campo escolar, ser licenciado em Educação Física devidamente registrado no Conselho Regional de Educação Física (CREF), estando, assim, apto a ministrar as aulas de maneira saudável e com os princípios filosóficos pertinentes para o oficio em questão, levando em consideração as individualidades e fases do desenvolvimento de cada praticante envolvido no processo de ensino-aprendizagem.
Além destes atributos, percebe-se que o judô pode trazer diversos benefícios para o aluno muito além do caráter físico, mas também influenciando positivamente no desenvolvimento integral do indivíduo, contribuindo na formação do cidadão.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, B. C. L. C.; SANTOS, B. T. P. Cultura corporal e lutas: aproximações a partir da formação de professores. VI Colóquio Internacional “Educação e Contemporaneidade”. São Cristóvão, 20 a 22 de setembro de 2012.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. v. 7. Brasília: MEC/SEF, 1997.
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE JUDÔ, 2018. Disponível em <www.cbj.com.br>.
GALLAHUE, D.; OZMUN, J.; GOODWAY, J. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: AMGH Editora, 2013.
INTERNATIONAL JUDO FEDERATION, 2018. Disponível em: <https://www.ijf.org>.
KISHIMOTO, T. Jogos, Brinquedos e Brincadeiras na Educação. São Paulo: editora Cortez, 1997.
KODOKAN JUDO INSTITUTE, 2018. Disponível em: <http://kodokanjudoinstitute.org/en/>.
MORIMOTO, Associação de judô Nelson, CREF 124-ESSP, apostila de judô, 2006.
OIMATSU, S. The way of seiryoko zenyo – jita kyoei and its instructions. The Bulletin for the Scientific Study of Kodokan Judo, v. 6, p. 3-8, 1984.
QUEIROZ, É. V.; GOMES, L.; SANTOS, N. C. Judô em suas dimensões intelectuais, morais e físicas: um componente valioso para o processo de ensino-aprendizagem na Educação Física Escolar. Judô Brasil em Ação, 8 de dezembro de 2010.
VIRGÍLIO. S. A arte do judô. Campinas: Papirus, 1986.