31/07/2019

INTERVENÇÃO PRECOCE NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

RESUMO

 

O presente estudo possui como temática a Intervenção Precoce no Transtorno do Espectro Autista. Esta escolha deu-se a partir das experiências obtidas no estágio supervisionado do curso de Especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica realizado no programa de intervenção precoce de um centro de atendimento ao autista. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que busca compreender o programa de intervenção precoce; identificar os conceitos e características do Transtorno do Espectro Autista; constatar a relevância da intervenção precoce em crianças com TEA. As pesquisas possibilitaram a compreensão do TEA, bem como, da importância do programa de Intervenção Precoce na minimização de problemas no desenvolvmento infantil.

 

 

 

PALAVRAS-CHAVE: Intervenção Precoce, Autismo, Intervenção Precoce no Transtorno do Espectro Autista, Conceitos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

O Transtorno do Espectro Autista é um distúbio do desenvolvimento humano que tem se tornado assunto de grande preocupação nas áreas da saúde e educação, pois é cada vez maior  a incidência de pessoas com diagnóstico de TEA.

Vários estudos estudos têm sido realizados ao longo do tempo, porém o transtono possui uma demasiada complexidade, onde existem uma multiplicidade de variações, sendo assim ainda há muito o que investigar.

O Autismo aflinge e angustia profissionais e famílias que posssuem uma criança com esse transtorno, uma vez que, apesar de na maioria das vezes a mesma apresentar uma aprência normal ao mesmo tempo posssui uma irregularidade no seu desenvolvimento. Por isso é cada vez mais consensual que quanto mais cedo for realizado uma intervenção, melhor será para evitar a cristalização e o aumento dos problemas.

Deste modo, a presente pesquisa de carácter bibliográfico intitula-se de "Intervenção Precoce no Transtorno do Espectro Autista".  A eleição desta problemática partiu do interesse profissional acerca do Transtorno do Espectro Autista, que foi instigado durante o estágio acadêmico do presente curso de Especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica que foi desenvolvido durante dois meses em um Centro de Atendimento ao Autista. Onde foi  possível observar a vastidão de características presentes no transtorno e os desafios dos atendimentos, bem como a relevância  da Intervenção Precoce no desenvolvimento das crianças com TEA.

Tendo em vista a problemática acima referida, pretende-se para este trabalho o seguinte objetivo geral: contribuir para a compreensão da importância da Intervenção Precoce em crianças com TEA.

Como objetivos específicos tenciona-se: compreender o programa de intervenção precoce; identificar os conceitos e características do Transtorno do Espectro Autista; constatar a relevância da intervenção precoce em crianças com TEA.

O estudo tem como assunto inicial a Intervenção Precoce, seguindo com a identificação de conceitos e características do TEA e culminando com fusão das duas temáticas, focando-se assim na Intervenção Precoce direcionada ao Transtorno do Espectro Autista.

2 INTERVENÇÃO PRECOCE NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

 

A Intervenção Precoce (IP) surgiu na década de 60 nos Estados Unidos da América, numa perspectiva de “educação compensatória” as pessoas com desvantagens sócio-econômicas, onde acreditava-se ser causadores de fracasso escolar e balizar oportunidades de vida. Os programas de Intervenção Precoce tinham como objetivo suprir o ciclo de pobreza, baseados no pressuposto que, devido a plasticidade do desenvolvimento nos primeiros anos de vida, a intervenção teria efeitos tanto a nível preventivo como remediativo. Posteriormente surgem programas de IP para crianças com deficiência ou em risco, reconhecendo que tais crianças devem ter direitos e oportunidades iguais de desenvolver o máximo de suas potencialidades. Esses princípios foram sendo ligeiramente consagrados em leis por alguns países, especificadamente nos EUA com a publicação da Public Law nº 92-142 de 1975 e a Public Law nº 99-457 de 1986 (PIMENTAL apud CORREIA, 2011).

Pode- se definir então a Intervenção Precoce, de acordo com Costa (2014, p. 20), como:

“... a intervenção precoce é um conjunto de estratégias e recursos que se aplicam a crianças com alterações físicas, psíquicas ou sensoriais em situação de risco, e famílias. A IP insere-se numa ação globalizante em que intervêm várias áreas do saber, ao mesmo tempo que se atua em várias áreas do conhecimento, iniciando-se desde o momento da sua detecção, com o objetivo de minimizar problemas de deficiências ou de risco de atraso de desenvolvimento, prevenindo eventuais sequelas e fomentando a inclusão social da família e da criança. Para que este objetivo se concretize, é fundamental o trabalho em equipa, a existência de profissionais capazes de partilhar conhecimentos e experiências entre si e com os pais das crianças”.

 

Podemos verificar que a Intervenção Precoce atualmente atende pessoas com deficiência através de diversas áreas do saber, posto isso, é de suma importância o trabalho multidisciplinar. A IP possibilita minimizar os problemas causados pela deficiência, bem como, a superação de atrasos de desenvolvimento. O trabalho de IP além de afetar diretamente a criança, ele fornece auxilio as famílias contribuindo para o processo de inclusão.

No Brasil, a intervenção precoce é garantida pela lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), no seu Art. 15º, § 1º traz como diretriz o diagnóstico e intervenção precoces.

Outro documento que traz informações em relação à IP é “As diretrizes de estimulação precoce: crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor” que foram criadas pelo Ministério da Saúde com o objetivo de desenvolver programas de estimulação precoce direcionadas principalmente a crianças com alterações decorrentes da Síndrome Congênita do Vírus Zika. O documento traz a seguinte definição de estimulação precoce:

“A estimulação precoce pode ser definida como um programa de acompanhamento e intervenção clínico-terapêutica multiprofissional com bebês de alto risco e com crianças pequenas acometidas por patologias orgânicas, buscando o melhor desenvolvimento possível, por meio da mitigação de sequelas do desenvolvimento neuropsicomotor, bem como de efeitos na aquisição da linguagem, na socialização e na estruturação subjetiva, podendo contribuir, inclusive, na estruturação do vínculo mãe/bebê e na compreensão e no acolhimento familiar dessas crianças” (BRASIL, 2016, p.7).

Cabe ressaltar que a estimulação precoce e intervenção precoce são conceitos distintos, porém, interligados, segundo Correia (2011, p. 52), “A Intervenção Precoce, embora envolvendo práticas que têm frequentemente a ver com a terapia, a educação e a estimulação precoces, implica uma intervenção muito mais abrangente”.

Intervir nos primeiros anos de vida de uma criança com problemas de desenvolvimento ou em situação de risco biológico e/ou ambiental garante a prevenção ou minimização dos problemas de desenvolvimento, pois nessa fase a plasticidade neural torna o organismo mais sensível à influência do exterior e consequentemente à influência da intervenção precoce (COSTA, 2014). 

Tendo em vista a importância da intervenção precoce, esse tipo de programa tem sido utilizado por profissionais de diferentes áreas com o objetivo de auxiliar no desenvolvimento de crianças com deficiências e/ou transtornos globais do desenvolvimento.

O Transtorno do Espectro Autista, uma das temáticas da presente pesquisa está presente nos programas de IP. Antes de abordar a Intervenção Precoce no TEA, é necessário trazer o histórico, alguns conceitos e principais características do autismo.

O autismo foi definido pela primeira vez em um artigo escrito originalmente em inglês, intitulado de “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo” pelo psiquiatra austríaco Leo Kanner em 1943. Em seu artigo, Kanner descreve 11 casos, dos quais o primeiro, Donald T., chegou até ele em 1938. No ano de 1944, o médico Hans Asperger escreveu outro artigo com o título “Psicopatologia Autística da Infância”, descrevendo crianças semelhantes as descritas por Kanner. Contudo, devido o artigo de Asperger ter sido escrito originalmente em alemão, ele levou muitos anos para ser amplamente lido. Ambos pesquisadores, são considerados hoje em dia como responsáveis pela identificação do autismo, sendo que por determinados momentos encontra-se estudos de um ou de outros vinculados a distúrbios ligeiramente diferentes (MELLO, 2007).

Atualmente, o autismo é identificado pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM -5) como:

“O transtorno do espectro autista é um novo transtorno do DSM-5 que engloba o transtorno autista (autismo), o transtorno de Asperger, o transtorno desintegrativo da infância, o transtorno de Rett e o transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação do DSM-IV. Ele é caracterizado por déficits em dois domínios centrais: 1) déficits na comunicação social e interação social e 2) padrões repetitivos e restritos de comportamento, interesses e atividades” (DSM- 5, 2014, p. 809)

De acordo com Mello (2007, p. 16) o Autismo:

“é uma síndrome definida por alterações presentes desde idades muito precoces, tipicamente antes dos três anos de idade, e que se caracteriza sempre por desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no uso da imaginação”.

Com base na definição de TEA pelo DSM-5, onde traz como características essências a comunicação e interação sociais e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, passamos a seguir abordar mais detalhadamente cada uma delas.

Na interação social a maioria das crianças com TEA possuem grande dificuldade na relação com o outro, manifestam falta de empatia social e emocional, preferem ficar sozinhas, parecem indiferente as pessoas que as rodeiam, algumas apresentam resistência ao toque e ao abraço e raramente procuram conforto dos pais. Possuem dificuldade em participar de atividades de grupo, manter um contato visual, bem como, capacidade de imitação pobre (COSTA, 2014).

Em relação a comunicação social algumas crianças apresentam mutismo seletivo ou não, linguagem imatura, ecolalia, dificuldade de compreensão de entonação de voz, de leitura de expressões faciais e corporais. Outra característica peculiar é a perda de habilidades linguísticas já adquiridas (BRASIL, 2014).

Nos padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades é comum observar estereotipias, podendo ser mais evidentes ou sutis, ocorrendo com maior frequência em crianças que apresentam um funcionamento global mais baixo. Apresentam interesses restritos, focando-se a um determinado assunto ou objeto, estabelecendo relações incomuns com os mesmos, explorando de forma peculiar, mecânica e repetitiva, como por exemplo, girar uma rodinha de carro ao invés de brincar (jogo simbólico). É comum uma criança com TEA possuir uma rigidez de comportamento e pensamento, principalmente há mudanças de rotinas, possuindo uma baixa capacidade de tolerância a frustração (COSTA, 2014).

As características citadas acima auxiliam no processo de identificação e compreensão do TEA. Contudo, é importante que saibamos que cada criança tem sua singularidade e que algumas características serão vistas em determinados casos e outras não, irá ter crianças com dificuldade de aceitar o contato físico, por exemplo e outras irão aceitar com naturalidade. É primordial que as particularidades sejam consideradas e não sejam criados rótulos, pois além dos fatores biológicos que influenciam o desenvolvimento humano, temos os fatores ambientais.

Costa (2014, p. 33) afirma que:

“O autismo pode apresentar-se com maior ou menor intensidade, os graus variam de moderado a severo. As crianças com TEA severo podem por exemplo apresentar mutismo, e um comportamento extremamente repetitivo, disruptivos e agressivo; e nos casos mais moderados as crianças podem um alto nível de inteligência, apresentarem capacidades mais funcionais, mas ainda apresentando dificuldade nas interações sociais. A maioria das pessoas com autismo encontra-se em algum lugar entre esses dois extremos”.

Com base na contextualização da IP e do TEA, iniciaremos nossa reflexão acerca da Intervenção Precoce em crianças com Transtorno do Espectro Autista. A IP poder ser vista como um tratamento de significativa importância no TEA?

Para que possamos responder este questionamento é primordial partimos de que antes da IP é necessário a identificação do TEA ou de sinais de alerta do transtorno. A identificação de sinais iniciais de problemas de desenvolvimento, possibilita a instauração imediata de intervenções importantes, uma vez que quanto mais precocemente interver maior o número de resultados positivos. Nos primeiros anos de vida a criança apresenta uma maior plasticidade das estruturas anátomo-fisiológicas e experiências de vida que afetam o funcionamento das conexões neurais e a sua constituição psicossocial, sendo assim, esse período torna-se privilegiado para intervenções (BRASIL, 2014).

Conforme Correia (2011, p. 68):

“Quanto mais depressa o diagnóstico for feito e mais depressa se começar a actuar, melhores serão os resultados. O ideal seria uma criança com autismo ser identificada antes dos três anos. Na prática, os estudos científicos mostram que a consulta com um especialista em Desenvolvimento só ocorre por volta dos quatro anos e que o diagnóstico é muitas vezes feito apenas aos cinco anos de idade”.

O diagnóstico tardio é um dos obstáculos enfrentados no tratamento do TEA, pois, depois de muitos anos de cristalização de alguns sintomas, torna mais difícil o tratamento.

Portanto, o primeiro passo a ser seguido em caso de suspeita é procurar o Pediatra ou Médico da família. Caso a suspeita manter-se a criança necessita ser avaliada por um pediatra especialista na área do Desenvolvimento Infantil. Após o diagnóstico estar confirmado, a criança deve iniciar um programa de estimulação, desenvolvimento da linguagem e modificação comportamental, tendo como objetivo tornar a criança a mais autônoma possível, tornando-se um membro participativo da sociedade. Os programas de estimulação devem ser adaptados para cada criança, tendo em vista que cada criança é uma criança e cada caso responde de forma variável ao tratamento (CORREIA, 2011).

Para Milhorance apud Costa (2014, p.41) “quando a criança passa por uma intervenção antes dos 3 anos, há probabilidade de melhora de 80% nos sintomas”.

Para efeito conclusivo, pode-se afirmar que quanto antes for iniciado um programa de IP, melhor será o desenvolvimento de algumas competências da criança com TEA, proporcionando uma melhoria na qualidade de vida.

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O Transtorno do Espectro Autista é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta uma parte significativa da população, apresentando uma grande complexidade e multiplicidade de variações. Compreender o que é e as características pode auxiliar no processo de identificação e diagnóstico o mais cedo possível.

Com o diagnóstico precoce é possível que programas de intervenção sejam iniciados, tais como a Intervenção Precoce. Esse programa possibilita a minimização problemas de deficiências ou de risco de atraso de desenvolvimento, prevenindo eventuais sequelas e fomentando a inclusão social da família e da criança.

 

 

4 REFERÊNCIAS

 

AMERICAN PSYCHIATRIC   ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Tradução de Maria Inês Corrêa Nascimento   ... et al.]. Revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli ...   [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre:   Artmed, 2014. Disponível em: < http://www.tdahmente.com/wp-content/uploads/2018/08/Manual-Diagn%C3%B3stico-e-Estat%C3%ADstico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2019.

 

BRASIL. Lei 13.146/2015, 06 de julho de 2015.  Instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência.

 

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas.      Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014.86 p.: il.

 

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes de estimulação precoce: crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2016. 184 p.: il.

 

COSTA, D. C. F. Intervenção Precoce no Transtorno do Espetro do Autismo. 2014. 107 p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação na Especialidade de Educação Especial: Domínio Cognitivo e Motor) - Escola Superior de Educação João de Deus, LISBOA, 2014.

 

CORREIA, N. C. C. C. A Importância da Intervenção Precoce para as Crianças com Autismo na Perspectiva dos Educadores e Professores de Educação Especial. 2011. 143 p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação - Educação Especial) - Escola Superior de Educação Almeida Garrett, LISBOA, 2011.

 

MELLO, Ana Maria S. Ros de. Autismo: guia prático; colaboração: Marialice de Castro Vatavuk.. __ 6.ed. __ São Paulo: AMA ; Brasília: CORDE, 2007. 104 p. : il. 21cm.

 

 

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Volume/Edição

Autores

  • BARBOSA, Amanda Basílio; PORTO, Liana Barcelos

Páginas

  • a

Áreas do conhecimento

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Palavras chave

  • Intervenção Precoce, Autismo, Intervenção Precoce no Transtorno do Espectro Autista, Conceitos.

Dados da publicação

  • Data: 31/07/2019
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