17/07/2015

Educação a Distância e suas Ferramentas de Aprendizagem: Uma Reflexão Socioeducacional

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E SUAS FERRAMENTAS DE APRENDIZAGEM: UMA REFLEXÃO SOCIOEDUCACIONAL

 

Fernando Ramos Lengler [1]

Marcos Baptista Lopes Dalmau [2]

Emerson Correia da Silva [3]

Roberto Salatiel Rodrigues Marques [4]

 

RESUMO

Esta pesquisa objetivou a reflexão sobre a educação a distância (EaD), suas ferramentas e tecnologias de aprendizagem, sua abrangência e seu contexto socioeducacional. De caráter teórico, abordou conceitos, premissas e características que fundamentam a utilização da citada modalidade educacional para beneficiar nichos de mercado com carência e necessidade de desenvolvimento intelectual. A fundamentação teórica é centrada em autores que nas últimas duas décadas pesquisaram relevantes assuntos direcionados à forma de aprendizagem bilateral e as tecnologias de apoio existentes, para identificar a percepção dos mesmos em relação aos benefícios da utilização da EaD nas diversas esferas da sociedade. Foram levantados, também, importantes aspectos e informações sobre projetos recentes e experiências para fomentar uma análise final do potencial que a modalidade educacional a distância pode trazer como alternativa de disseminação do conhecimento. Dentre os resultados alcançados, faz-se uma reflexão sobre como a modalidade a distância pode ser complementar à outras formas de educação e os benefícios diferenciados que pode oferecer.

Palavras-chave: Educação a Distância. Ferramentas de Aprendizagem. Socioeducacional. Gestão Universitária.

 

1 INTRODUÇÃO

A educação a distância (EaD) é uma modalidade educacional que aparece como um modelo inovador e viável quando a formas tradicional de educação, educação presencial, não consegue suprir as demandas por conhecimento a medida em que alunos e professores estão separados espacial ou temporalmente.

A dinâmica de mercado atual impõe que as pessoas se atualizem e aprimorem seus conhecimentos continuamente e, por isso, ocorre a necessidade de criação de uma forma que possa transmitir e trocar informações com agilidade e a qualquer tempo, além de também possuir uma maior abrangência geográfica. Entre as já existentes modalidades educacionais e suas possibilidades, a EaD se consolida ganhando visibilidade e conceito de alternativa para muitos, dentro da sociedade, que não conseguiriam obter acesso à educação.

Segundo Saraiva (1996), no âmbito de disseminação do ensino superior de graduação, viu-se a necessidade de levar educação de qualidade a lugares remotos, sem as barreiras do espaço e, sem a modalidade a distância, talvez nunca seria possível romper essa barreira e atender uma gama de pessoas ávidas por conhecimento.

Entretanto, conhecer alguns pontos fundamentais deste modelo educacional é de fundamental importância para que seja possível refletir a EaD com o objetivo de alcançar os avanços no meio acadêmico, como também entender quais as formas e tecnologias hoje utilizadas para a consolidação desta modalidade, e, principalmente, compreender quais os benefícios que podem ser transpassados para a sociedade em geral.  É esperado que esta pesquisa contribua para suscitar um debate mais aprofundado e esclarecer as formas e melhores práticas de utilização da educação a distância com viés socioeducacional.

 

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

 

            A investigação se fez através da consolidação de premissas e ideologias sobre a EaD, que englobam as tecnologias e ferramentas de apoio, abrangência e atingimento social, por uma visão empírica e teórica. O levantamento de bibliografias e pesquisas sobre práticas existentes e a experiência de autores disponíveis na literatura serviram para fundamentar e dar embasamento às reflexões propostas por esta pesquisa e possíveis futuras discussões.

As experiências dos autores também deram suporte às reflexões na produção desta pesquisa, uma vez que possuem experiência e convivem ativamente com a modalidade educacional a distância (EaD), em seus âmbitos profissionais. No caso, os envolvidos compreendem e já possuem massa crítica sobre a EaD e procuraram apresentar de forma clara e objetiva alguns dos processos e desencadeamentos que a modalidade proporciona.

Do ponto de vista dos objetivos, a pesquisa é de caráter teórico e é centrada em autores que nas últimas décadas estudaram assuntos direcionados a utilização das tecnologias existentes, métodos de aprendizagem a distância e benefícios da implementação da EaD em diversas esferas da sociedade.

Com isso, esta pesquisa pretende refletir, com base nas referências bibliográficas existentes e evidências empíricas, as perspectivas e expectativas que a modalidade educacional a distância pode oferecer no desenvolvimento intelectual de indivíduos e sociedade como um todo.

 

3 REFLEXÕES E RESULTADOS

 

Esta seção consiste em consolidar reflexões e abordar o tema principal da pesquisa, centrando na EaD. São apresentadas a formas de disseminação do conhecimento, tecnologias envolvidas, a abrangência e quais as consequências de uma pulverização da modalidade educacional a distância frente a indivíduos e sociedade.

 

3.1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD) E SUA RELEVÂNCIA NA APRENDIZAGEM

 

Cada vez mais as pessoas precisam se renovar e se adequar com a busca de conhecimento constante e com velocidade e em ciclos de aprendizagem menores. Tanto em profissões como para o convívio em sociedade, cada vez mais, a evolução do conhecimento é necessária e precisa ser contínua. A busca permanente de conhecimentos específicos está diretamente ligada e é imprescindível para conseguir a manutenção e ascensão da empregabilidade (LÈVY, 1996).

Numa sociedade que a busca de conhecimento é de suma importância, o acesso a tecnologia tem uma participação neste processo muito significativa. É visivelmente observado que existe uma disparidade das tecnologias, entre países, regiões e até mesmo instituições, onde alguns encontram-se em fase iniciais de pesquisa e outros consolidados e absorvendo da melhor forma todo o potencial tecnológico existente. As fronteiras do conhecimento ultrapassaram barreiras e a busca por atualização, desenvolvimento de recursos, aperfeiçoamento de pessoas e evolução tecnológica é uma realidade em todos os locais.

Na mescla da busca por conhecimento e tecnologias que auxiliam na aprendizagem, surge a modalidade de educação a distância (EaD). Essa modalidade consegue dar agilidade e alcança esferas tentando suprir as demandas de disseminação de conhecimento específicos, bem como habilidades, familiaridade tecnológica, e atitudes compatíveis a exigências do mercado de trabalho e da sociedade (DALMAU, 2012). Segundo Litwin (2001), a EaD busca, simultaneamente, desenvolver o processo educacional e o uso de tecnologias emergentes.

A educação a distância caminha na direção de ser uma modalidade regular e necessária aos sistemas educacionais, estabelecida com uma função de grande importância para atender demandas específicas, demandas da população e demandas de formação, tanto no nível básico, técnico ou superior (VIANNEY; BARCIA; LUZ, 2006). Moore e Kearsley (2013) já destacavam que a prática da educação a distância não é recente no contexto internacional, onde existem cursos de graduação e pós-graduação conceituados, que utilizam tecnologias avançadas e com milhares de alunos ativos.

De acordo com Barberà et al (2006), existem cinco elementos principais na formação da Educação a Distância (EaD):

  1. A separação quase permanente do professor e aluno;
  2. A influência de uma organização nos processos administrativos;
  3. A utilização de meios técnicos para interatividade dos agentes;
  4. Comunicação bidirecional; e,
  5. Ensinamentos, na maioria do tempo, individualizados.

            Já, de acordo com Moore e Kearsley (2013) a EaD é composto pelos subsistemas pessoas/atores, infraestrutura, conteúdo, tecnologia, interação, ambiente de aprendizado, avaliação e gerenciamento.

De um modo geral, uma das premissas básicas da EaD é o distanciamento geográfico, na maior parte do tempo, dos alunos e professores, onde, com a utilização de tecnologias de comunicação e interatividade fazem aprender e ensinar simultaneamente. Além disso, percebe-se que neste conceito de modalidade existe o potencial de permitir novas formas de compartilhamento de conhecimento, abrangendo um número maior de pessoas, que antes não possuíam disponibilidade para tal (MOORE; KEARSLEY, 2013).

Com isso, a EaD se fortalece, a comunicação entre os agentes envolvidos na modalidade está cada vez mais facilitada e os estudantes tem uma flexibilização de tempo de acordo com suas prioridades e necessidades. Portanto, a interatividade se mostra um dos alicerces relevantes, se não o mais importante, na concepção desta modalidade educacional. Essa ligação entre os agentes é um ponto fundamental e deve atender as necessidades dos alunos e do processo de ensino e aprendizagem, buscando solucionar e sanar questões tanto teóricas quanto práticas, para o melhor aproveitamento e absorção de todos.

 

3.2 FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS DE APRENDIZAGEM

 

O conceito de interação envolve a ação recíproca entre os agentes atuantes, podendo ser direta ou indireta. A integração no caso da EaD tende a ser indireta, pois é dependente da utilização de alguma tecnologia ou ambiente virtual. Normalmente essa interatividade está ligada a um sistema na internet cuja ferramentas e estratégicas são construídas com o intuito de propiciar um processo de qualidade na aprendizagem e incentivando o trabalho cooperativo (MACHADO, 2009).

A tecnologia, sem dúvida, é uma importante aliada para o surgimento e consolidação da modalidade EaD. A partir dos anos 1990, quando tivemos um ganho potencial com as redes de satélites, o correio eletrônico, programas de suporte informático, materiais didáticos digitalizados e o avanço da internet, a modalidade pode dar um salto de qualidade e, principalmente, de abrangência. Dos recursos tecnológicos, sem dúvidas, a internet propiciou o maior ganho e tornou-se base para todo o sistema pedagógico da EaD, antes, apenas, explorados com propostas constituídas de livros ou guias redigidos.

Segundo Litwin (2001) a EaD não é apenas caracterizada pela distância dos agentes, mas também pelas relações via recursos tecnológicos. Através das tecnologias envolvidas nao EaD existe a possibilidade de realização de encontros, cada vez mais efetivos, através da virtualização.

Esta modalidade educacional, mediado por tecnologias computacionais, como a internet, apresenta uma nova interface educacional, que transforma o ensino em um compartilhamento de aprendizagens e expurgando a característica, existente na modalidade tradicional de ensino, de autoridade do professor (MAIA, 2003).

Com o desenvolvimento das tecnologias foram gerando novas formas de aproximação entre os agentes, docentes com alunos e alunos com alunos, pois evoluem acerca da interatividade, uma das principais características em evolução do modelo. Desta forma, diversos recursos ou ferramentas tecnológicas de aprendizagem são utilizadas em prol da educação a distância (LITWIN, 2001).

Os recursos utilizados para auxiliar o sistema de aprendizagem, basicamente são os destacados a seguir:

Livro Didático: Materiais escritos por professores e especialistas que visam ser um guia de estudos. Pode ser impresso ou em formato digital. O livro didático é a mídia mais comum utilizada na EaD. Segundo Garcia Areto (2001) o impresso é a mídia mais antiga e utilizada no modelo de Educação a Distância e continua desempenhando um papel essencial no processo de aprendizagem. Para Moore e Kearsley (2013), o guia de estudo deve orientar e dar instruções para os alunos de como proceder perante a disciplina. Ramos (2010) salienta, que quando bem elaborados estimulam a autoaprendizagem e impactam diretamente na qualidade do curso como um todo. 

Ambiente de Ensino-Aprendizagem: Consiste em sistemas ancorados à internet com interface para a integralização dos agentes e mídias.  Segundo Ferreira (2008), neste ambiente, o processo educacional é orientado pelos docentes e pode ter ações e atividades pedagógicas com os alunos, além de promover a participação individual ou em grupo. Ferreira (2008) também destaca que o ambiente e suas ferramentas é preciso estar em sincronia com o projeto pedagógico, pois é através dele que os alunos têm acesso a informações e à comunicação. Com o intuito de integrar e potencializar a aprendizagem, os sistemas virtuais de aprendizagem, normalmente, dispõem de algumas ferramentas como:

  1. Fóruns: constituídos de temas definidos pelos docentes debatidos em grupo. Importante espaço para troca de experiências e informações;
  2. Chat: ferramenta que proporciona integração entre os participantes;
  3. Correio Eletrônico: recurso utilizado para troca de informações, normalmente relacionadas ao curso e envio de comunicados.
  4. Repositório de Materiais On-Line: espaço no qual professores e tutores podem disponibilizar matérias complementares ou de apoio referentes ao tema abordado na disciplina;
  5. Envio On-Line de Trabalhos e Atividades: possibilita a entrega de trabalhos ou atividades e o recebimento de feedback;
  6. Tira Dúvida: permite a visualização e postagem de dúvidas frequentes;
  7. Mural de Avisos: ambiente apropriado para comunicados e divulgações de avisos oficiais;
  8. Enquete: espaço para pesquisa de opinião, serve como instrumento para obter opiniões diversas;
  9. Diário: trata-se de uma ferramenta para organização pessoal do aluno;
  10. Calendário: mostra atividades e programações agendadas do curso;
  11. Grupos: permite a organização e acompanhamento de grupos de trabalhos;
  12. Novidades: espaço para destaque de comunicados, notícias e atividades recentes.

Teleconferência: Ferramenta que utiliza uma tecnologia de telecomunicação e que permite dois ou mais indivíduos, geograficamente separados, conversarem entre si. São utilizadas dependendo do investimento e do aparato tecnológico disponibilizado pela instituição, contudo, é necessário capacitar os profissionais, principalmente os docentes, que irão operacionaliza-las. De acordo com Moore e Kearsley (2013) existem quatro tipos distintos da tecnologia de teleconferência, que são:

  1. Audioconferência: participantes estão conectados por meio de linhas telefônicas apenas;
  2. Audiográfica: também via linha telefônica e agrega alguns recursos visuais;
  3. Webconferência: permite a veiculação de arquivos, imagens, áudio e vídeo via internet;
  4. Videoconferência: recurso com transmissão de imagens televisadas via satélite ou cabo.

Mídias sob forma de áudio e vídeo: Ferramenta que possibilita a utilização de recursos técnicos e estéticos para melhor assimilação do conhecimento. Apresenta características de portabilidade, acessibilidade e flexibilidade de uso, o que facilita no processo de aprendizagem. Segundo Moore e Kearsley (2013) esta ferramenta tem permitido que alunos estudem onde e quando bem entender, além de permitir a aprendizagem por mídias de áudio e vídeo via computador.

Entretanto, mesmo com as facilidades e qualidade das ferramentas de auxílio na aprendizagem da EaD, ainda existe um desafio pedagógico frente a utilização destas tecnologias, para que reflita em melhores resultados didáticos para os alunos e seus respectivos cursos. Mesmo assim, com a evolução da EaD é evidente que a modalidade vem sendo utilizada de maneira a atender algumas necessidades educacionais, visando beneficiar uma parcela mais representativa da população, bem como atender sociedades mais afastada dos centros urbanos e capitais.

 

3.3 ABRANGÊNCIAS DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

 

Fica claro que a modalidade de educação a distância é uma alternativa viável para ampliar a qualidade e quantidade de atendimento na educação, desde a educação básica até a superior. Além disso, a EaD pode chegar a lugares aonde o ensino convencional não chegaria, seja por falta de investimentos ou estrutura de instituições, e se mostra mais uma alternativa àquelas pessoas que buscam conhecimentos específicos, mas tem dificuldades geográficas ou financeira para fazê-la (MOORE; KEARSLEY, 2013).

Moore e Kearsley (2013) salientam em sua obra que a EaD pode chegar a lugares onde a modalidade presencial não chegaria, por falta de investimentos ou estrutura. Klaes (2005) afirma que a modalidade EaD tem avançado geograficamente em todo o mundo e é a única forma capaz de conciliar a necessidade da educação superior com os problemas de mobilidade urbana, financeiros e de tempo, recursos cada vez mais escassos.

Segundo Barreto, Pinto e Martins (1999), a modalidade EaD apresenta vantagens que se caracterizam pela utilização de tecnologias, pelo atendimento de um público diversificado, pela superação da dificuldade geográfica, pela redução de custos, pela autonomia e ritmo de estudos e, essencialmente, pela democratização do acesso ao ensino. De acordo com os autores, a EaD pode ser conceituada como:

 

(...) uma modalidade específica de ensino, em que o tempo de produção é separado do tempo de uso e que se processa sem que as reações dos alunos possam ser contornadas pela improvisação do professor (...) a terminologia ‘educação a distância’ define uma série de tecnologias alternativas sofisticadas com a utilização de ferramentas tais como e-mail, broadcast, Internet, audioconferência por telefone, videoconferências com um ou dois caminhos de vídeo e dois caminhos de áudio (BARRETO; PINTO; MARTINS, 1999, p.82).

 

O distanciamento físico dos discentes com a estrutura física educacional não impossibilita a existência de um ambiente de aprendizagem propriamente dito, muito pelo contrário, com a utilização das tecnologias e ferramentas de comunicação, que propicie um ambiente virtual, surgem diversas vantagens, como: interação entre o computador e o alunos; possibilidade de dar atenção individual; autonomia do aluno com seu próprio ritmo de aprendizagem, assim como sua sequência; mais atratividade nos materiais de estudo estimulando e motivando a aprendizagem; possibilidade de avaliação dos estudantes (NOTARE; BEHAR, 2009).

Com o entendimento de um dos conceitos principais da EaD, separação física entre docentes e alunos, se faz necessária uma atuação de gestão por parte da instituição ofertante dos cursos, em relação ao planejamento, sistematização e projeto organizacional, para ter ganhos efetivos de qualidade nos propósitos educacionais, na transmissão de conteúdo e conhecimento entre professor e aluno (KEEGAN, 1996).

Entretanto, o Brasil tem como dois dos principais desafios, a interiorização e democratização do ensino superior, já que possui, com suas peculiaridades regionais, um densidade demográfica e dimensões continentais diferenciadas (PENTERICH, 2009). Segundo Saraiva (1996), no âmbito de disseminação do ensino superior de graduação, viu-se a necessidade de levar educação de qualidade a lugares remotos, sem as barreiras do espaço. Sem a modalidade de EaD, talvez nunca seria possível romper essa barreira e atender uma gama de pessoas ávidas por conhecimento.

De frente a este cenário, foi criada, pelo Ministério da Educação em 2005, a Universidade Aberta do Brasil (UAB), um projeto que possibilita que instituições públicas de ensino superior do brasil ofertem cursos superiores a distância, A finalidade deste projeto é expandir, interiorizar e levar aos brasileiros que não tem condições e atendimento oferta de cursos superiores certificados e de qualidade (UAB, 2013).

 

3.4 ATENDIMENTO SOCIOEDUCACIONAL

A EaD tem como peculiaridade a condição de atender de forma eficaz uma demanda local educacional reprimida. A propagação do conhecimento, via educação a distância, também propicia a permanente atualização e geração de quantidade, cada vez mais representativa, de desenvolvimento da sociedade. Uma das iniciativas, embasadas na EaD e na ideia de pulverização do conhecimento é a Universidade Aberta do Brasil (UAB), busca levar educação para pessoas que dificilmente teriam oportunidade e disponibilidade de obter este nível de ensino.

Segundo Preti (2009), a EaD pode atuar, com estratégia e direcionamento, na construção de uma sociedade mais solidária e justa. O autor reflete que esta modalidade de educação, amparado pelas suas tecnologias da informação e comunicação, é uma alternativa às exigências sociais e pedagógicas. Para Niskier (1999, p. 19) a EaD se caracteriza como a “tecnologia da esperança”, pensando em sociedades que teriam ganhos com o acesso aos recursos tecnológicos e recursos de comunicação. Já Vogt (2003) afirma que, com a inclusão e ampliação da EaD, o Brasil desenvolvido, a partir das tecnologias envolvidas, pode tentar amenizar os gaps oriundos do seu passado monárquico e colonial e melhorar suas estruturas institucionais, conhecimentos, educação e cultura para a sociedade.

Existe um certo consenso que a EaD e sua tecnologia possibilitam novas oportunidades de aprendizado e compartilhamento de conhecimento para um grande número de pessoas, que dificilmente se apropriariam de tal recurso. Já podem ser vistos cursos na modalidade a distância oferecidos com o objetivo de ampliar as possibilidades de conhecimento, como alguns cursos técnicos, que são direcionados para profissionais atuarem diretamente em operações no mercado de trabalho. Alguns programas educacionais buscam oportunizar desenvolvimento social e assegurar a construção e exercício da cidadania através de ações socioeducacionais.

Fica claro que a EaD no sistema educacional brasileiro pode impactar diretamente na sociedade como um todo, uma vez que toda ação por meio da educação reflete nas esferas sociais e econômicas. Além disso, a modalidade EaD permeia e interfere na vida de um número significativo de pessoas que deverão ser atendidas.

 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo buscou evidenciar que a educação a distância surgiu como uma alternativa para suprir as restrições apresentadas pela modalidade tradicional de ensino, além de como sua metodologia, forma de disseminação e abrangência, tem contribuído para ofertar conhecimento, desenvolvimento e informações para diversas esferas da sociedade, principalmente àquelas esquecidas ou menos investidas.

No contexto da educação brasileira, a EaD tem potencial para ser utilizada como alternativa viável de políticas públicas, se acompanhado de maiores investimentos e estímulos por parte do Governo, tanto para a modalidade de ensino quanto para a formação educacional da população, desde a formação básica da sociedade até a formação continuada e desenvolvimento dos docentes.

Os avanços tecnológicos apresentados no decorrer dos últimos anos tornaram, cada vez mais, a educação a distância confiável e acessível. Existe, com este avanço, melhor possibilidade de interação via ambientes virtuais, entre alunos e professores, criando condições cada vez mais próximos dos obtidos por encontros presenciais. A inclusão de tecnologia, por si só, já demonstra uma preparação da sociedade frente as necessidades globais e de mercado e o acompanhamento pedagógico desta modalidade só tende a maximizar os ganhos dos indivíduos e as sociedades nas quais estão inseridos.

As questões apresentadas nesta pesquisa mostram como é visível o potencial que a modalidade educacional a distância apresenta. Estas modalidades de educação, presencial e distância, exploradas de forma consciente, não se enfraquecem, pelo contrário, complementam-se ou apenas oferecem ou atendem a demandas diferentes. É possível ver ganhos sociais, principalmente para os que não estão sendo atendidos pela modalidade presencial, com a ampliação da modalidade a distância.

No entanto, convém, lembrar que a EaD é uma forma para a disseminação de conhecimento com características e ganhos distintos. O direcionamento pedagógico dinâmico e as tecnologias ou ferramentas utilizadas no processo de aprendizagem podem trazer benefícios diferenciados dos tradicionais, completando-os ou suprindo-os em parte.

 

REFERÊNCIAS

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BARRETO, E. S. S; PINTO, R. P; MARTINS, A. M. Formação de docentes a distância: reflexões sobre um programa. Cadernos de Pesquisa, n.106, p.81-115, março/1999. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/cp/n106/n106a04.pdf >. Acesso em: 01 mar. 2014.

DALMAU, M. B. L. Introdução à educação a distância. Florianópolis: Departamento de Ciências da Admnistração/UFSC, 2012.

FERREIRA, J. L. MOODLE: ambiente virtual de aprendizagem. In: COSTA, M. L. F; ZANATTA, R. M. Educação a distância no Brasil: aspectos históricos, legais, políticos e metodológicos. Maringá: Eduem, 2008.

GARCÍA ARETIO, L. La educación a distancia: de la teoría a la práctica. Barcelona [Espanha]: Ariel, 2001.

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KLAES, L. S. Cooperativismo e ensino a distância. 2005. 270 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.

LÈVY, P. O que é virtual?. Rio de Janeiro: Editora 34, 1996.

LITWIN, E. Das tradições à virtualidade. In: Litwin, Edith (Org.). Educação a distância: temas para o debate de uma nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 13-22.

MACHADO, S. A. As ferramentas de comunicação em educação a distância: estudo de caso do portal educação. Estudo de caso em uma empresa de educação a distância. Dissertação (Mestrado em Organizações e Desenvolvimento) - FAE Centro Universitário. Curitiba, 2009.

MAIA, M. C. O uso da tecnologia de informação para a Educação a Distância no Ensino Superior. Tese (Doutorado em Administração de Empresas) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2003.

MOORE, M.; KEARSLEY, G. Educação a distância: uma visão integrada. Edição Especial da Associação Brasileira de Educação a Distância. São Paulo: Thomson Learning, 2013.

NOTARE, M. R; BEHAR, P. A. A comunicação matemática on-line por meio de ROODA Exata. In: BEHAR, P. A. (Org.). Modelos pedagógicos em Educação a Distância. Porto Alegre: Artmed, 2009.

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VOGT, C. A espiral da cultura científica. São Paulo: SBPC/Labjor Brasil, 2003.

 

[1] Mestre em Administração Universitária. Professor da Faculdade Cesusc. Florianópolis – SC – Brasil. fernandolengler@gmail.com 

[2] Doutor em Engenharia de Produção. Professor e Chefe do Departamento de Ciências da Administração UFSC. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Florianópolis – SC – Brasil. dalmau@ufsc.br

[3] Doutor em Educação. Professor e Coordenador de Educação a Distância da Faculdade Cesusc. Florianópolis – SC – Brasil. emerson.silva@cesusc.edu.br

[4] Mestre em Administração Universitária. Professor e Pesquisador. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Florianópolis – SC – Brasil. beto.cse@gmail.com

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Volume/Edição

Autores

  • LENGLER, Fernando Ramos; DALMAU, Marcos Baptista Lopes; SILVA, Emerson Correia da; MARQUES, Roberto Salatiel Rodrigues

Páginas

  • 1 a 12

Áreas do conhecimento

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Palavras chave

  • Educação a Distância, Ferramentas de Aprendizagem, Socioeducacional, Gestão Universitária

Dados da publicação

  • Data: 17/07/2015
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