28/03/2018

Considerações sobre Estado da Arte, Levantamento Bibliográfico e Pesquisa Bibliográfica: relações e limites

Considerações sobre Estado da Arte, Levantamento Bibliográfico e Pesquisa Bibliográfica: relações e limites

 

 

Resumo

Indiferente ao tipo de pesquisa a ser realizada ela passará pelo Levantamento Bibliográfico prévio que é necessário para a identificação do estado da arte do tema, para a fundamentação teórica, e ainda para justificar limites e contribuições da pesquisa que será realizada. Avançando no cronograma de realização da pesquisa podemos utilizar como método a Pesquisa Bibliográfica para verificamos a possibilidade de uma conjugação e confrontação em um único compêndio de variadas verdades apresentadas em pesquisas anteriores. Há confusão causada pela aparente semelhança dos termos Levantamento Bibliográfico e Pesquisa Bibliográfica. É natural e acontece incontáveis vezes dependendo diretamente do amadurecimento do conhecimento do pesquisador. Este ao passar por disciplinas que tratam da questão, como Metodologia da Pesquisa, vai aos poucos tendo o discernimento da sutiliza que marca a diferença de significado dos termos que são parecidos. Outra obrigatoriedade na confecção de um trabalho científico é a definição do Estado da Arte do tema proposto. Ele vai ser explorado na Pesquisa Bibliográfica e no Levantamento Bibliográfico proporcionando-nos embasamento teórico do assunto a ser tratado e nos ajudando a responder questões referentes a nossos objetivos. O Estado da Arte faz com que não iniciemos a pesquisa do nível zero. Pesquisas semelhantes ou mesmo complementares com diferentes pontos de vista contribuem para a valorização da pesquisa que está sendo feita permitindo de certa forma o avanço do conhecimento científico.

 

Palavras chave: Levantamento Bibliográfico. Pesquisa Bibliográfica. Estado da Arte

 

Abstract

The type of research to be carried out, it will go through the previous Bibliographic Survey that is necessary for the identification of the state of the art of the subject, for the theoretical foundation, and also to justify limits and contributions of the research that will be carried out. Advancing the schedule of the research we can use Bibliographic Research as a method to verify the possibility of a conjugation and confrontation in a single compendium of varied truths presented in previous research. There is confusion caused by the apparent similarity of the terms Bibliographic Survey and Bibliographic Research. It is natural and happens countless times depending directly on the maturing of the researcher's knowledge. This, when passing through disciplines that deal with the question, as Research Methodology, gradually has the discernment of subtlety that marks the difference in meaning of terms that are similar. Another requirement in the preparation of a scientific work is the definition of the State of Art of the proposed theme. It will be explored in the Bibliographic Research and in the Bibliographic Survey providing us with a theoretical basis of the subject to be treated and helping us to answer questions regarding our objectives. The survey of the State of Art does not start the research of level zero. Similar or even complementary research with different points of view contributes to the valorization of the research being done, allowing in some way the advance of scientific knowledge.

 

Keywords: Bibliographic Survey. Bibliographic Research. State of Art

 

 

 

 

 

Introdução

O óbvio muitas vezes também precisa ser dito, e precisamos ter muito cuidado com o que é óbvio para nós e o que é óbvio para quem estamos falando. Seguindo esta linha de pensamento trataremos de termos simples, mas que por vezes são confundidos ou mal entendidos por pesquisadores na realização de seus trabalhos científicos.

Inicialmente, destacamos que uma pesquisa para ser científica imprescinde da observância de regras metodológicas aceitas e aplicáveis à ciência, as quais nortearão o planejamento, o desenvolvimento e a redação do estudo.

Nesse sentido, existem três importantes tipos de pesquisa: a bibliográfica, a descritiva e a experimental. No caso da primeira destaca-se que será utilizada em qualquer área de pesquisa, pois um levantamento bibliográfico prévio é necessário para a redação do estado da arte, delimitação do tema, fundamentação teórica, e ainda para justificar limites e contribuições da pesquisa que será realizada (Cervo, 2011).

Alhures, a importância da pesquisa bibliográfica para a vida acadêmica e para a própria ciência é evidenciada por Ruiz (2013) que apresenta a pesquisa bibliográfica prévia, ou levantamento, como condição para a relação de qualquer espécie de pesquisa, desde a atividade exploratória, ou ainda, o estabelecimento do status quaestionis[1], até para a justificação dos objetivos e contribuições da própria pesquisa.

Procurar e organizar a bibliografia para um tema de pesquisa, realizar uma investigação unicamente sobre livros, sem pesquisa de campo, e revisar os trabalhos já existentes sobre  sobre dado problema de pesquisa são ações que divergem bastante entre si. Não obstante, mesmo se tratando de tarefas conceitualmente diferentes, são, ora tratadas todas pelo mesmo nome, ora cada uma delas recebe várias denominações. Isto ocorre também e principalmente, porque todas elas requerem métodos semelhantes.

No presente artigo, nos propomos a definir e delimitar as fronteiras voláteis de cada uma destas três tarefas. Para tanto, buscaremos estabelecer o que elas significam na prática, o que possuem em comum e no que se diferenciam, e por quais diferentes termos são costumeiramente referidas.

 

2. Levantamento bibliográfico

O levantamento bibliográfico consiste em etapa prévia de qualquer classe de pesquisa científica. Uma vez escolhido o tema e mesmo antes da delimitação do problema, faz-se necessário um estudo exploratório, com o objetivo de recolher informações preliminares sobre o campo de interesse do pesquisador. Conforme determina Ruiz (2009, p. 57):

Qualquer espécie de pesquisa, em qualquer área, supõe e exige pesquisa bibliográfica prévia, quer a maneira de atividade exploratória, quer para o estabelecimento de status quaestionis, quer para justificar os objetivos e contribuições da própria pesquisa.

 

Ou ainda como definem Marconi e Lakatos (2010, p.142) “[...] é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados ao tema.”

Alguns manuais se referem a esta tarefa como pesquisa bibliográfica, o que leva à confusão, na medida em que o mesmo termo também denomina um tipo específico de investigação, o qual já foi tratado, em forma de monografia, dissertação ou tese, “em que o objeto é um livro, e os instrumentos outros livros” (Eco, 1989), sendo o livro ou documento objeto da pesquisa, a fonte primária e a literatura crítica, as fontes secundárias. O termo “levantamento de dados” é às vezes também utilizado e, embora envolva o levantamento da bibliografia, pode igualmente requerer documentação direta, que é uma exploração prévia de informações no próprio local em que os fenômenos ocorrem, como pesquisa de campo ou laboratório (Marconi e Lakatos, 2010). Assim, ainda que os manuais descrevam esta fase da investigação de maneira precisa, não há uma uniformidade dos termos. Aqui, prefere-se chamá-la de levantamento bibliográfico, justamente para melhor diferi-la de pesquisa bibliográfica e revisão bibliográfica, ou estado da arte.

Compreendendo bibliografia como “o conjunto de livros escritos sobre determinado assunto, por autores conhecidos e identificados” (Ruiz, 2009, p. 58), tem-se como tarefa no levantamento a organização destes dados bibliográficos.

Organizar uma bibliografia significa buscar aquilo cuja existência ainda se ignora. O bom pesquisador é aquele capaz de entrar numa biblioteca sem ter a mínima ideia sobre um tema e sair dali sabendo um pouco mais sobre ele (Eco, 1989, p.42).

 

À época em que escreveu sua obra, nos anos 1970, basicamente não haviam catálogos informatizados de acervos. Hoje os recursos se multiplicaram com a internet e suas várias plataformas, desde enciclopédias virtuais aos bancos de teses e artigos, passando por obras inteiras disponíveis no meio eletrônico. Entretanto, as habilidades básicas do pesquisador e o método com que se organiza permanecem inalterados e quem não sabe procurar em uma biblioteca ou arquivo, também não o saberá fazê-lo na internet. Ainda se precisa saber o que se busca, como se busca e onde se busca.

Quanto ao material que será pesquisado, há divergências. Alguns autores, como Marconi e Lakatos (2010) colocam como pesquisa documental o levantamento de fontes primárias, separando-o do levantamento bibliográfico propriamente dito. Estas fontes documentais ou primárias seriam documentos oficiais, publicações parlamentares, documentos jurídicos, iconografia, correspondências, diários, ofícios, memoriais, atas, registros, estatística, entre outras que foram não publicadas. Já as fontes bibliográficas se constituiriam de imprensa escrita, meios audiovisuais, material cartográfico e publicações, tais como livros, teses, monografias e artigos. Ruiz (2009) adota um critério semelhante, chamando de fontes, os textos de primeira mão e bibliografia, o conjunto das produções escritas para esclarecer as fontes, mas também situando-os na mesma fase inicial do trabalho.

Já Cervo, Bervian e Da Silva (2007) classificam todos os elementos citados acima como documentos bibliográficos e os dividem em primários, quando coletados em primeira mão, secundários, quando colhidos em livros e outras publicações e terciários, quando citados por outra pessoa. O que ocorre é que, não importa como sejam classificadas as fontes, algumas investigações necessitam de um estudo prévio de documentos, ou material que não foi publicado. Precisará uma pesquisa de arquivo, além da pesquisa na biblioteca, mesmo que ambas possam ser feitas na internet nos dias atuais. Quando a pesquisa trata de fenômenos, as fontes primárias estarão baseadas na pesquisa de campo, como observações, questionários e entrevistas (Eco, 1989).

Antes de começar a pesquisa, o investigador deve levar em consideração a disponibilidade das fontes, que vai determinar também a própria possibilidade do trabalho. Umberto Eco (1989) levanta três fatores de acessibilidade das fontes: onde podem ser encontradas, se são facilmente acessíveis e se há condições de compulsá-las. Durante o levantamento, o pesquisador já terá uma ideia da acessibilidade das fontes e poderá fazer alterações no tema, bem como em sua delimitação, em função destes aspectos.

Eleito um assunto, pode-se começar com verbetes de dicionários especializados, enciclopédias, manuais, catálogos bibliográficos e, naturalmente, todos os seus equivalentes eletrônicos disponíveis na atualidade. Se o pesquisador estiver empreendendo esta ação em uma biblioteca, ele também pode pedir o auxílio do bibliotecário ou consultar o catálogo por assuntos, embora o catálogo por autores sempre seja mais seguro, pois independe dos critérios de seu organizador (Eco, 1989).

Dos catálogos e obras gerais, o pesquisador terá uma ideia do que lhe interessa e o que procurar. Ruiz (2009) aconselha, por exemplo, a examinar a orelha, o índice, a bibliografia e as notas de rodapé. Mas, na medida que as obras são consultadas, mais referências vão surgindo e é preciso organizá-las. Um método aconselhado por Barros e Lehfeld (2010) e Eco (1989) é confeccionar fichas bibliográficas. Estas fichas vão conter a referência da obra, sua localização e o assunto de que trata. Elas comporão um arquivo apenas da bibliografia, que é diferente dos arquivos e fichas, de leitura, de citações ou de ideias. Marconi e Latakos (2010) incluem também outras modalidades de fichas, como de resumo, de esboço, de comentário ou de glosa. Cada pesquisador organiza seu próprio material, mas as fichas são essenciais porque ele lida com obras que não estarão sempre em mãos.

Nem todos os livros constantes nas fichas bibliográficas serão lidos, na verdade só uma fração deles. Conforme Eco (1989, p. 42):

O arquivo bibliográfico deve nos acompanhar sempre que formos a uma biblioteca. Suas fichas contém apenas os dados essenciais do livro em questão e a sua localização nas bibliotecas exploradas […] Uma ficha de leitura pode ser múltipla (um livro pode dar origem a várias fichas de anotação), mas a bibliográfica é apenas uma.

 

Em suma, o levantamento bibliográfico fornecerá o rumo de toda a sequência da pesquisa. Dará o conhecimento das obras básicas e dos aspectos gerais do tema escolhido, permitindo a delimitação do problema de investigação. Fará com que o pesquisador tenha a correta noção da amplitude dos trabalhos já realizados no campo, o que o auxiliará sobremaneira na posterior revisão bibliográfica.

 

3. Pesquisa Bibliográfica

Na gênese deste excerto sobre a pesquisa bibliográfica, primeiramente é preciso distinguir às “fontes” da “bibliografia”, uma vez que, por fontes se entende os textos que primeiro abordaram determinado tema, dos quais se originaram os demais estudos destinados a esclarecer, divulgar, analisar ou refutar o estudo e constatações, sendo estes a bibliografia. Portanto, a pesquisa bibliográfica abrangerá tanto a investigação das fontes quanto da bibliografia.

Salienta-se que uma mesma obra pode ser considerada fonte e bibliografia, pois ela poderá ser a primeira tratar de determinado assunto e ao mesmo tempo secundária para outra. Portanto, temos fontes primárias e fontes secundárias, porém o que realmente deve preocupar um pesquisador é a seleção do material, pois seu embasamento teórico deve estar bem alicerçado, para tanto deve priorizar a utilização de estudos confiáveis e de autores consagrados.

Ora, a fundamentação teórica da pesquisa determinará o nível de credibilidade do estudo, então deve o autor balizar seu trabalho em fontes seguras e renomadas, uma vez que estas fontes primam pela criteriosidade do conteúdo.

As fontes da pesquisa bibliográfica são abundantes, para tanto o pesquisador poderá se valer de ampla gama de material disponível para explicar um problema, desta forma terá que explorar livros, revistas científicas, artigos, notícias sobre o tema, legislação pertinente, dissertações e teses existentes e com conteúdo útil ao estudo.

Ressalta Cervo (2011, p. 60) que a pesquisa bibliográfica “[ . . . ] pode ser realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou experimental”.

As três fontes mais comuns às quais deve estar voltada a atenção do pesquisador são a vivência (leituras, conversações, dúvidas, questionamentos), polêmicas (assuntos objetos de polêmicas denotam ter o tema relevância social, ao passo que demonstram que as versões dos opositores ainda não são sólidas). Comumente surgem em livros, revistas, jornais e seminários e reflexão (é preciso enxergar os problemas ignorados ou negligenciados pelo senso comum) (Ruiz, 2013).

Por decorrência, esta espécie de pesquisa proporciona uma construção teórica doutrinária, científica e legal, oferecendo auxílio ao diagnóstico e resolução dos problemas que se investiga, permitindo a análise da situação-problema por um prisma diferente das demais pesquisas, e com isto, poderá chegar aos mesmos resultados ou a resultados distintos das conclusões dos pesquisadores investigados, desta feita, confirmando-se, refutando-se ou adaptando as verdades apresentadas.

Em sua obra Cervo (2011, p.61) apresenta a pesquisa bibliográfica como um meio de formação por excelência e procedimento básico para os estudos monográficos, destinado a busca do domínio do estado da arte sobre determinado tema. Complementa ainda que (Cervo, 2011, p.61):

 

[ ...] constitui a pesquisa propriamente dita na área das ciências humanas. Como resumo de assunto, constitui o primeiro passo de qualquer pesquisa científica. Os alunos de todos os níveis acadêmicos devem, portanto, ser iniciados nos métodos e nas técnicas da pesquisa bibliográfica

 

Outrossim, sustenta Ruiz (2013, p. 49) analisando à inserção do estudante universitário no meio científico em relação às noções de metodologia da pesquisa, que:

Mas, para treinar passos no caminho da ciência, devem não só imbuir-se de espírito científico e de mentalidade científica, mas também instrumentar-se e habilitar-se a trabalhar com critérios de ciência. Devem, ainda, estar em condições de realizar trabalhos de pesquisa que lhes forem sendo gradativamente solicitados, de acordo com as normas da metodologia científica.

 

Cabe destacar que nem todos os estudantes farão pesquisas experimentais, de campo ou no laboratório, porém, todos farão algum tipo de pesquisa bibliográfica ao longo de sua vida estudantil.

Sobre este ponto, reforça Andrade (2010, p. 25):

A pesquisa bibliográfica é habilidade fundamental nos cursos de graduação, uma vez que constitui o primeiro passo para todas as atividades acadêmicas. Uma pesquisa de laboratório ou de campo implica, necessariamente, a pesquisa bibliográfica preliminar. Seminários, painéis, debates, resumos críticos, monográficas não dispensam a pesquisa bibliográfica. Ela é obrigatória nas pesquisas exploratórias, na delimitação do tema de um trabalho ou pesquisa, no desenvolvimento do assunto, nas citações, na apresentação das conclusões. Portanto, se é verdade que nem todos os alunos realizarão pesquisas de laboratório ou de campo, não é menos verdadeiro que todos, sem exceção, para elaborar os diversos trabalhos solicitados, deverão empreender pesquisas bibliográficas.

 

Por meio da pesquisa bibliográfica é possível reunir em um estudo diversos dados até então dispersos no mundo científico, aumentando-se a área de abrangência da pesquisa, possibilitando a transposição de entraves gerados pela escassez de tempo e de recursos financeiros.

As economias de tempo e dinheiro são evidenciadas na pesquisa bibliográfica em razão da facilidade de acesso às fontes de estudo, hodiernamente disponíveis, em grande parte de forma gratuita na Internet, portanto, tende a consumir menos tempo e recursos financeiros na a coleta e para análise dos dados, do que os que seriam gastos em um diagnóstico que envolvesse, e.g., uma pesquisa preponderantemente experimental.

É cediço serem as bibliotecas físicas o principal reduto para pesquisas bibliográficas, por concentrarem em mesmo espaço físico obras de temáticas diversas ou voltada a área específica do conhecimento, nas quais os pesquisadores poderão buscar as fontes de que necessitam, para tanto empreenderão valioso tempo consultando os fichários de autores, fichários de título ou de obras e fichários de assuntos, caso disponíveis na biblioteca, como também, poderá solicitar auxílio da Bibliotecária do local.

Não obstante, com o advento da internet parte deste valioso tempo pode ser economizado, pois as buscas virtuais sintetizam em segundos o trabalho que levaria horas feito manualmente, ademais os benefícios se apresentam ainda por meio da amplidão de fontes científicas disponíveis para estudo.

Para uma coleta precisa de dados virtuais está a disposição nos sites de buscas a opção de realizar pesquisa avançada, a qual possibilita a delimitação do que se quer pesquisar, podendo selecionar idioma, país de origem, formato do arquivo, datas dos conteúdos, tudo isso com o objetivo de facilitar o trabalho a ser realizado agregando precisão e com economia de tempo.

Alertamos que todas as informações colhidas no meio virtual devem ser confirmadas em outras fontes, para assegurar a exatidão e veracidade da informação, vez que o mundo virtual tem acessibilidade ampla, por consequência há estudos não confiáveis e com metodologia de pesquisa duvidosa, como também, há estudos falsos, produzidos com finalidades comercial ou política desestruturantes.

Aconselha-se a priorização de busca de materiais em sites públicos educacionais, de universidades públicas ou privadas de renome nacional ou internacional, em decorrência da credibilidade notória destas fontes, como também, em razão de boa parte das universidades manterem repositórios das produções acadêmicas realizadas nestas instituições.

Entretanto, há a necessidade do manancial pesquisado ser devidamente organizado, objetivando a construção de uma base de dados consistente para a realização dos estudos almejados.

Logo, com as fontes bibliográficas selecionadas e delimitadas, caberá ao pesquisador proceder à leitura criteriosa e seletiva das partes essenciais contidas no material angariado, analisando-o, ordenando-o e verificando a sua concisão, excluindo o irrelevante, por derradeiro extraindo-se as conclusões por meio da análise dos dados coletados.

 

4. Estado da Arte

Ao estudar um tema de uma pesquisa na realização de um trabalho científico passamos  pelo Levantamento Bibliográfico e pela Pesquisa Bibliográfica o que vai nos proporcionar fontes para o embasamento teórico do assunto a ser tratado e nos ajudar a responder questões referentes a nossos objetivos.

Segundo Lakatos (1991, p. 224) este embasamento teórico vai nos ajudar na questão como? da pesquisa.  Aparecem assim os elementos de fundamentação teórica do trabalho e, também, a definição dos conceitos a serem empregados.

Dessa forma poderemos identificar a teoria de base que vai nos ajudar a correlacionar a pesquisa com o universo teórico, optando-se por um modelo teórico que sirva de embasamento à interpretação que vai revelar o significado dos dados e fatos colhidos.  Isso faz com que a pesquisa não seja apenas um relatório ou descrição de fatos levantados empiricamente, mas sim o desenvolvimento interpretativo dos dados que obteve.

Sendo assim, um projeto de pesquisa vai conter premissas ou pressupostos teóricos sobre os quais o pesquisador fundamentará sua interpretação.

Alguns pressupostos apenas mudam de roupagem e trocam de nomes mas continuam com suas premissas válidas. Pode-se tomar como exemplo um estudo recente referente a Gestão da Qualidade Total de José Vicente B. de Mello Cordeiro. Resumidamente podemos dizer que ele mostra que após um período de grande popularidade entre as empresas ocidentais nas décadas de 1980 e 1990, a Gestão da Qualidade Total nos últimos anos vem sendo preterida em favor de novas técnicas e modismos de gestão. O artigo mostra que, por se tratar de uma filosofia de gestão sintonizada com o novo ambiente competitivo, muitos dos conceitos de Qualidade Total continuam sendo adotados pelas empresas por meio da implementação de novas técnicas e modismos de gestão.

Outros pressupostos e tecnologias continuam relevantes desde sua criação. Podemos citar como exemplo Decartes.  René Decartes nasceu em, 31 de março de 1596 – Estocolmo e  foi um filósofo, físico e matemático francês. Notabilizou-se sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. Por fim, foi também uma das figuras-chave na Revolução Científica. Decartes, por vezes chamado de "o fundador da filosofia moderna" e o "pai da matemática moderna" é considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento Ocidental. Inspirou contemporâneos e várias gerações de filósofos posteriores. Boa parte da filosofia escrita a partir de então foi uma reação às suas obras ou a autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas afirmam que, a partir de Decartes, inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna. A falta de confiança  na razão fez com que Decartes elencasse a dúvida frente ao conhecimento por conta da realidade da época em que vivia. O filósofo estabeleceu o princípio da dúvida como instrumento da verdade e três séculos e meio depois de sua morte há relevância no estudo de seu pensamento.

Apesar de alguns pressuposto permanecerem relevantes não podemos deixar de observar que a sociedade contemporânea esta debruçada  sobre novas questões e é preciso pensarmos com destaque na revolução tecnológica e no advento da sociedade em rede que vem alterando a relação entre as pessoas o que deve ser levado em conta no levantamento dos pressupostos teóricos e premissas que fundamentam a pesquisa. 

O levantamento dos pressupostos está diretamente relacionado a um importante ponto da pesquisa e do desenvolvimento do trabalho. Este ponto é o Estado da Arte com relação ao tema da pesquisa que está sendo feita. Por vezes, o Estado da Arte pode ser rotulado como Revisão de Literatura, Revisão da Bibliografia ou Identificação das Fontes.

Lakatos (1991), quanto ao estado da arte, nos ensina que a pesquisa não precisa ser realizada do nível zero. Devemos procurar pesquisas iguais ou semelhantes ou mesmo complementares dos aspectos da pesquisa pretendida. O objetivo de procurar tais fontes é o aumento dos esforços na descoberta de conceitos e juízos de valores já manifestados. Assim, as principais conclusões que outros autores chegaram podem ir na mesma direção da pesquisa confirmando as conclusões do pesquisador. Podem mostrar contradições ou simplesmente salientar alguns aspectos. A confirmação das ideias ou a não confirmação com o aparecimento de contradições entre as pesquisas só pode vir a contribuir para o aumento do valor do trabalho que está sendo realizado.

Há vários entendimentos quanto ao Estado da Arte relativo a um assunto. Rodrigues (2008) estabelece que a Revisão de Literatura não precisa obrigatoriamente ser longa. Ela deve ter uma visão do todo e pode ser montada por meio de um esquema geral contendo os tópicos mais importantes, pois as fontes são muito amplas e podem trazer ideias de pouco valor ou fazer com que o trabalho perca o foco e sentido.

O autor pensa na Revisão de Literatura de um trabalho acadêmico como sendo “uma aula que tem um assunto principal, que lista os principais pontos de vista e suas relações, que confronta teoria e conceitos com a realidade e que principalmente simplifica a vida do seu aluno ou leitor” (Rodrigues 2008). Assim a Revisão de Literatura deve possuir um encadeamento lógico onde o assunto anterior puxa o seguinte e assim sucessivamente. Esses  assuntos devem ser bem estruturados e organizados dando força aos argumentos do trabalho.

Outro entendimento, mas bastante parecido é o de Gil (2002). Ele denomina o estado da arte como Identificação das Fontes. Identifica esta etapa do trabalho como procura das fontes capazes de fornecer as respostas adequadas à solução do problema proposto. No entanto, explica que parte desta tarefa já deve ter sido desenvolvida em uma revisão bibliográfica preliminar e temporária. Outro aspecto citado é a importância do orientador para a indicação das fontes bibliográficas adequadas ao desenvolvimento da pesquisa.  Ressalta-se aqui que consultas a especialistas ou pessoas que já realizaram pesquisas na mesma área são de grande importância. Repete-se indiretamente o que se afirmou anteriormente de não começar o trabalho do nível zero. Essas pessoas podem fornecer não apenas informações sobre o que já foi publicado, mas também apreciação crítica do material a ser consultado.

Para exemplificar, vamos para um caso bastante simples e concreto. Podemos falar do Estado da Arte referente a armas no calibre 0,50 polegadas. Este seria nosso assunto principal. Os pontos de vista e suas relações nos levariam certamente a famosa Browning M2. Chegaríamos a algumas características como ser uma metralhadora pesada criada no fim da Primeira Guerra Mundial por John Browning[2]. No seu estudo a identificaríamos por usar o maior e mais poderoso calibre para armamentos considerados leves. Verificaríamos  que a mesma foi desenvolvida para ser eficaz contra a infantaria, veículos não blindados ou levemente blindados, barcos, fortificações leves e aeronaves em baixa altitude. Como consequência de sua versatilidade fica fácil de vermos que ela foi amplamente utilizada em veículos e aeronaves do mundo todo. A história do armamento começou com seu desenvolvimento no final da Primeira Guerra Mundial. Foi muito utilizada durante a Segunda Guerra Mundial, Guerra da Coréia, Guerra do Vietnã, e durante as operações no Iraque e no Afeganistão, na década de 2000. Ainda hoje é a principal metralhadora pesada dos países da OTAN e tem sido utilizada por muitos outros países. A M2 está em uso a mais tempo que qualquer outra arma ligeira de seu calibre.

O pesquisador chegaria a conclusão que no estudo de equipamentos .50 o levantamento bibliográfico necessariamente passaria pelo estudo da M2. Que mesmo tendo sido desenvolvida a mais de 100 anos continua sendo o que há de mais relevante em sua modalidade e que o equipamento é o próprio estado da arte do que existe hoje em termos de metralhadoras. Esta rápida Revisão de Literatura apresenta uma visão do todo, sendo um esquema geral que contem os tópicos mais importantes, pois as fontes sobre o assunto são muito amplas e se mal exploradas podem fazer o trabalho perder o sentido.

Poderíamos ter exemplificado o assunto com outros temas diversos, como por exemplo, o Marxismo. No entanto, as fontes são ainda mais amplas. Ao escolhermos como exemplo um material o assunto fica bastante restrito e limitado permitindo conclusões mais breves.

 

Considerações finais

Pelo exposto, vê-se que o método de pesquisa bibliográfica possibilita a conjugação e confrontação em um único compêndio de variadas questões apresentadas em pesquisas anteriores, as quais “in natura” estariam dispersas no ambiente físico ou virtual, de maneira a reforçar, aprimorar ou refutar referidos estudos, mantendo mutável e progressiva a ciência. Pode constituir-se como uma pesquisa por si mesma ou fazer parte de uma investigação.

Para tanto, é importante a convicção do pesquisador em relação ao assunto que quer investigar, verificando o tempo de que dispõe e o tempo necessário para análise e processamento das informações selecionadas, como também, os recursos materiais que necessitará para levar a cabo sua pesquisa em relação a sua capacidade financeira de suportar estes custos, ou seja, de forma que o tempo e os recursos materiais para a pesquisa seja condizente com o tempo e recursos disponíveis a disposição do pesquisador para serem empregados em sua pesquisa.

A confecção de um trabalho científico necessariamente passa pelo Estado da Arte do tema proposto. Ele vai ser explorado na Pesquisa Bibliográfica e no Levantamento Bibliográfico que vai nos proporcionar fontes para o embasamento teórico do assunto a ser tratado e nos ajudar a responder questões referentes a nossos objetivos.

O embasamento teórico vai nos ajudar na questão como? da pesquisa. Aparece assim os elementos de fundamentação teórica do trabalho e, também, a definição dos conceitos a serem empregados.

Estes conceitos ao longo do tempo podem apenas mudar de nome, podem perder parte do seu conteúdo ou se manterem os mesmos. No entanto não podemos deixar de observar que a sociedade contemporânea esta debruçada sobre novas questões e é preciso pensarmos com destaque na revolução tecnológica e no advento da sociedade em rede que vem alterando a relação entre as pessoas o que deve ser levado em conta no levantamento dos pressupostos teóricos e premissas que fundamentam a pesquisa. 

O Estado da Arte faz com que não iniciemos a pesquisa do nível zero. Pesquisas semelhantes ou mesmo complementares com diferentes pontos de vista contribuem para a valorização da pesquisa que está sendo feita.

O Estado da Arte relativo a  um assunto deve ter uma visão do todo e pode ser montada por meio de um esquema geral contendo os tópicos mais importantes, pois as fontes são muito amplas e podem trazer ideias de pouco valor ou fazer com que o trabalho perca o foco e sentido. Além disso deve proporcionar um encadeamento lógico ao trabalho, onde o assunto anterior puxe o seguinte e assim sucessivamente.

Durante este processo não podemos esquecer da importância do orientador na indicação das fontes bibliográficas adequadas para o desenvolvimento da pesquisa.  Ressalta-se aqui que consultas a especialistas ou pessoas que já realizaram pesquisas na mesma área são de grande importância. Elas podem fornecer não apenas informações sobre o que já foi publicado, mas também apreciação crítica do material a ser consultado.

Assim, conclui-se que três diferentes ações de investigação científica são muitas vezes confundidas devido à terminologia. Toda pesquisa envolverá, em alguma medida, o levantamento bibliográfico e o Estado da Arte, mas nem toda a pesquisa será bibliográfica, embora os métodos sejam semelhantes.

 

Referências

ANDRADE, M. M. 2010. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração de trabalhos na graduação. 10ª ed. São Paulo, Atlas, 158 p.

 

BARROS, A.J.daS.; LEHFELD, N.A.deS. 2007. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Pearson, 158 p.

 

CERVO, A.L.; BERVIAN, P.A.; SILVA, R. 2007. Metodologia Científica. 6ª ed. São Paulo, Pearson, 162 p.

 

CORDEIRO,  J. V. B. de M. 2004. Reflexões sobre a Gestão da Qualidade Total: fim de mais um modismo ou incorporação do conceito por meio de novas ferramentas de gestão? Revista  FAE, 7(1): 19-33.

 

ECO, U. Como se faz uma tese. São Paulo, Perspectiva, 1989, 170 p.

 

GIL, A. C. 2002. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4ª ed. São Paulo, Atlas, 64 p.

 

LAKATOS, E.; MARCONI, M. de A. 1991. Metodologia científica. 2ª ed. São Paulo, Atlas, 224 p.

 

RODRIGUES, E. 2008. Histórias impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Londrina: Editora Planta, 164 p.

 

RUIZ, J. A. 2009; 2013. Metodologia Científica: guia para eficiência nos estudos. São Paulo, Atlas, 180 p.

 

 

 

 

 

 


[1] Pode ser entendido como o estado da questão, que é tudo aquilo que já foi escrito sobre o tema. Seria buscar a sua bibliografia, mas não qualquer bibliografia e sim aquela que forma uma linha hierárquica dos seus pensadores. Pode ser entendido, também, como significado dos termos principais e se relacionar com o significado das palavras-chave, dos conceitos principais que estão sendo tratados.

[2] John Moses Browning (nascido em Ogden, 23 de Janeiro de 1855) foi um projetista e inventor americano de armas de fogo que desenvolveu muitas variedades de armas de fogo civis e militares, cartuchos e mecanismos de armas, muitos dos quais ainda estão em uso em todo o mundo. Ele é considerado um dos mais bem sucedidos projetistas de armas de fogo do século XX, no desenvolvimento de modernas armas automáticas e  semiautomáticas, e é creditado com 128 patentes de armas. Ele fez sua primeira arma de fogo aos 13 anos na loja de armas de seu pai, e foi premiado com sua primeira patente em 7 de outubro de 1879, aos 24 anos.

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Volume/Edição

Autores

  • MINUSSI, Sandro Gindri; MOURA, Augusto Albuquerque; JARDIM, Mateus L. Gomes; RAVASIO, M. Homrich.

Páginas

  • a

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Palavras chave

Dados da publicação

  • Data: 28/03/2018
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