30/11/2016

As Interfaces da Psicomotricidade Relacional na Educação Física Infantil

As Interfaces da Psicomotricidade Relacional na Educação Física Infantil

 

Victor Hugo Rezende Alves, Grazielle Rodrigues da Costa, Yuri Bueno dos Santos, Adriana Cristina da Silva, Ana Carolina Siqueira Zuntini

 

As Interfaces da Psicomotricidade Relacional na Educação Física Infantil

 

ALVES, V.H.R.1; COSTA, G.R.1; SANTOS, Y.B.1; SILVA, A.C.1; ZUNTINI, A.C.S2.

1 Discentes do Curso de Educação Física – UniÍtalo

2 Orientadora, Bacharel em Fisioterapia pelo UniÍtalo, Especialista em Anatomia Macroscópica pelo Centro Universitário São Camilo, Mestranda em Farmacologia e Fisiologia pela UNIFESP, Docente do Curso de Educação Física do UniÍtalo

 

 

AS INTERFACES DA PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

 

RESUMO

Esta pesquisa foca a importância da psicomotricidade relacional no trabalho pedagógico da Educação Física na Educação Infantil por meio da exploração de atividades lúdicas. O objetivo é apresentar e analisar as contribuições dos fundamentos da psicomotricidade relacional no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem do público infantil e na formação de suas habilidades motora, comportamental, expressiva e cognitiva. Em relação à metodologia, utilizou-se a base de dados do Scielo e bibliografias específicas sobre o tema. A fundamentação teórica está estruturada na organização de autores do ramo, como Aucouturier, Lapierre, Negrine e nas diretrizes educacionais que apontam ações interventivas que privilegiam a formação das potencialidades na infância. Este estudo permitiu tecer as principais considerações da psicomotricidade relacional segundo seu pressuposto corpo e mente, pois o corpo em movimento é fundamental para o desenvolvimento infantil e a ação pedagógica com a psicomotricidade relacional representa uma proposta inovadora da prática pedagógica, como forma de constituir uma pedagogia voltada para a construção da consciência corporal e saberes fundamentais para a formação pessoal e social.

 

Palavras-chave: Educação Física. Educação Infantil. Psicomotricidade relacional. Aprendizagem.

 

 

ABSTRACT

This research focuses on the importance of relational psychomotricity in the pedagogical work of Physical Education in Child Education through the exploration of play activities. The objective is to present and analyze the contributions of the fundamentals of relational psychomotricity in the development of the teaching-learning process of the children's audience and in the formation of their motor, behavioral, expressive and cognitive skills. Regarding the methodology, we used the Scielo database and specific bibliographies on the subject. The theoretical basis is structured in the organization of authors of the field, such as Aucouturier, Lapierre, Negrine and in the educational guidelines that point to intervention actions that favor the formation of potentialities in childhood. This study allowed us to weave the main considerations of relational psychomotricity according to its presupposed body and mind, since the body in movement is fundamental for the infantile development and the pedagogical action with the relational psychomotricity represents an innovative proposal of the pedagogical practice, like form to constitute a pedagogy Focused on the construction of body awareness and fundamental knowledge for personal and social formation.

 

Keywords: Physical Education. Child education. Relational psychomotricity. Learning.

 

INTRODUÇÃO

 

         Esta pesquisa teve como objetivo apresentar e analisar as contribuições dos fundamentos da psicomotricidade relacional na formação de habilidades e desenvolvimento do público da Educação Infantil por meio de pesquisa bibliográfica.

         A psicomotricidade relacional é uma ciência que estuda a relação entre a mente (psico) e o corpo (movimento) do ser humano, analisando essa dinâmica com o mundo interno (corpo e mente) e o mundo externo (sociedade e o ambiente), considerando o indivíduo em sua totalidade e em suas diferentes formas de expressão e movimentação, valorizando a afetividade e as emoções, não se restringindo à repetição sistemática de exercícios físicos (VIEIRA et al., 2005).

         Embasado nas contribuições dos autores que tratam dos fundamentos da psicomotricidade relacional, a problemática levantada é em que medida as atividades de psicomotricidade relacional podem desenvolver das potencialidades da relação corpo/mente e a qualidade das relações sociais da criança no ambiente escolar? Como as ações pedagógicas da Educação Física podem auxiliar no desenvolvimento global e, principalmente, psicomotor da criança da Educação Infantil?

         A metodologia está pautada na pesquisa bibliográfica, tendo como base teórica os trabalhos acadêmicos da base de dados Scielo e obras específicas de autores da área e nas diretrizes educacionais que apontam ações interventivas que privilegiam a formação das potencialidades na infância.

         O interesse pelo tema surgiu das observações oriundas do estágio supervisionado ao longo da graduação de Educação Física, o que despertou para reflexões sobre a necessidade que a criança tem de se movimentar para explorar e conhecer a si mesma, os espaços, o mundo e o outro por meio de sua movimentação expressiva, que a caracteriza.

         Partindo-se desse pressuposto, o profissional da educação deve proporcionar uma variedade de atividades com movimentos e expressões que colaborem para o desenvolvimento psicológico, motor e cognitivo dos alunos da Educação Infantil. As atividades psicomotoras oferecem a oportunidade do “se movimentar” de diferentes formas, como correr, saltar, pular, rastejar e brincar sob a orientação e mediação de um profissional da educação.

         Dessa forma, a Educação Física também se constitui em um saber interdisciplinar e significativo, pois traz novas possibilidades de ações pedagógicas para o enfrentamento das relações interpessoais dos educandos. O trabalho com a psicomotricidade relacional aponta para a reflexão da relação existente entre corpo e mente, sobressaindo-se como um instrumento colaborativo para se repensar os princípios de formação da identidade corporal e da qualidade das relações interpessoais do indivíduo.

 

FUNDAMENTOS DA PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL

 

         Vieira et al. (2005) explicam que a psicomotricidade é uma ciência interdisciplinar que estuda e investiga o indivíduo e suas relações entre a motricidade do seu corpo e as funções psíquicas (da mente). É um termo empregado para os movimentos organizados e integrados, em função das experiências vividas pelo indivíduo.

A psicomotricidade encara o ser humano em uma visão holística, integrando as funções cognitivas, psicológicas e motoras. Além disso, possui vertentes de atuação: educativa, reeducativa, terapêutica, relacional e aquática. Apesar dos ramos de atuação, esta pesquisa se apoia no estudo da psicomotricidade relacional (SILVA, 2004).

Vital (2007) conta que os fundamentos da Psicomotricidade Relacional foram desenvolvidos pelo fisioterapeuta francês André Lapierre, na década de 1970, tendo como base os estudos de Winnicott e outros estudiosos. Aucouturier e, Negrine, um dos precursores da prática da psicomotricidade no Brasil, também compõem o quadro de autores de referência da área psicomotora. Atualmente, Anne Lapierre, filha de André Lapierre, dá continuidade aos estudos da psicomotricidade relacional iniciados por seu pai.

 

A Psicomotricidade Relacional encontra-se centrada em métodos não diretivos em que a sua principal ação se desenvolve no jogo, proporcionando a capacidade de representação, de imaginação e criatividade. Considera-se o indivíduo na sua totalidade num espaço lúdico onde se permite que a criança exteriorize as suas emoções, interaja com o ambiente, com os objetos e com as outras pessoas (LE BOULCH, 1988; NEGRINE, 1995 apud SANTOS, 2015, p. 20).

 

                                      

         Vieira (2005) expõe que o trabalho com a psicomotricidade relacional pode ser desenvolvido em escolas, clínicas e empresas com diferentes enfoques e objetivos, com grupos de pessoas de todas as idades, por meio de brincadeiras e recursos lúdicos, como o jogo simbólico. Os participantes se deparam com situações de jogo simbólico, nos quais podem expressar de maneira autêntica seus sentimentos, pois “esse método de trabalho, tem se estabelecido como uma poderosa ferramenta de intervenção, desenvolvendo-se como um processo eficaz de ajuda nas relações pessoais e interpessoais”.

         A fundamentação da psicomotricidade relacional baseia-se nas seguintes diretrizes: proporcionar experiências corporais variadas pela exploração do espaço, do corpo e dos objetos mediante a ação de brincar e dos jogos simbólicos; priorizar a vivência simbólica, pois o movimento tem a função de representação, imaginação e comunicação; facilitar o contato das crianças por meio da expressividade e oralidade, proporcionando a socialização e exteriorização dos sentimentos. No entanto, para que esta dinâmica se realize, é preciso que o profissional compreenda o corpo como principal mediador do desenvolvimento das potencialidades, pois por intermédio dele que eclodem as diferentes formas de expressão, permitindo a comunicação com o meio (AUCOUTURIER, 2004 apud SANTOS, 2015).

         A finalidade da psicomotricidade relacional é a de atuar sobre as relações psicoafetivos adquiridas na infância, que estão diretamente ligados às dificuldades de adaptação no cotidiano e no convívio social, propiciando a descoberta dos meios que facilitam o desenvolvimento global do indivíduo (MORO, 2008).

         Conforme Costa (2008) apud Santos (2015), ao contrário da psicomotricidade funcional, que se foca no jogo diretivo, ou seja, direcionado pelo educador, a abordagem relacional está focada no jogo espontâneo e simbólico que as crianças desenvolvem, baseando-se nas descobertas motoras, criatividade e espontaneidade da criança.

 

Psicomotricidade Relacional é a vertente da psicomotricidade que dá ênfase aos aspectos afetivo-emocionais e relacionais do ser humano. Em Psicomotricidade Relacional, o papel do inconsciente e suas interferências psíquicas sobre as diversas formas de relações humanas norteiam uma intervenção diferenciada, baseada na leitura e decodificação simbólica de ações vividas através de atividades lúdicas. Utiliza-se do jogo simbólico como recurso para desencadear o desenvolvimento do potencial cognitivo, emocional, social e motriz do ser humano (MORO, 2008, p. 1039).

 

            Segundo Lapierre et al. (2005) apud Moro (2008), a inclusão do adjetivo “relacional” à psicomotricidade diferencia a visão de Lapierre em relação às outras concepções e técnicas de psicomotricidade já existentes e que consideram o movimento sob o aspecto cognitivo. Diferentemente destas concepções, Lapierre, com sua psicomotricidade relacional, considera que o corpo em movimento não se restringe apenas ao desenvolvimento cognitivo, mas também dos aspectos psicológicos, como a sensibilidade e afetividade consigo mesmo e em relação ao outro, pois o corpo é lugar de prazer, desejo, frustração e lembranças das emoções positivas e negativas vividas pela criança.

         Nas atividades de psicomotricidade relacional as preocupações pedagógicas estão mais voltadas aos aspectos afetivos do que aos programas de conteúdo e seus objetivos. Por isso, o acréscimo do adjetivo “relacional” ao trabalho da psicomotricidade marca a especificidade desse método, concentrando-se mais na construção de relações interpessoais e entre corpo e mente da criança (VITAL, 2007).

         Adentrando-se na área educacional, a finalidade da psicomotricidade relacional na educação é desenvolver as potencialidades de relação da criança consigo mesma, com o outro e com o mundo, utilizando a ação do brincar espontâneo, o jogo simbólico como um meio de promover a superação de suas dificuldades relacionais. Favorece uma relação de ajuda, escuta, mediação, interação e de promoção entre o corpo (movimento) e a mente da criança com novos desafios (SILVA; FALKENBACH, 2004).  

         Detalhando com mais minúcia os fundamentos da psicomotricidade relacional, Silva e Falkenbach (2004) explicam os fundamentos da visão de cada autor. A abordagem psicomotora relacional se fundamentou nos estudos psicanalíticos da relação entre o adulto e a criança produzidos por estudiosos, como Winnicott, Dolto, Mahler, Klein, Spitz, que sobretudo, influenciaram os trabalhos psicopedagógicos de Aucouturier, Lapierre e Negrine, uma vez que se trata de uma prática educativa.

         Negrine, renomado autor brasileiro sobre psicomotricidade relacional, baseou seus estudos de psicomotricidade relacional nos pressupostos de Aucouturier, configurando sua linha de raciocínio em uma perspectiva educativa e preventiva. Para ele, “a psicomotricidade relacional utiliza-se da ação do brincar como elemento motivador para provocar a exteriorização corporal da criança”, pois a brincadeira impulsiona processos de desenvolvimento, aprendizagem e a livre expressão da bagagem cultural, de pensamentos e sentimentos internalizados pela criança (SILVA; FALKENBACH, 2004).

         Na visão dos autores Silva e Falkenbach (2004), o trabalho de Negrine destaca-se dos demais autores por fatores como, unir os referenciais teóricos de outras ciências, como a Antropologia e a Psicopedagogia, assim como os fundamentos de Vygotsky aos seus estudos de psicomotricidade, o que contribuiu para mudanças significativas na forma de compreender  as ações psicopedagógica do desenvolvimento e aprendizagem infantil; explicar que em um ambiente lúdico, a criança faz uma trajetória denominada de “trajetória lúdica” e o seu movimento flutua entre o movimento técnico (real) e o faz-de-conta (ideal), o que caracteriza o jogo simbólico e, por fim, estruturar e adequar a organização das atividades psicomotoras conforme a faixa etária do grupo de crianças e seu contexto educativo.

         Neste sentido, a ação de brincar se faz importante como um canal de comunicação, expressividade e representação e, é por este motivo que os especialistas dizem que se conhece uma criança brincando. É no momento da brincadeira que se pode observar sua bagagem cultural, experiências, pensamentos, valores e atitudes, ou seja, o que compõem o seu mundo interior e as relações construídas pela criança em relação a si mesma, ao outro e ao mundo (SANTOS, 2015).

         O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) trata que o jogo simbólico, também chamado de faz-de-conta, é o momento na qual a criança inconscientemente recria a realidade usando sistemas simbólicos, ela interpreta e ressignifica o mundo real pela representação de papéis sociais.

         Inserido nas atividades de psicomotricidade relacional, o jogo simbólico é uma importante estratégia pedagógica que permite que o profissional conheça a criança e o que ela manifesta, seus interesses, atitudes e valores que retratam as emoções e os sentimentos de cada momento vivido (LAPIERRE, 2004).

         Negrine (2002) apud Silva e Falkenbach (2004), lembra que “tal atitude pedagógica permite que o profissional faça interpretações significativas das ações que a criança experimenta e exterioriza, seja através da mímica, dos gestos ou das produções plásticas”. Para Aucouturier, no trabalho psicomotor relacional o jogo de pulsão deve ser potencializado, já Lapierre prioriza o jogo simbólico.

         O RCNEI (Brasil, 1998) trata que o jogo simbólico, também chamado de faz-de-conta, é o momento na qual a criança inconscientemente recria a realidade usando sistemas simbólicos, ela interpreta e ressignifica o mundo real pela representação de papéis sociais. Já o jogo de pulsão caracteriza-se pela repetição simples de exercícios motores e gestos, a fim de proporcionar prazer pela própria movimentação em si.

                Para Lapierre (1988) apud Silva e Falkenbach (2004), a psicomotricidade relacional não se caracteriza ao movimento corporal por si só, mas o corpo e seus movimentos são como um canal de comunicação das emoções com o mundo exterior. Nesse sentido, esta vertente de trabalho “reforça a comunicação do adulto com as crianças, engloba uma série de estratégias e ações pedagógicas que servem como meio de ajuda ao desenvolvimento e aprendizagem da criança”.

         Já Aucouturier caracteriza as atividades da Psicomotricidade Relacional em uma sequência temporal de ações pedagógicas, isto é, a criança segue uma determinada ordem para executar os jogos: momento inicial ou ritual de entrada; o momento de expressividade do jogo, que podem envolver prazer sensório-motor, jogos simbólicos; narração de história, atividades de representação e, momento final ou ritual de saída (MARTÍNEZ et al., 2003 apud SILVA; FALKENBACH, 2004).

 

A PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL E O JOGO SIMBÓLICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

         Conforme o RCNEI (Brasil, 1998), a Educação Infantil é a primeira etapa da educação Básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade e, é justamente nesta fase da vida que as crianças aprendem e apreendem o mundo de uma forma uníssona com a totalidade de seu corpo e mente e, isso é uma necessidade desta fase da vida, pois corpo, movimento e mente caminham juntos, numa relação de interdependência.

         Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia” da criança, podendo se comunicar e expressar por meio de gestos, sons e representar papéis sociais e situações da realidade com sua imaginação, interpretando a realidade. É brincando que as crianças estruturam o seu aparelho psíquico e desenvolvem capacidades importantes, como a imitação, atenção, memória, imaginação, compreensão de regras e socialização, que servirão de base para a formação de sua vida adulta. Tais capacidades são fundamentais para que a criança desenvolva suas relações sociais e afetivas sobre si, o outro e com o mundo (BRASIL, 1998).

         Nesta perspectiva, a brincadeira e o universo lúdico já são uma terapia, auxiliando no trabalho das dificuldades comportamentais, cognitivas e sociais, pois, segundo o documento (PCN’s), a ação de brincar se constitui em um momento “no qual se pode observar a coordenação das experiências prévias das crianças e aquilo que os objetos manipulados sugerem ou provocam no momento” do brincar (VITAL, 2007).

         Assim, a psicomotricidade relacional tem muito a contribuir no ambiente escolar e vai muito além da geração de estímulos nas crianças, mas possibilidade a promoção de ajustes positivos de tais dificuldades da criança. É uma abordagem que não se foca nas dificuldades, mas que investe nas possibilidades de crescimento e aperfeiçoamento das capacidades e habilidades da criança se desenvolver integralmente (VIEIRA, 2009).

 

A psicomotricidade relacional na escola é uma atividade preventiva que através do jogo simbólico e espontâneo, o educando pode exercita sua expressividade e autenticidade, qualidades importantes para o desenvolvimento da autonomia e da autoestima, potencializando o desejo para a aprendizagem (CABRAL, 2001, p. 68).

 

         No espaço escolar, quando a criança apresenta condutas de agressividade, inibição, agitação, dependência, falta de limites, TOC, medos, hiperatividade, frustrações, autoestima baixa, entre outros tipos de comportamentos que comprometem seu aprendizado, o trabalho com a psicomotricidade relacional procura gerar estímulos com a finalidade de provocar ajustes positivos sobre os distúrbios comportamentais, sociais e cognitivos, incentivar o aprendizado e o desejo de aprender, melhorar a produtividade, superar medos, prevenir dificuldades de expressão motora, verbal e gráfica, estimular a criatividade, a atenção, a concentração e a memória, elevar a autoestima, compreender limites e situações de frustração pela constante exploração de suas potencialidades, rumo à sua autonomia. No entanto, devem ser valorizados os aspectos positivos da personalidade da criança, como um reforço positivo (LAPIERRE, 2004) .

         Dessa forma, o trabalho com a psicomotricidade relacional atinge todos os campos inerentes ao indivíduo, promovendo mudanças significativas na conduta comportamental, na aprendizagem e socialização da criança. As melhoras no âmbito do comportamento trabalham com o ajuste positivo da agressividade, agitação, hiperatividade, da falta de limites, intolerância e frustração à diferentes situações. No âmbito da aprendizagem, desperta o desejo de aprender, a capacidade de raciocínio e criatividade, minimiza as dificuldades motora, gráfica e de comunicação, melhora a noção espacial, eleva a autoestima, fortalecendo o rendimento escolar. Na socialização, facilita a integração e convivência amistosa com as pessoas e fortalece a capacidade do enfrentamento de novas situações (MORO, 2008).

 

Eu tenho confiança na criança. Não quero destruir sistematicamente sua estrutura, não quero lhe dar outra. Somente quero ajudá-la a descobrir a sua, aquela que lhe permitirá se desembaraçar ao máximo de dependências e de conflitos neuróticos, de valorizar suas potencialidades, neste difícil equilíbrio entre a afirmação pessoal e o respeito aos outros (LAPIERRE).

 

         Guerra (2006) apud Moro (2008) aponta os objetivos do trabalho com a Psicomotricidade Relacional nas escolas: promover a ação espontânea da criança através do jogo simbólico; estimular a criação de vínculos afetivos entre as crianças; enriquecer as experiências psicomotoras; prevenir dificuldades de expressão motora, verbal e gráfica; desenvolver a espontaneidade e a criatividade; colaborar no processo de construção dos limites; desenvolver as potencialidades individuais e do grupo; despertar a criança para o desejo de aprender contribuindo para o desenvolvimento dos processos de aprendizagem; propiciar à criança o prazer no brincar espontaneamente; estimular a percepção corporal; promover a afirmação do eu; descobrir o corpo, através dos movimentos, como unidade de prazer; promover a autonomia; estimular o ajuste positivo da agressividade; elevar a qualidade das relações interpessoais entre as crianças promovendo a socialização.

         Para Lapierre, “o corpo não é essencialmente cognição, mas também o lugar de toda sensibilidade, afetividade, emoção da relação consigo e com o outro”, e nesta relação consigo mesmo e com o outro, a psicomotricidade relacional “proporciona um espaço de legitimação dos desejos e dos sentimentos no qual o indivíduo pode se mostrar na sua inteireza, com seus medos, desejos, fantasias e ambivalências” o que facilitará as relações afetivas e sociais (VIEIRA et al., 2005).           

         As atividades com a psicomotricidade relacional primam pela valorização das potencialidades da criança, a fim de que se fortaleça sua autoestima e confiança em si mesma e nos outros, por meio do jogo espontâneo. Dessa forma, é possível identificar as dificuldades e as facilidades de cada criança. Assim, procura-se trabalhar com aquilo que há de positivo na criança, pois o que interessa é o que ela sabe fazer, e não o que ela não sabe (LAPIERRE; AUCOUTURIER, 2004).

 

 

O PROFESSOR E A PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

         Segundo o RCNEI (1998), o trabalho com o público da Educação Infantil, que compreende crianças de até cinco anos de idade, exige que o professor tenha visão pedagógica e uma competência pedagógica polivalente, que, em outras palavras, cabe ao professor trabalhar com conteúdos de natureza diversa e interdisciplinares das áreas do conhecimento.

         Importante ressaltar que, esse caráter polivalente demanda uma formação ampla do profissional que, também posicionar-se como um aprendiz, refletindo sempre sobre sua prática docente, dialogando com seu grupo de trabalho e atualizando-se no trabalho que desenvolve, num constante movimento de ação-reflexão-ação (RCNEI, 1998).

         No que tange ao trabalho com a psicomotricidade relacional, Santos (2015) explicita que o profissional deve estar comprometido com o trabalho que executa, demonstrar disponibilidade em relação ao grupo de trabalho, promover a interação entre o grupo de crianças, reforçar as condutas motoras e participar nos jogos das crianças.

 

A atitude do educador corresponde a uma “não diretiva” bem compreendida, isto é, não estabelecida sobre um modo deliberadamente autoritário, o que não significa que não possa ser firme quando a situação o exigir. O educador deve estar mais preocupado pelo desenvolvimento da criança em relação às outras e quando confrontada a certos imperativos sociais, (…). Eis por que o educador utiliza o movimento, pois observa aí tanto o aspecto pragmático ou práxico, traduzida pela sua eficiência e rendimento, como o aspecto expressivo que demonstra o modo de ser da pessoa (LE BOULCH, 1988, p. 38 apud SANTOS, 2015, p.21).

 

 

                 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

         Este trabalho apresentou a concepção e os principais fundamentos do trabalho com a psicomotricidade relacional na Educação Infantil, à luz das contribuições dos autores citados, refletindo sobre os motivos de se optar pelo trabalho pedagógico com esta abordagem no contexto escolar.

         Na realização de uma prática coerente com os princípios do trabalho da psicomotricidade relacional, o professor se torna um parceiro, incentivador e o mediador na proposição de atividades voltadas às necessidades do público alvo da Educação Infantil, por isso a relação entre a teoria/técnica e a atuação pedagógica é de fundamental importância para a formação e desenvolvimento de seus alunos.

         Como explorado durante a pesquisa, o profissional precisa criar situações lúdicas por intermédio dos jogos espontâneos simbólicos, nos quais os alunos possam deparar-se com situações para que expressem as bagagens existentes em seu mundo interior. Nesta perspectiva, o professor de Educação Física deve atentar-se às expressões e comportamentos demonstrado pelas crianças para que possa planejar e escolher os recursos materiais e atividades a serem executadas em prol do contínuo desenvolvimento das habilidades do aluno

         Considerando as atuais relações humanas no espaço escolar e na sociedade, as atividades com a psicomotricidade relacional vertem respostas na relação da conduta pessoal e interpessoal do aluno, caracterizando-se como uma estratégia inovadora e pertinente de trabalho, que une corpo e mente. Dessa forma, os valores aprendidos a partir daí podem ultrapassar os muros da escola, repercutindo em todos os ambientes de convivência do aluno.

         Referente ao ambiente escolar, sabe-se das dificuldades em se modificar paradigmas, atitudes e valores, o que acaba por gerar opiniões divergentes, mas todos convergem na luta em prol de uma educação de qualidade e significativa para todos. Dessa forma, os preceitos psicomotores, além de uma oportunidade diferenciada de trabalho, que une movimento expressivo, representações simbólicas, emoção e mente, corroboram para se refletir na importância do respeito à diversidade da natureza humana, pois cada um é único, imbuído de qualidades e dificuldades a serem ministradas.

         Diferentemente, das outras abordagens psicomotoras, a psicomotricidade relacional prioriza o brincar livre e espontâneo, o que leva a criança a manifestar seus sentimentos, emoções e aspectos inerentes ao desenvolvimento psicomotor.

 

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI. Ministério da Educação e do Desporto. Brasília: MEC/SEF, V. 1, 2 e 3, 1998.

                                           

CABRAL, Suzana V. Psicomotricidade Relacional: prática clínica e escolar. Rio de Janeiro: Revinter, 2001.  Disponível em: http://psicomotricidaderelacional.blogspot.com.br/ Acesso em: 20 out. 2016.

 

CIAR. Centro Internacional de Análise Relacional. Psicomotricidade Relacional. Disponível em: http://www.ciar.com.br/serv/pos.htm Acesso em 27 out. 2016.

 

LAPIERRE, André; AUCOUTURIER, Bernard. Simbologia do movimento: psicomotricidade e educação. 3ª ed. Curitiba: Filosofarte, 2004.

 

MORO, Daniele R. Précoma. A psicomotricidade relacional na escola responsável pela qualidade nas relações interpessoais. VIII Congresso Nacional de Educação – EDUCERE. Out/2008, p. 1037-1048. Disponível em: http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/317_152.pdf. Acesso em: 20 out. 2016.

 

SANTOS, Andreia C. Amaral. Psicomotricidade método dirigido e método espontâneo na educação pré-escolar. Escola Superior de Educação ESEC. Mestrado em Jogo e Motricidade na Infância. Coimbra/Portugal, 2015. 84 páginas. Disponível em: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/13394/4/ANDREIA_SANTOS.pdf. Acesso em: 23 out. 2016.

 

SILVA, Danielle Mendonça; FALKENBACH, Atos Prinz. Psicomotricidade: um olhar descritivo de suas vertentes. Ação & Movimento, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 102-111, 2004. Disponível em: ucbweb.castelobranco.br/webcaf/.../ARTIGO_Psicomotricidade_VERTENTIS.doc. Acesso em: 20 out. 2016.

 

VIEIRA, Jose Leopoldo (org.). Psicomotricidade Relacional: A teoria de uma prática. III Congresso Internacional do Conhecimento Científico, 2009. Disponível em:

http://www.perspectivasonline.com.br/ojs/index.php/revista_antiga/article/viewFile/388/299 Acesso em: 20 out. 2016.

VITAL, Carina Trajano. A importância das atividades psicomotoras nas aulas de Educação Física na Educação Infantil. Universidade Candido Mendes. Curso de pós-graduação em Psicomotricidade. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: http://www.avm.edu.br/monopdf/7/CARINA%20TRAJANO%20VITAL.pdf Acesso em: 23 out. 2016.

As Interfaces da Psicomotricidade Relacional na Educação Física Infantil

 

 

 

Victor Hugo Rezende Alves, Grazielle Rodrigues da Costa, Yuri Bueno dos Santos, Adriana Cristina da Silva, Ana Carolina Siqueira Zuntini

 

 

 

As Interfaces da Psicomotricidade Relacional na Educação Física Infantil

 

 

ALVES, V.H.R.1; COSTA, G.R.1; SANTOS, Y.B.1; SILVA, A.C.1; ZUNTINI, A.C.S2.

1 Discentes do Curso de Educação Física – UniÍtalo

2 Orientadora, Bacharel em Fisioterapia pelo UniÍtalo, Especialista em Anatomia Macroscópica pelo Centro Universitário São Camilo, Mestranda em Farmacologia e Fisiologia pela UNIFESP, Docente do Curso de Educação Física do UniÍtalo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AS INTERFACES DA PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

 

RESUMO

Esta pesquisa foca a importância da psicomotricidade relacional no trabalho pedagógico da Educação Física na Educação Infantil por meio da exploração de atividades lúdicas. O objetivo é apresentar e analisar as contribuições dos fundamentos da psicomotricidade relacional no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem do público infantil e na formação de suas habilidades motora, comportamental, expressiva e cognitiva. Em relação à metodologia, utilizou-se a base de dados do Scielo e bibliografias específicas sobre o tema. A fundamentação teórica está estruturada na organização de autores do ramo, como Aucouturier, Lapierre, Negrine e nas diretrizes educacionais que apontam ações interventivas que privilegiam a formação das potencialidades na infância. Este estudo permitiu tecer as principais considerações da psicomotricidade relacional segundo seu pressuposto corpo e mente, pois o corpo em movimento é fundamental para o desenvolvimento infantil e a ação pedagógica com a psicomotricidade relacional representa uma proposta inovadora da prática pedagógica, como forma de constituir uma pedagogia voltada para a construção da consciência corporal e saberes fundamentais para a formação pessoal e social.

 

Palavras-chave: Educação Física. Educação Infantil. Psicomotricidade relacional. Aprendizagem.

 

 

ABSTRACT

This research focuses on the importance of relational psychomotricity in the pedagogical work of Physical Education in Child Education through the exploration of play activities. The objective is to present and analyze the contributions of the fundamentals of relational psychomotricity in the development of the teaching-learning process of the children's audience and in the formation of their motor, behavioral, expressive and cognitive skills. Regarding the methodology, we used the Scielo database and specific bibliographies on the subject. The theoretical basis is structured in the organization of authors of the field, such as Aucouturier, Lapierre, Negrine and in the educational guidelines that point to intervention actions that favor the formation of potentialities in childhood. This study allowed us to weave the main considerations of relational psychomotricity according to its presupposed body and mind, since the body in movement is fundamental for the infantile development and the pedagogical action with the relational psychomotricity represents an innovative proposal of the pedagogical practice, like form to constitute a pedagogy Focused on the construction of body awareness and fundamental knowledge for personal and social formation.

 

Keywords: Physical Education. Child education. Relational psychomotricity. Learning.

 

INTRODUÇÃO

 

         Esta pesquisa teve como objetivo apresentar e analisar as contribuições dos fundamentos da psicomotricidade relacional na formação de habilidades e desenvolvimento do público da Educação Infantil por meio de pesquisa bibliográfica.

         A psicomotricidade relacional é uma ciência que estuda a relação entre a mente (psico) e o corpo (movimento) do ser humano, analisando essa dinâmica com o mundo interno (corpo e mente) e o mundo externo (sociedade e o ambiente), considerando o indivíduo em sua totalidade e em suas diferentes formas de expressão e movimentação, valorizando a afetividade e as emoções, não se restringindo à repetição sistemática de exercícios físicos (VIEIRA et al., 2005).

         Embasado nas contribuições dos autores que tratam dos fundamentos da psicomotricidade relacional, a problemática levantada é em que medida as atividades de psicomotricidade relacional podem desenvolver das potencialidades da relação corpo/mente e a qualidade das relações sociais da criança no ambiente escolar? Como as ações pedagógicas da Educação Física podem auxiliar no desenvolvimento global e, principalmente, psicomotor da criança da Educação Infantil?

         A metodologia está pautada na pesquisa bibliográfica, tendo como base teórica os trabalhos acadêmicos da base de dados Scielo e obras específicas de autores da área e nas diretrizes educacionais que apontam ações interventivas que privilegiam a formação das potencialidades na infância.

         O interesse pelo tema surgiu das observações oriundas do estágio supervisionado ao longo da graduação de Educação Física, o que despertou para reflexões sobre a necessidade que a criança tem de se movimentar para explorar e conhecer a si mesma, os espaços, o mundo e o outro por meio de sua movimentação expressiva, que a caracteriza.

         Partindo-se desse pressuposto, o profissional da educação deve proporcionar uma variedade de atividades com movimentos e expressões que colaborem para o desenvolvimento psicológico, motor e cognitivo dos alunos da Educação Infantil. As atividades psicomotoras oferecem a oportunidade do “se movimentar” de diferentes formas, como correr, saltar, pular, rastejar e brincar sob a orientação e mediação de um profissional da educação.

         Dessa forma, a Educação Física também se constitui em um saber interdisciplinar e significativo, pois traz novas possibilidades de ações pedagógicas para o enfrentamento das relações interpessoais dos educandos. O trabalho com a psicomotricidade relacional aponta para a reflexão da relação existente entre corpo e mente, sobressaindo-se como um instrumento colaborativo para se repensar os princípios de formação da identidade corporal e da qualidade das relações interpessoais do indivíduo.

 

FUNDAMENTOS DA PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL

 

         Vieira et al. (2005) explicam que a psicomotricidade é uma ciência interdisciplinar que estuda e investiga o indivíduo e suas relações entre a motricidade do seu corpo e as funções psíquicas (da mente). É um termo empregado para os movimentos organizados e integrados, em função das experiências vividas pelo indivíduo.

A psicomotricidade encara o ser humano em uma visão holística, integrando as funções cognitivas, psicológicas e motoras. Além disso, possui vertentes de atuação: educativa, reeducativa, terapêutica, relacional e aquática. Apesar dos ramos de atuação, esta pesquisa se apoia no estudo da psicomotricidade relacional (SILVA, 2004).

Vital (2007) conta que os fundamentos da Psicomotricidade Relacional foram desenvolvidos pelo fisioterapeuta francês André Lapierre, na década de 1970, tendo como base os estudos de Winnicott e outros estudiosos. Aucouturier e, Negrine, um dos precursores da prática da psicomotricidade no Brasil, também compõem o quadro de autores de referência da área psicomotora. Atualmente, Anne Lapierre, filha de André Lapierre, dá continuidade aos estudos da psicomotricidade relacional iniciados por seu pai.

 

A Psicomotricidade Relacional encontra-se centrada em métodos não diretivos em que a sua principal ação se desenvolve no jogo, proporcionando a capacidade de representação, de imaginação e criatividade. Considera-se o indivíduo na sua totalidade num espaço lúdico onde se permite que a criança exteriorize as suas emoções, interaja com o ambiente, com os objetos e com as outras pessoas (LE BOULCH, 1988; NEGRINE, 1995 apud SANTOS, 2015, p. 20).

 

                                      

         Vieira (2005) expõe que o trabalho com a psicomotricidade relacional pode ser desenvolvido em escolas, clínicas e empresas com diferentes enfoques e objetivos, com grupos de pessoas de todas as idades, por meio de brincadeiras e recursos lúdicos, como o jogo simbólico. Os participantes se deparam com situações de jogo simbólico, nos quais podem expressar de maneira autêntica seus sentimentos, pois “esse método de trabalho, tem se estabelecido como uma poderosa ferramenta de intervenção, desenvolvendo-se como um processo eficaz de ajuda nas relações pessoais e interpessoais”.

         A fundamentação da psicomotricidade relacional baseia-se nas seguintes diretrizes: proporcionar experiências corporais variadas pela exploração do espaço, do corpo e dos objetos mediante a ação de brincar e dos jogos simbólicos; priorizar a vivência simbólica, pois o movimento tem a função de representação, imaginação e comunicação; facilitar o contato das crianças por meio da expressividade e oralidade, proporcionando a socialização e exteriorização dos sentimentos. No entanto, para que esta dinâmica se realize, é preciso que o profissional compreenda o corpo como principal mediador do desenvolvimento das potencialidades, pois por intermédio dele que eclodem as diferentes formas de expressão, permitindo a comunicação com o meio (AUCOUTURIER, 2004 apud SANTOS, 2015).

         A finalidade da psicomotricidade relacional é a de atuar sobre as relações psicoafetivos adquiridas na infância, que estão diretamente ligados às dificuldades de adaptação no cotidiano e no convívio social, propiciando a descoberta dos meios que facilitam o desenvolvimento global do indivíduo (MORO, 2008).

         Conforme Costa (2008) apud Santos (2015), ao contrário da psicomotricidade funcional, que se foca no jogo diretivo, ou seja, direcionado pelo educador, a abordagem relacional está focada no jogo espontâneo e simbólico que as crianças desenvolvem, baseando-se nas descobertas motoras, criatividade e espontaneidade da criança.

 

Psicomotricidade Relacional é a vertente da psicomotricidade que dá ênfase aos aspectos afetivo-emocionais e relacionais do ser humano. Em Psicomotricidade Relacional, o papel do inconsciente e suas interferências psíquicas sobre as diversas formas de relações humanas norteiam uma intervenção diferenciada, baseada na leitura e decodificação simbólica de ações vividas através de atividades lúdicas. Utiliza-se do jogo simbólico como recurso para desencadear o desenvolvimento do potencial cognitivo, emocional, social e motriz do ser humano (MORO, 2008, p. 1039).

 

            Segundo Lapierre et al. (2005) apud Moro (2008), a inclusão do adjetivo “relacional” à psicomotricidade diferencia a visão de Lapierre em relação às outras concepções e técnicas de psicomotricidade já existentes e que consideram o movimento sob o aspecto cognitivo. Diferentemente destas concepções, Lapierre, com sua psicomotricidade relacional, considera que o corpo em movimento não se restringe apenas ao desenvolvimento cognitivo, mas também dos aspectos psicológicos, como a sensibilidade e afetividade consigo mesmo e em relação ao outro, pois o corpo é lugar de prazer, desejo, frustração e lembranças das emoções positivas e negativas vividas pela criança.

         Nas atividades de psicomotricidade relacional as preocupações pedagógicas estão mais voltadas aos aspectos afetivos do que aos programas de conteúdo e seus objetivos. Por isso, o acréscimo do adjetivo “relacional” ao trabalho da psicomotricidade marca a especificidade desse método, concentrando-se mais na construção de relações interpessoais e entre corpo e mente da criança (VITAL, 2007).

         Adentrando-se na área educacional, a finalidade da psicomotricidade relacional na educação é desenvolver as potencialidades de relação da criança consigo mesma, com o outro e com o mundo, utilizando a ação do brincar espontâneo, o jogo simbólico como um meio de promover a superação de suas dificuldades relacionais. Favorece uma relação de ajuda, escuta, mediação, interação e de promoção entre o corpo (movimento) e a mente da criança com novos desafios (SILVA; FALKENBACH, 2004).  

         Detalhando com mais minúcia os fundamentos da psicomotricidade relacional, Silva e Falkenbach (2004) explicam os fundamentos da visão de cada autor. A abordagem psicomotora relacional se fundamentou nos estudos psicanalíticos da relação entre o adulto e a criança produzidos por estudiosos, como Winnicott, Dolto, Mahler, Klein, Spitz, que sobretudo, influenciaram os trabalhos psicopedagógicos de Aucouturier, Lapierre e Negrine, uma vez que se trata de uma prática educativa.

         Negrine, renomado autor brasileiro sobre psicomotricidade relacional, baseou seus estudos de psicomotricidade relacional nos pressupostos de Aucouturier, configurando sua linha de raciocínio em uma perspectiva educativa e preventiva. Para ele, “a psicomotricidade relacional utiliza-se da ação do brincar como elemento motivador para provocar a exteriorização corporal da criança”, pois a brincadeira impulsiona processos de desenvolvimento, aprendizagem e a livre expressão da bagagem cultural, de pensamentos e sentimentos internalizados pela criança (SILVA; FALKENBACH, 2004).

         Na visão dos autores Silva e Falkenbach (2004), o trabalho de Negrine destaca-se dos demais autores por fatores como, unir os referenciais teóricos de outras ciências, como a Antropologia e a Psicopedagogia, assim como os fundamentos de Vygotsky aos seus estudos de psicomotricidade, o que contribuiu para mudanças significativas na forma de compreender  as ações psicopedagógica do desenvolvimento e aprendizagem infantil; explicar que em um ambiente lúdico, a criança faz uma trajetória denominada de “trajetória lúdica” e o seu movimento flutua entre o movimento técnico (real) e o faz-de-conta (ideal), o que caracteriza o jogo simbólico e, por fim, estruturar e adequar a organização das atividades psicomotoras conforme a faixa etária do grupo de crianças e seu contexto educativo.

         Neste sentido, a ação de brincar se faz importante como um canal de comunicação, expressividade e representação e, é por este motivo que os especialistas dizem que se conhece uma criança brincando. É no momento da brincadeira que se pode observar sua bagagem cultural, experiências, pensamentos, valores e atitudes, ou seja, o que compõem o seu mundo interior e as relações construídas pela criança em relação a si mesma, ao outro e ao mundo (SANTOS, 2015).

         O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) trata que o jogo simbólico, também chamado de faz-de-conta, é o momento na qual a criança inconscientemente recria a realidade usando sistemas simbólicos, ela interpreta e ressignifica o mundo real pela representação de papéis sociais.

         Inserido nas atividades de psicomotricidade relacional, o jogo simbólico é uma importante estratégia pedagógica que permite que o profissional conheça a criança e o que ela manifesta, seus interesses, atitudes e valores que retratam as emoções e os sentimentos de cada momento vivido (LAPIERRE, 2004).

         Negrine (2002) apud Silva e Falkenbach (2004), lembra que “tal atitude pedagógica permite que o profissional faça interpretações significativas das ações que a criança experimenta e exterioriza, seja através da mímica, dos gestos ou das produções plásticas”. Para Aucouturier, no trabalho psicomotor relacional o jogo de pulsão deve ser potencializado, já Lapierre prioriza o jogo simbólico.

         O RCNEI (Brasil, 1998) trata que o jogo simbólico, também chamado de faz-de-conta, é o momento na qual a criança inconscientemente recria a realidade usando sistemas simbólicos, ela interpreta e ressignifica o mundo real pela representação de papéis sociais. Já o jogo de pulsão caracteriza-se pela repetição simples de exercícios motores e gestos, a fim de proporcionar prazer pela própria movimentação em si.

                Para Lapierre (1988) apud Silva e Falkenbach (2004), a psicomotricidade relacional não se caracteriza ao movimento corporal por si só, mas o corpo e seus movimentos são como um canal de comunicação das emoções com o mundo exterior. Nesse sentido, esta vertente de trabalho “reforça a comunicação do adulto com as crianças, engloba uma série de estratégias e ações pedagógicas que servem como meio de ajuda ao desenvolvimento e aprendizagem da criança”.

         Já Aucouturier caracteriza as atividades da Psicomotricidade Relacional em uma sequência temporal de ações pedagógicas, isto é, a criança segue uma determinada ordem para executar os jogos: momento inicial ou ritual de entrada; o momento de expressividade do jogo, que podem envolver prazer sensório-motor, jogos simbólicos; narração de história, atividades de representação e, momento final ou ritual de saída (MARTÍNEZ et al., 2003 apud SILVA; FALKENBACH, 2004).

 

A PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL E O JOGO SIMBÓLICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

         Conforme o RCNEI (Brasil, 1998), a Educação Infantil é a primeira etapa da educação Básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade e, é justamente nesta fase da vida que as crianças aprendem e apreendem o mundo de uma forma uníssona com a totalidade de seu corpo e mente e, isso é uma necessidade desta fase da vida, pois corpo, movimento e mente caminham juntos, numa relação de interdependência.

         Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia” da criança, podendo se comunicar e expressar por meio de gestos, sons e representar papéis sociais e situações da realidade com sua imaginação, interpretando a realidade. É brincando que as crianças estruturam o seu aparelho psíquico e desenvolvem capacidades importantes, como a imitação, atenção, memória, imaginação, compreensão de regras e socialização, que servirão de base para a formação de sua vida adulta. Tais capacidades são fundamentais para que a criança des

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Volume/Edição

Autores

  • Grazielle Rodrigues da Costa

Páginas

  • a

Áreas do conhecimento

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Palavras chave

  • Educação Física. Educação Infantil. Psicomotricidade relacional. Aprendizagem.

Dados da publicação

  • Data: 30/11/2016
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