AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E O DESENVOLVIMENTO MOTOR DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL
RESUMO
O presente artigo demonstra a importância das aulas de Educação Física no desenvolvimento motor de crianças com paralisia cerebral como forma de auxiliar na melhoria de qualidade de vida e na busca da independência e autonomia ao praticar as suas atividades funcionais. A paralisia cerebral é uma lesão não progressiva que pode ocorrer durante ou após o nascimento. Esta lesão compromete os desenvolvimentos motor e cognitivo da criança, proporcionando limitações no decorrer de sua vida. A prática de atividades físicas é essencial para portadores de paralisia cerebral, pois, auxilia no fortalecimento dos músculos contribuindo para o melhor desenvolvimento postural. A Educação Física pode funcionar de maneira terapêutica promovendo um estímulo muscular que poderá gerar melhores resultados no desenvolvimento motor das crianças com paralisia cerebral. Este estímulo acontecerá por intermédio de atividades físicas adaptadas que serão planejadas pelo professor de acordo com as limitações que a lesão apresenta. Além disso, a Educação Física proporciona oportunidades de socializar o aluno portador da deficiência com o restante da turma. Esta socialização contribuirá para a auto-estima e autoconfiança do mesmo. Portanto, este artigo visa identificar a contribuição da Educação Física para o benefício motor de crianças com paralisia cerebral por intermédio de atividades físicas apropriadas para cada grau da lesão com a produção de planejamento adequado que facilite a realização das mesmas.
PALAVRAS CHAVES: Paralisia cerebral, Educação Física, Desenvolvimento motor.
ABSTRACT:
This article demonstrates the importance of Physical Education classes in the motor development of children with cerebral palsy as a way of helping to improve the quality of life and the quest for independence and autonomy when practicing their functional activities. Cerebral palsy is a non-progressive injury that can occur during or after birth. This injury compromises the motor and cognitive development of the child, providing limitations in the course of his life. The practice of physical activities is essential for people with cerebral palsy, because it helps strengthen muscles and contribute to better postural development. Physical Education can function in a therapeutic way promoting a muscular stimulus that can generate better results in the motor development of children with cerebral palsy. This stimulus will happen through adapted physical activities that will be planned by the teacher according to the limitations that the lesion presents. In addition, Physical Education provides opportunities to socialize the student with the disability with the rest of the class. This socialization will contribute to self-esteem and self-confidence. Therefore, this article aims to identify the contribution of Physical Education to the motor benefit of children with cerebral palsy through appropriate physical activities for each degree of the lesion with the production of adequate planning that facilitates the accomplishment of them.
KEYWORDS: cerebral palsy, Physical Education, motor development
INTRODUÇÃO
Este artigo surgiu pelo interesse de compreensão sobre o tema, por intermédio de uma reportagem assistida no programa Esporte Espetacular da Rede Globo de Televisão, apresentada em maio de 2016. Esta reportagem falava sobre um projeto social realizado no Colégio Integrado de Educação Moderna em Goiânia. Este projeto ocupa-se de aulas de capoeiras em que é realizada a Roda da Igualdade na qual todas as crianças participam. A reportagem procurou demonstrar como a prática esportiva trazia alegria e ânimo para as crianças e como esta prática ajudou a melhorar o desenvolvimento motor das mesmas.
Com isso, entrei em contato com o Professor Eduardo Rodrigues da Disciplina de Métodos e Fundamentos de Educação Física da FABEL, para uma possível orientação, que de imediato teve início.
Contemporaneamente, as escolas recebem um elevado número de crianças com deficiências físicas, uma delas é a paralisia cerebral. Trata-se de uma deficiência cuja lesão ocorre no cérebro comprometendo o desenvolvimento motor e cognitivo da criança. Por intermédio da reportagem assistida, despertou-me o interesse de compreender como as crianças com paralisia cerebral são inclusas no cotidiano escolar e quais metodologias seriam possíveis para auxiliar no desenvolvimento do aluno portador da deficiência.
Em alguns casos, a falta de movimentação pode causar o atrofiamento dos músculos e ossos. Portanto, é imprescindível que a sociedade reflita sobre a importância das atividades físicas como forma de auxiliar na melhoria e produção do desenvolvimento motor de crianças com paralisia cerebral.
Pensar em atividades físicas no ambiente escolar envolve a participação da Educação Física que pode funcionar de maneira inclusiva e terapêutica para a melhoria da qualidade de vida deste aluno portador de deficiência.
Esta pesquisa demonstra a importância da Educação Física para o desenvolvimento motor de crianças com paralisia cerebral abordando as seguintes questões: a participação de crianças com paralisia cerebral nas aulas de Educação Física; como as atividades físicas devem ser aplicadas nestas crianças e quais são os benefícios que elas podem proporcionar. Tais atividades físicas podem ser exemplificadas como, exercíos corporais que envolvam o rolar, rastejar, engatinhar, andar, arremessar e chutar (ABPC, 2012).
O estudo tem por objetivo geral a reflexão sobre a importância da Educação Física para o desenvolvimento motor de crianças com paralisia cerebral. Os objetivos específicos estão compreendidos em descobrir o motivo da falta de participação das crianças com paralisia cerebral nas aulas de Educação Física nas escolas e propor mudanças metodológicas na inclusão de alunos com este tipo de deficiência por intermédio desta atividade em um conjunto de atividades apropriadas e elaboradas a partir de um olhar sensível e uma base teórica consistente.
A justificativa do estudo aponta a relevância da inserção de crianças com paralisia cerebral nas aulas de Educação Física por intermédio da prática de atividades adaptadas que auxiliem no desenvolvimento motor das mesmas estimulando as habilidades motoras já existentes e criando oportunidades de surgimento de outras habilidades que os auxiliarão a executar atividades funcionais, já que o exercício motor promove o não atrofiamento da musculatura.
A metodologia utilizada neste estudo trata-se de uma revisão de literatura com abordagens em livros e artigos em uma margem de 25 anos(de 1988 a 2013) e também a utilização de vídeos narrativos e explicativos que falam sobre o processo de inclusão da criança com paralisia cerebral na sociedade, os benefícios que a prática de esportes podem promover à saúde da criança com paralisia cerebral e como o profissional de Educação Física pode mudar a vida de um aluno portador desta deficiência. Tais vídeos serviram como referências traduzidas e dialogadas no desenvolvimento da escrita.
REVISÃO DE LITERATURA
A paralisia cerebral é um distúrbio congênito que pode ocorrer durante a gestação, no decorrer do parto ou após o nascimento de uma criança. Esta lesão cerebral pode acometer o tônus muscular, o movimento ou a postura (ABPC, 2012).
A Paralisia Cerebral (PC) descreve um grupo de desordens do desenvolvimento do movimento e da postura, causando limitações nas atividades. São atribuídas a distúrbios não progressivos que ocorrem no cérebro em desenvolvimento. As desordens motoras da PC são geralmente acompanhadas por alterações na sensação, percepção, cognição, comunicação e comportamento, podendo também ser acompanhadas por crises convulsivas (ABPC, 2012).
Esta deficiência não tem cura, porém, podem ser apresentadas melhorias se providenciados tratamentos apropriados; ela pode durar anos ou a vida inteira. O tratamento pode ser feito por acompanhamento de fisioterapeutas, remédios, cirurgia e outras categorias.
A paralisia cerebral não tem cura, seus problemas duram toda a vida. No entanto muito pode ser feito para que o indivíduo alcance o máximo de independência possível. A fisioterapia, a terapia ocupacional, os coletes e as cirurgias ortopédicas podem melhorar o controle muscular e a deambulação (MARANHÃO, 2005, p. 682).
Crianças que portadoras de paralisia cerebral precisam ser incentivadas a exercitar seus movimentos para que desta maneira, a lesão não atrofie ainda mais a sua coordenação motora e musculatura.
Desta forma, acredita-se que crianças com PC necessitam de atividades que proporcionem um estímulo global de seu desenvolvimento, com a finalidade de amenizar, compensar ou superar os seus déficits (ARROYO E OLIVEIRA, 2007, p. 98)
Na escola, este incentivo pode ser realizado por intermédio também das aulas de Educação Física. As aulas devem ser programadas com atividades apropriadas para este aluno deficiente. Além disso, o ambiente escolar teve ser totalmente inclusivo para receber da melhor maneira possível esta criança.
A dificuldade de acesso à escola também é um importante fator dificultador para a participação da criança no ambiente escolar, bem como a necessidade de transporte adaptado às necessidades físicas da criança. Segundo os cuidadores, não há respaldo eficaz de órgãos de apoio, a legislação facilita, mas não garante a inclusão escolar da criança com PC. (ARAÚJO e DE PAULA LIMA, 2011, pág. 298)
A Política Nacional da Educação garante o direito de todas as pessoas à escola independentemente de etnias, gêneros, classes sociais etc. (BRASIL, 2001) No entanto, parte das crianças com deficiências físicas ou mentais podem ser consideradas excluídas do ambiente escolar por carência de acessibilidade. Esta carência de acessibilidade pode ser exemplificada na falta de rampas e elevadores nas escolas para alunos cadeirantes, a inexistência de assentos confortáveis, brinquedos acessíveis, ambiente seguro para evitar possíveis quedas destas crianças e poucos projetos que conscientizem crianças não deficientes sobre a igualdade de direitos que portadores de deficiência.
Orienta, ainda, sobre a necessidade de divulgação "da visão de educação infantil, na perspectiva da inclusão", para as famílias, a comunidade escolar e a sociedade em geral, bem como do estabelecimento de parcerias com a área da Saúde e da Assistência Social, de forma que "possam constituir-se em recursos de apoio, cooperação e suporte", no processo de desenvolvimento da criança. (BRASIL, 2004)
A inclusão escolar visa garantir a igualdade de oportunidades e acesso à escola para alunos que possuam qualquer tipo de deficiências físicas ou mentais. Desta maneira, são estabelecidos mecanismos apropriados que irão beneficiar estas crianças.
A ideia de uma sociedade inclusiva se fundamenta numa filosofia que reconhece e valoriza a diversidade, como característica inerente à constituição de qualquer sociedade. Partindo desse princípio e tendo como horizonte o cenário ético dos Direitos Humanos, sinaliza a necessidade de se garantir o acesso e a participação de todos, a todas as oportunidades, independentemente das peculiaridades de cada indivíduo e/ou grupo social (BRASIL, 2004).
Por intermédio da educação inclusiva, podemos refletir sobre como as disciplinas escolares e as práticas pedagógicas podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida e autoestima destas crianças.
As escolas que reconhecem e valorizam as diferenças têm projetos inclusivos de educação e o ensino que ministram difere radicalmente do proposto para atender às especificidades dos educandos que não conseguem acompanhar seus colegas de turma, por problemas que vão desde as deficiências até outras dificuldades de natureza relacional, motivacional ou cultural dos alunos. Nesse sentido, elas contestam e não adotam o que é tradicionalmente utilizado para dar conta das diferenças nas escolas: as adaptações de currículos, a facilitação das atividades e os programas para reforçar aprendizagens, ou mesmo para acelerá-las, em casos de defasagem idade/série escolar. (ÉGLER, 2006, p. 03)
A Educação Física para crianças com paralisia cerebral pode auxiliar na diminuição ou correção de sequelas e danos que possam limitar seus movimentos por intermédio de atividades apropriadas para este tipo de deficiência. Esta disciplina pode funcionar de maneira terapêutica e educacional contribuindo para a qualidade e expectativa de vida das mesmas (BOBATH, 1989).
É através da educação física que o aluno poderá expressar suas emoções, como a alegria, o medo, descobrindo as mais variadas formas de linguagem corporal, “que estimula e aprofunda a inserção do educando na sociedade” (MATTOS e NEIRA, 2000, p.16).
Desta forma, esta pesquisa visa demonstrar a importância das aulas de Educação Física para o desenvolvimento motor de crianças com paralisia cerebral nas escolas.
Educação Física adaptada a Paralisia Cerebral
Segundo Duarte e Werner (1995 p.09), a Educação Física Adaptada...
é uma área da Educação Física que tem como objeto de estudo a motricidade humana para as pessoas com necessidades educativas especiais, adequando metodologias de ensino para o atendimento às características de cada portador de deficiência, respeitando suas diferenças individuais.
As aulas de Educação Física devem ser cautelosamente planejadas de forma apropriada para inclusão da criança com paralisia cerebral. É necessário que o professor leve em consideração a análise minuciosa do grau da deficiência, qual é a parte do corpo que deve ser estimulada e quais são as maiores dificuldades do aluno (TANI, 1988).
Cada criança com paralisia cerebral possui as suas particularidades. Portanto, é essencial realizar um estudo de cada aluno por intermédio de relatórios médicos, comunicação com a família e principalmente a vivência constante com aquela criança no ambiente escolar.
As instituições devem estar envolvidas e compromissadas para acompanhar o desenvolvimento da criança e buscar alternativas que possa promover esse desenvolvimento e bem estar de forma individualizada respeitando os limites e necessidades de cada um. (FERRARI E MORETE, 2004, p. 32)
Após realizar as devidas observações, o profissional de Educação Física poderá programar uma avaliação física para este aluno. Esta avaliação deverá ser totalmente adaptada às limitações físicas e neurológicas desta criança atendendo as suas necessidades. Além disso, devem ser providenciados recursos necessários para o maior conforto deste aluno durantes as atividades (ABPC, 2012).
Partindo do pressuposto de que a paralisia cerebral ocasiona perdas motoras, como por exemplo, a falha postural, a pouca resistência muscular e a falta de coordenação motora, pode-se assegurar de que as atividades adaptadas nas aulas de Educação Física funcionarão de forma terapêutica. Além disso, irão contribuir para o aumento da autoestima desta criança deficiente que se sentirá incluída no ambiente escolar.
A fim de obter melhores resultados é necessário que estas atividades físicas sejam realizadas em conjunto com toda a turma desta criança para que tanto os alunos não deficientes quanto os portadores aprendam o verdadeiro sentido de igualdade, amizade e companheirismo. Além disso, é importante que a ludicidade esteja presente em todas as atividades físicas para que se torne uma tarefa divertida associando-se ao brincar.
De acordo com ABPC (2012), a Atividade Física Adaptada (AFA) é um conjunto de atividades que reúnem a recreação, o esporte e o ritmo de maneira apropriada para crianças com paralisia cerebral. Nas atividades físicas adaptadas, os movimentos corporais irão estimular habilidades que atingirão domínios psicomotores, cognitivos e afetivo-sociais. Tais domínios irão auxiliar no desenvolvimento do equilíbrio, conhecimento do próprio corpo, orientação espacial, execução de ações, melhorias motoras e o estimulo da socialização.
A Associação Brasileira de Paralisia Cerebral (2001) propõe que a carga horária destas atividades deve ser em média, de 15 minutos ao dia. Conforme a criança deficiente for apresentando melhorias, poderão ser planejadas novas atividades que continuarão promovendo o melhor desenvolvimento motor em graus mais avançados.
As aulas de Educação física podem reduzir a gravidade das lesões causadas pela paralisia cerebral e evitar doenças posteriores que poderiam ser acometidas pela falta de atividades físicas. Além de incluir a criança no ambiente escolar, contribuirá para a produção de um futuro saudável e feliz.
A Paralisia Cerebral e o Desenvolvimento Motor
A paralisia cerebral causa alterações motoras não evolutivas em seus portadores. Entre essas alterações estão englobados os sistemas cognitivo, sensorial, comportamental e muscular (REBEL et al., 2010). A fala também pode ser afetada dificultando a comunicação.
Leite (2012) aponta que a classificação da paralisia cerebral é fragmentada em dois fatores. O primeiro, é a verificação de que tipo de distúrbio motor foi ocasionado e o segundo é identificação de qual região do corpo foi afetada pela deficiência. Dependendo do local afetado, a lesão pode gerar a tetraplegia ou quadriplegia, monoplegia, paraplegia ou diplegia e hemiplegia.
Para definir o grau de dificuldade motora, é necessária a avaliação específica. É importante inclusive, relacionar os danos motores ao nível de gravidade da paralisia cerebral. Deve-se considerara influência cognitiva em relação ao nível de desenvolvimento motor e analisar quais são as necessidades assistenciais do cotidiano desta criança que poderão influenciar a independência funcional (REBEL et al., 2010).
A partir da análise destes fatores importantes para a classificação da paralisia cerebral, devem ser providenciados tratamentos terapêuticos apropriados para cada grau desta deficiência; eles podem incluir experimentação de padrões normais de movimentos funcionais e até mesmo as atividades físicas. Estes tratamentos deverão ter como objetivo a melhoria da qualidade de vida deste indivíduo (WINNICK, 2004).
Esta lesão atinge o sistema nervoso tornando a absorção de informações dificultadas. Com isso, é essencial que nos tratamentos terapêuticos sejam priorizadas inclusive as intervenções deste sistema em prol da busca pela recuperação por intermédio da estimulação do desenvolvimento motor.
A criança portadora de paralisia cerebral necessita de cuidados constantes devido às limitações que a mesma possui para realizar as suas atividades funcionais, como por exemplo, tomar banho, alimentar-se, movimentar-se etc. (SOUZA, 1998). Além disso, a lesão acomete o tônus muscular causando fraqueza e consequentemente gerando a dificuldade de segurar e movimentar objetos.
O indivíduo responsável pelo cuidado diário desta criança deve promover o estímulo contínuo dos movimentos em prol da busca da independência e autoestima. Trata-se de um cuidado delicado e que deve ser feito em união com terapeutas, médicos, professores para a obtenção de melhores resultados.
Todas as crianças portadoras de paralisia cerebral necessitam de cuidados especiais em seu ambiente escolar, familiar e terapêutico contando com a ajuda de profissionais capacitados que trabalhem adequadamente para a evolução do quadro de saúde da mesma.
DISCUSSÃO DOS DADOS
É relevante afirmar que o principal motivo da carência de crianças com paralisia cerebral nas escolas ou nas atividades escolares é a falta de acessibilidade. Estes alunos necessitam de adaptações necessárias para que sejam inclusos de fato no ambiente escolar. Estas adaptações abrangem um ambiente escolar seguro e confortável, materiais escolares adaptados que facilitem o movimento de pegar, colocar e tirar do lugar, brinquedos acessíveis e estimulantes, elevadores ou rampas que facilitem a locomoção de alunos cadeirantes e professores qualificados para receber o aluno incluindo-o no cotidiano escolar, isto é, em todas as atividades físicas ou cognitivas.
É necessário enfatizar a questão de que integração é um processo dicotômico à inclusão. A integração parte de um pressuposto de que existe uma possibilidade de escolha de quais seres humanos têm direito ou não de frequentar a escola e outros ambientes. Torna-se um processo injusto, pois, as pessoas com deficiências são aceitas na sociedade a partir de uma aptidão para aprender, trabalhar, se expressar e se locomover nas ruas das cidades (FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL, 2003). Neste processo o deficiente deve se esforçar para participar dos grupos sociais e no âmbito escolar, o aluno portador de deficiência deve se adequar à estrutura espacial e social da escola.
A inclusão possui características políticas, transformadoras e construtivas. Neste processo os seres humanos têm a liberdade de participação ativa na sociedade independente de suas deficiências ou diversidades. No ambiente escolar, a inclusão determina que o aluno portador de deficiência seja recebido com todas as adaptações espaciais e sociais necessárias e que tenha participação em todas as atividades. Com a inclusão a escola prioriza o bem-estar no aluno e preocupa-se com a formação de um sujeito independente e livre para determinar as suas escolhas.
Portanto, a escola deve providenciar ou estar antecipadamente preparada para receber um aluno portador de paralisia cerebral realizando as devidas adaptações estruturais, verificando se as suas práticas pedagógicas estão condizentes com o que determina a inclusão escolar, excluindo totalmente qualquer ranço da integração.
Além da falta de acessibilidade, podemos citar a necessidade de embasamento do preparo de profissionais durante a graduação voltada para a educação especial. É necessário refletir se as construções metodológicas destes profissionais são suficientes para lidar com crianças portadoras de paralisia cerebral que os mesmos irão receber futuramente como seus alunos nas escolas, destacando que este profissional tem a consciência de que em seu planejamento as atividades propostas deverão estar voltadas para a inclusão deste aluno, já que o mesmo não possui desenvolvimento intelectual semelhante ao de uma criança não portadora de paralisia cerebral.
Com isso, é essencial enfatizar a importância da especialização continuada destes profissionais que estarão buscando constantemente maiores aprendizados que os auxiliarão no aperfeiçoamento de suas práticas contribuindo para o processo educacional de alunos com paralisia cerebral. Esta busca pela especialização continuada consequentemente gerará melhores resultados no desenvolvimento destas crianças.
Já a preocupação com a formação continuada de professores de Educação Física reside-se no fato de que a sociedade está em constante transformação, onde a todo momento nos diferentes contextos de atuação, dentre eles o ambiente escolar, são exigidos novos sistemas organizacionais que demandam inovações nas adaptações educacionais e formativas para todos os alunos, inclusive para aqueles com deficiência, os quais, em alguns momentos ou situações necessitam de didáticas, recursos, diferenciadas de acordo com suas necessidades, exigindo transformação do modo de pensar e agir dos docentes frente às suas ações. (FRANK, 2013, p.6)
O professor de Educação Física possui metodologias pedagógicas voltadas para o ensino da relevância da prática dos esportes, o funcionamento do corpo humano e a importância de manter uma vida saudável. Quando este professor recebe um aluno portador de paralisia cerebral em sua turma, o seu planejamento deve ir além de atividades voltadas para crianças não deficientes. Este profissional deve preocupar-se com a qualidade de vida, autoestima, busca da independência e autonomia deste aluno.
Visto que a Educação Física para crianças com paralisia cerebral pode funcionar de forma terapêutica para o melhor desenvolvimento físico e cognitivo da mesma, é necessário que o profissional especializado reflita sobre as suas práticas pedagógicas programando aulas que contenham atividades físicas apropriadas para a sua melhor realização (BOBATH, 1989). Estas atividades deverão ser minuciosamente programadas, avaliando o grau da deficiência e quais são as limitações que a mesma proporciona ao aluno.
A atividade física adaptada não tem fins curativos e sim preventivos, ajudando na melhora e/ou manutenção da amplitude articular, prevenindo futuras contraturas e deformidades decorrentes da espasticidade, postura incorreta, entre outras, preservando a saúde física e mental, transformando o portador de Paralisia Cerebral e uma pessoa mais saudável e com melhores e maiores perspectivas de vida. (STRAPASSON, 2002, p. 5)
Considerando a importância da Educação Física para a melhoria da qualidade de vida de alunos portadores de paralisia cerebral é necessário contemplar se os mesmos estão inclusos efetivamente nas atividades pedagógicas desta disciplina, com certeza de cumprimento da lei e da consciência de participação significativa do educador na vida desta criança contribuindo para o seu melhor desenvolvimento.
Incluir crianças com paralisia cerebral plenamente nas atividades de Educação Física vai além de um ato profissional. É um ato de amor, compreensão, respeito pelas diferenças e busca pela igualdade de ensino para estas crianças. Além de contribuir com a autoestima e autonomia deste aluno, as atividades apropriadas trarão benefícios para a musculatura, coordenação motora, desenvolvimento do sistema cognitivo e sócio- afetivo que com o passar do tempo pode contribuir para a realização de atividades funcionais no seu cotidiano fazendo com que os mesmos sintam-se cada vez mais independentes.
CONSIDERAÇÕES
De acordo com as temáticas abordadas nesta pesquisa, é possível considerar que a aulas de Educação Física para o desenvolvimento de crianças com paralisia cerebral é de extrema importância, podendo auxiliar na prevenção e melhorias de sequelas decorrentes da deficiência e na busca pela descoberta de suas potencialidades. Tais temáticas abrangem a participação de crianças com paralisia cerebral nas aulas de Educação Física, a importância da disciplina para o desenvolvimento motor destas crianças, os benefícios que as atividades físicas podem lhes proporcionar, a adaptação da Educação Física para crianças portadoras da deficiência e processo de desenvolvimento motor.
O professor de Educação Física pode planejar atividades ou avaliações apropriadas para a movimentação corporal da criança portadora de paralisia cerebral. Essas atividades deverão ser adaptadas envolvendo movimentos que envolvam a realização de atividades funcionais, como por exemplo, andar, sentar, tirar e colocar objetos dos locais, engatinhar e rolar. Devem ser utilizados inclusive, recursos materiais que auxiliem na realização dessas atividades, como por exemplo, colchonetes e objetos adaptados com engrossador e mais leves para facilitar o movimento de pegar, tirar e colocar do lugar.
Antes de qualquer avaliação, devem-se investigar quais são as limitações que a deficiência fornece ao aluno e em que grau a mesma encontra-se. Desta forma, será possível analisar quais foram os progressos do desenvolvimento desta criança.
As atividades adaptadas envolvem um processo de inclusão da criança nas aulas de Educação Física. Nem todas as escolas possuem uma estrutura espacial adequada para a realização destas atividades, neste caso, é importante ressaltar como a falta de acessibilidade pode prejudicar um aluno com paralisia cerebral. É de extrema importância que as escolas estejam preparadas para receber os alunos portadores de deficiência. Este preparo engloba mudanças estruturais nas escolas, como por exemplo, recursos necessários para a melhor locomoção e segurança dos alunos (rampas ou elevadores), objetos esportivos ou brinquedos adaptados e assentos confortáveis.
As aulas de Educação Física podem auxiliar a criança com paralisia cerebral a vencer limitações, elevar sua autoconfiança, autoestima, busca pela autonomia, independência e integridade. Além disso, a disciplina proporciona ao aluno a condição de explorar as suas potencialidades e capacidades evitando o tédio e doenças relacionadas à inatividade (ABPC, 2012). Estas transformações auxiliarão ao aluno a realizar suas atividades funcionais do cotidiano incluindo a melhoria de sua vida social.
O profissional de Educação física deve considerar todos os fatores dominantes na vida do aluno deficiente. Tais fatores podem ser citados como a realidade social em que aquela criança vive, refletindo sobre a maneira que a família lida com a situação e se existe possibilidade de criar vínculos intensos com o ambiente escolar de maneira positiva para auxiliar no melhor desenvolvimento do aluno.
Portanto, é importante enfatizar que a presença do profissional da Educação Física é demasiadamente relevante e unindo-se com a família e tratamentos médicos os resultados poderão ser mais significativos; considerando que os avanços vão além da motricidade, inclui-se o desenvolvimento fisiológico e psicossocial.