Aprendizagem em Ambientes Virtuais de Aprendizagem
A evolução e o desenvolvimento das diferentes técnicas de comunicação provocaram significativas mudanças nos diversos aspectos na sociedade atual, deflagrando em uma nova denominação para a sociedade, conhecida atualmente, como sociedade midiática e a sociedade do conhecimento. As Tecnologias da Informação e Comunicação evoluíram tanto que já fazem parte do cotidiano da sociedade, e aliando essa facilidade de comunicação com a Internet, temos a sociedade do conhecimento que por sua vez, possui na atualidade acesso a mais informações, de forma mais rápida e consequentemente as inovações ocorrem em um ritmo acelerado também. Porém vale ressaltar que informação não representa conhecimento.
De forma a acompanhar essa evolução tecnológica e não deixar os alunos obsoletos seria justo utilizar estes importantes e fascinantes recursos da sociedade do conhecimento no contexto educacional, pois como afirma Valentini (2005):
O ensino tradicional, sem os recursos tecnológicos, fica preso àquilo que o professor pode captar de cada aluno e ignora o processo de aprendizagem em que cada sujeito se envolveu, fazendo-se autor e ator, assumindo sua responsabilidade no caminho da autonomia. (VALENTINI, 2005 p.42)
A utilização do computador e dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem na educação oferece ao aluno a inclusão no mundo digital e virtual, uma nova abordagem na forma de ensinar e pode conseqüentemente, vir a contribuir para a sua formação, já que o uso destes recursos pode favorecer na aprendizagem do aluno. Conforme Lollini (1991):
[...] um dos méritos do computador no campo da educação é, porém, o de tentar resolver um dos grandes problemas da educação: como respeitar o ritmo da aprendizagem, como evitar defasagens entre os tempos propostos (ou impostos) pela escola e o tempo necessário ao aluno numa atividade particular em um determinado momento da vida. LOLLINI (1991) apud PEREIRA (2007, p.156).
Para Vygotsky (1988, 1991, 1999) apud Valentini (2005) o ser humano é um ser social, e o seu desenvolvimento se dá na participação do meio em que está inserido. No entanto, o simples contato com os objetos de conhecimento não garante aprendizagem, a intervenção do outro é essencial para que esse processo se realize. Desta forma, é de fundamental importância a interação e participação coletiva dos alunos no ambiente favorecendo um melhor rendimento da aprendizagem. Ficaria a cargo da instituição e os professores a responsabilidade em elaborar uma proposta pedagógica que contribua para formação de um aluno autônomo, ativo, criativo e independente nas suas iniciativas. Claro que para atingir um grau de satisfação na aprendizagem do aluno, ele precisa estar motivado, ou seja, precisa querer, ter vontade em estar participando e interagindo.
D’Agord (2005) afirma que a relação entre alunos e professores passa pelas enunciações do que se sabe e do que não se sabe. O aluno para demonstrar estar presente e ativo na sala virtual, precisa participar da aula de forma ativa, propondo perguntas e elaborando suas hipóteses. Essas hipóteses nada mais são do que manifestações de um saber prévio em busca de conhecimento.
Assim, D’Agord (2005) completa:
Essa participação tem apenas um meio de aparecer: a digitação. A utilização da escrita é fator relevante nessa situação. Sem o apoio dos gestos, da entonação de voz e do olhar, é preciso utilizar os recursos da língua escrita para apresentar com clareza na argumentação, e isso produz reflexão constante na escolha das palavras a serem utilizadas e na crítica posterior aos efeitos do recurso a essa ou àquela palavra. (D’AGORD e VALENTINI, 2005, p.98).
Desta forma, o aluno pode ter um rendimento melhor nas suas interações no ambiente, já que teria que pensar, analisar e às vezes até pesquisar para poder explanar suas idéias e opiniões para os demais alunos e ao professor.
A maioria dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem adota como paradigma no seu desenvolvimento o modelo construtivista, neste caminho a autora Schlemmer (2005) realizou uma avaliação do AVA, desenvolvido e utilizado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, que segui o modelo interacionista/construtivista/sistêmico. Esta avaliação foi feita como referência aos modelos descritos por Britan e Líber (2001) apud Schlemmer (2005), e foram analisados por varias perspectivas. Abaixo destacamos algumas informações a respeito da avaliação do ambiente conforme Schlemmer (2005):
1- Perspectiva Técnica
- Ferramentas de gerenciamento e gestão do ambiente
- Ferramentas de gestão de comunidades
- Ferramentas de autoria (professor e/ou estudante)
- Ferramentas da área individual (Webfólio individual)
- Ferramentas da área da comunidade (Webfólio coletivo)
- Ferramentas de serviços (apoio)
- Ferramentas de interação síncrona
- Ferramentas de interação assíncrona
- Ferramentas de avaliação
2- Perspectiva didático-pedagógica
- Paradigma – interacionista/construcionista/sistêmico
- Foco do sistema – na aprendizagem, na construção do conhecimento, na cooperação, na autonomia, no respeito ao ritmo de desenvolvimento.
- Ambiente de aprendizagem – flexível, participativo, centrado na interação, na relação.
- Ensino – baseado no desenvolvimento de projetos, desafios / casos / problemas, na problematização, na construção por meio de um processo dialogado.
- Currículo – construído no processo, não há uma seqüência única e geral. Os pré-requisitos são definidos pelo aluno, juntamente com o professor, em função do que deseja conhecer e do que já sabe.
- Metodologia – interativa e problematizadora, centrada na pesquisa e manipulação – aprender a pensar – na identificação e resolução de problemas.
- Avaliação – foco no processo, na observação, no desenvolvimento. Valoriza a interação e a relação entre pontos de vista para compreensão, aprofundamento e ampliação de conceitos, verificados pelo uso dos conhecimentos para desenvolver projetos, solucionar desafios/problemas/casos.
- Capacitação dos professores – continuada e formativa em serviço, centrada no processo de aprendizagem, interação, desenvolvimento.
- Aquisição de conhecimento – em qualquer lugar, a qualquer hora – sociedade interligada. Não é linear, nem previsível, incompatível com a idéia de caminhar do mais fácil para o mais difícil.
- Aprendizagem autônoma – possibilita aos aprendentes encontrar suas próprias fontes para ampliar sua aprendizagem e contribuírem com o grupo com suas descobertas.
- Reflexão – possibilita ao professor auxiliar os estudantes no processo de estabelecer relações entre o feedback de suas ações com os objetivos definidos.
3- Perspectiva comunicacional-social
- Espaço informacional;
- Fontes de negociação;
- Ferramentas discursivas;
- Interação;
- Interatividade;
- Aluno como produtor ativo;
- Professor como mediador.
O AVA da UNISINOS já vem sendo utilizado desde o ano 2000, tendo atualmente mais de seis mil usuários, entre alunos, professores, administradores, atendendo aos cursos de graduação, pós-graduação, comunidades de extensão, pesquisa e etc. (SCHLEMMER, 2005, p. 155).
Todas essas informações a respeito da avaliação é importante para poder compreender melhor a estrutura que compõe um Ambiente Virtual de Aprendizagem, podendo ate servir como fonte de inspiração para projetos de desenvolvimento de outros AVAs.
Como mencionado os Ambientes Virtuais de Aprendizagem possui diversos benefícios, mas além dele o professor e o aluno tem suas responsabilidades quando se analisa sob uma ótica das práticas pedagógicas construcionista. Assim Demo (1993) apud Valentini (2005) afirma que:
[...] a tarefa do professor não pode ser reduzida ao repasse de informações, a explicações e a resumos (substituindo a leitura e a elaboração própria) da matéria. A tarefa do professor precisa ser caracterizada por mostrar caminhos, orientar, estimular a busca própria do aprender, e outras competências que desenvolvam nos alunos aptidões que caracterizem indivíduos seguros, criativos e empreendedores, capazes de gerenciar a formação científica e a intelectual. Demo (1993) apud Valentini (2005, p. 123).
Paradoxalmente os alunos também devem cumprir o seu papel conforme Harasin (1996) apud Valentini (2005):
[...] precisa possuir algumas características como: iniciativa de acesso à rede, atitude, motivação, autodisciplina para participar regularmente do curso e adoção de métodos sistemáticos de retenção, organização e revisão de textos. Não se trata de características exclusivas do estudante online, mas para ele elas são fundamentais.
Portanto, para que possibilite uma aprendizagem significativa, dinâmica e condizente com realidade vivenciada atualmente pela sociedade globalizada faz-se necessário um conjunto de ações, por parte das instituições de ensino implementando o uso das ferramentas tecnológicas no ensino. Aos alunos devem ser desafiados, motivados e ao professor fica incumbido de concretizar estas ações dos alunos ajudando-os na sua formação de forma cooperada, coletiva, respeitando o seu ritmo de aprendizagem e mediadas pelas tecnologias da informação e comunicação como os Ambientes Virtuais de Aprendizagem.
REFERÊNCIAS
D’AGORD, Marta Regina de Leão. Processos subjetivos na aprendizagem. IN: VALENTINI, Carla Beatris; SOARES, Eliana Maria do Sacramento. Aprendizagem em Ambientes Virtuais: compartilhando idéias e construindo cenários. Caxias do Sul: EDUCs, 2005.
PEREIRA, Alice Cybis. AVA - Ambientes Virtuais de Aprendizagem em Diferentes Contextos. 1. ed. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2007.
SCHELEMMER, Eliane; Ambiente virtual de aprendizagem (AVA): uma proposta para a sociedade em rede na cultura da aprendizagem. IN: VALENTINI, Carla Beatris; SOARES, Eliana Maria do Sacramento. Aprendizagem em Ambientes Virtuais: compartilhando idéias e construindo cenários. Caxias do Sul: EDUCs, 2005.
VALENTINI, Carla Beatris; SOARES, Eliana Maria do Sacramento. Aprendizagem em Ambientes Virtuais: compartilhando idéias e construindo cenários. Caxias do Sul: EDUCs, 2005.