07/12/2016

A IMPORTÂNCIA DE UM CURRÍCULO MULTICULTURAL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

A IMPORTÂNCIA DE UM CURRÍCULO MULTICULTURAL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

 

Alane Ap. Cirino FRIGE, Antonio Marcos da SILVA JR, Bianca A. SILVA, Cristiano A. SILVA, Daniela Moraes SCOSS

Centro Universitário Ítalo Brasileiro

biancaedfbianca@gmail.com

RESUMO

 

O presente trabalho aborda a importância de um currículo multicultural nas aulas de educação física escolar para crianças e adolescentes, onde há um processo de formação e aquisição de conhecimentos das diversas culturas dentro de um contexto escolar e sociocultural. Este estudo pretende trazer algumas reflexões sobre o papel dos jogos e das brincadeiras populares na cultura brasileira, com ênfase no ensino escolar. Atualmente os currículos abordados nas escolas seguem apenas um padrão específico, o qual foram impostos pelos europeus. Os jogos, lutas, danças, ginásticas e brincadeiras são importantes ferramentas de ensino e sua utilização durante o processo de aprendizagem é de fundamental relevância, não apenas para facilitar a aprendizagem, mas, também para ajudar na assimilação de valores convencionados e legitimados pela sociedade. A metodologia utilizada neste trabalho foi de revisão de literatura, onde foram utilizadas as seguintes bases de dados Scielo, EF Artigos e Portal de Periódicos da CAPES. A educação física escolar pode contribuir com o desenvolvimento das crianças, contribuir com uma sociedade menos desigual, na medida em que ela tematiza práticas corporais de diferentes grupos sociais. Para alcançar este objetivo: os professores poderão produzir aulas com conhecimentos culturais de uma forma onde haja colaboração e a partir de um diagnóstico feito pelo professor e irão discutir sobre informações disponíveis em diversos conteúdos.

 

Palavras chave: Currículo, Educação Física, Multiculturalismo, Sociedade.

 

ABSTRACT

 

This article discusses the importance of a multicultural curriculum in school physical education classes for children and teenagers. Where there is a process of training and the acquisition of knowledge of the diverse cultures within a school and socio-cultural context. This study aims to bring some thoughts on the role of games and popular games in the brazilian culture, with an emphasis on school education. Currently addressed in schools curricula follow only a specific pattern, which were imposed by the Europeans. The games, wrestling, gymnastics, dances and jokes are important educational tools and their use during the learning process is of fundamental importance, not only to facilitate learning, but also to assist in the assimilation of agreed values and legitimized by society. The methodology used in this work was a literature review, where the following Scielo, EFArtigos and Portal of Periodicals databases of CAPES were used. The school physical education can contribute to the development of children, contribute to a less unequal society, insofar as she discusses body practices of different social groups. To achieve this goal: teachers can produce lessons with cultural knowledge in a way where there is cooperation and a diagnosis made by the teacher and will discuss about information available in different content.

Keywords: Curriculum, Physical Education, Multiculturalism, Society.

 

INTRODUÇÃO

 

Através do ensino das práticas corporais na escola entende-se que o currículo cultural é uma grande ferramenta de inclusão e socialização entre os alunos e as diversidades presentes na sociedade.

A maioria das crianças tende a brincar dentro de casa e essas práticas caracterizam os vínculos familiares, pois elas são as brincadeiras que brincaram, as danças que dançaram, e os esportes que praticaram. Não dá para desconsiderar a importância desse patrimônio. Se existir uma escola que valoriza as experiências esportivas, as lutas, as danças e as ginásticas, a tendência das crianças é conhecer pelo menos o significado dessas práticas. São experiências que os professores e a escolas devem proporcionar aos alunos onde eles possam ter uma visão mais ampla da sociedade. Não se pode mais continuar com uma sociedade em que só certo tipo de corpo é importante, em que só certo tipo de práticas corporal é importante.

O que as escolas precisam ter em mente é que ao partilharem experiências corporais estarão colocando em circulação os modos de ver o mundo e estarão ajudando na constituição de cidadãos mais sensíveis as questões do mundo. Por exemplo, como não julgar certos tipos de músicas que são tocadas na sociedade.

A sociedade está diante de uma mudança muito grande de significados. Por isso a importância de partilhar o currículo cultural na escola pensando em garantir experiências para as crianças no qual serão fundamentais na constituição das pessoas que essas crianças estão se tornando.

O objetivo deste trabalho é tratar sobre o contexto do surgimento do currículo multicultural, sua proposta pedagógica, ele em ação, o por quê ele vai além de outras propostas curriculares e por que defender este novo currículo cultural visando uma descolonização do currículo imposto atualmente nas escolas.

A metodologia utilizada neste trabalho será a revisão de literatura, através de revisões de artigos, livros e entrevistas. Os referenciais utilizados foram baseados nos estudos de Marcos Neira, Mario Nunes entre outros autores. E a periodicidade da pesquisa se deu com as obras dos últimos 15 anos.

 

MULTICULTURALISMO

 

O movimento multiculturalista se inicia no final do século XIX nos Estados Unidos com a ação principal do movimento negro para combater a discriminação racial no país e lutar pelos seus direitos civis Gonçalves e Silva (1998).

Os precursores do multiculturalismo foram professores, doutores afro-americanos, docentes universitários na área dos estudos sociais que trouxeram por meio de suas obras, questões sociais, políticas e culturais de interesse para os afrodescendentes”. Esses precursores foram essenciais para que no século XX por meio de novos intelectuais o tema se voltasse também à educação. (SILVA, BRANDIM, 2008, p. 56)

Segundo Gonçalves e Silva (1998) na década de 90 algumas universidades dos Estados Unidos da América aderiram ao movimento juntamente com as pressões populares e ganharam força e espaço com a criação de políticas públicas em todas os campos do poder público no que diz respeito a oportunidades educacionais iguais aos grupos sociais favorecidos daquele país.

O Multiculturalismo se refere a diferentes culturas do mundo, na aprendizagem o objetivo é visar a importância de cada cultura evitando conflitos sociais, como também referente a política, onde grandes grupos de pessoas reivindicam seus direitos e deveres como cidadãos (SILVA, BRADIN, 2008, p. 63)

 

O pós-modernismo que defende a valorização da diversidade cultural em sua linguagem curricular ajuda o fortalecimento dos estudos multiculturais nos anos 80 e 90. Nos tempos atuais o assunto é influenciado pela globalização, com a influência da mídia e de outras culturas. Fala-se de um privilégio cultural, no quem vem causando problemas sociais graves (FLEURI, 2003).

 

A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E O MULTICULTURALISMO

 

A educação física escolar é um espaço onde existe variadas culturas, e nele se propõe desenvolver um novo olhar onde sejamos capazes de enxergar essas diferentes culturas, ou seja, a o invés de trabalhar apenas o que é imposto, a educação física tem que lidar com variadas culturas para a valorização das diferenças.

A realidade da educação física escolar é diversa e multicultural. A diversidade de conceitos, valores e práticas é um elemento comum em relação a cultura. Na educação física, o multiculturalismo na prática cultural é vivido e envolve algum tipo de movimento (CANEN; OLIVEIRA, 2002).

O multicultural consiste nas diferentes expressões de culturas, onde acontece o respeito e acolhimento das mesmas. E é esse respeito comum que se deve ter em questões dos negros, dos homossexuais e demais grupos. E na educação física escolar, nessa mesma forma os alunos com tais características exigem os mesmos respeitos. A formação de um currículo escolar que aborde essa questão ensinando os alunos a “não” ter preconceitos e discriminações, já que a escola é um espaço de socialização.

O multiculturalismo ganhou força quando as pessoas se uniram com os tais “excluídos”, no movimento negro (consciência negra), feministas, homossexuais (parada do orgulho LGBT), e a luta dos deficientes (inclusão escolar, no esporte e adaptação social). O não reconhecimento faz com que atritos aconteçam em determinados grupos sociais e certos grupos acabam tendo mais direitos que os outros. Em questão econômica, precisamos de oportunidades para aprender e desenvolver como ser social e profissional (LOPES, 1999).   

Freire (1977) defende que o fim maior da educação deve ser desenvolvido a partir de diálogo e da consciência, onde as pessoas podem lutar por sua liberdade, contra a máquina opressora do capitalismo contudo somos a favor do multiculturalismo crítico, entendendo que o respeito à vida humana, diversidade cultural é essencial para a construção de um mundo de paz, como futuro educador vemos na instituição escolar uma força maior que nos conduzirá a esse processo de justiça social e democracia. Nessa vertente é necessário o avanço de pesquisas teóricas e práticas envolvidas na formação de identidades e pluralidades culturais.

 A instituição escolar, a educação física e o professor tem uma força de oportunizar os alunos com aulas coletivas sem exclusões fazendo com que os alunos entendam que o respeito a vida humana, a diversidade cultural é essencial para a construção de um mundo de paz sem conflitos e desigualdade.

Santin (1987) apresenta uma maneira de conceber o movimento humano. Para ele, o homem, ao se movimentar, expressar uma intencionalidade. Isso quer dizer que o movimento humano é repleto de significados. Aqui, o autor concebe o movimento humano como meio para expressar sentimentos, emoções e toda produção cultural de determinado grupo social.

O movimento humano é uma forma de linguagem. Essas ideias podem ser sintetizadas no conceito de “motricidade humana”, divulgado pelo filósofo português Manuel Sergio (1989 apud NEIRA, 2007 p. 4/5). Em suas definições , a motricidade humana é inseparável do conceito que se tem do homem e da sociedade. A motricidade, aqui, é passível de expressão pelo movimento. Para o autor, a motricidade expressa a unidade das funções sensoriais e motoras, que é constituída a partir da convivência do sentimento que o homem tem da sua corporeidade com a percepção do meio físico e social, ou seja, a cultura na qual o sujeito está inserido.

Atento à heterogeneidade da sociedade contemporânea, seus novos arranjos e às respectivas funções sociais da escola, o currículo cultural da Educação Física busca contribuir para valorizar a diversidade das formas como as manifestações culturais se expressam, bem como, as diferentes representações envolvidas, com intuito de refletir, aprofundar e ampliar os conhecimentos sobre cultura corporal socialmente disponíveis aos estudantes. Assim, quando entra em ação, o currículo cultural afasta-se do modus operandi tecnicista para abarcar outros princípios e procedimentos didáticos, desestabilizando qualquer lógica totalizante e dominante de currículo (NEIRA, 2011a; 2011b).

A escola não deve privilegiar certas práticas corporais em detrimento de outras. Não há cultura superior a nenhuma, toda cultura corporal tem sua importância na sociedade e em seu devido grupo social, e a escola de hoje em dia deve tematizar diversas práticas corporais para que os alunos possam entender o quanto a sociedade é diversificada.

Um currículo cultural da Educação Física aprecia, desde se planejamento, comportamentos igualitários para a decisão de diversos conteúdos e atividades no ensino. Considera uma reflexão crítica sobre tais práticas sociais da cultura corporal no mundo, fazendo com que os alunos possam praticar e em seguida se aprofundar mediante a uma conversa com outras manifestações corporais. No currículo cultural, a experiência escolar é um campo aberto a debates, encontros culturais e a diversidade de grupos sociais. A escola torna-se um campo de transmissão de sentidos, produção de identidades voltadas para a análise, compreensão e diálogo entre diversas culturas.

O currículo cultural valoriza a diversidade e questiona a própria construção das diferenças e, por conseguinte, dos estereótipos e preconceitos contra aqueles percebidos como ‘diferentes’ no seio de sociedades desiguais e excludentes (CANEN, OLIVEIRA, 2002, p.61)

 

 O currículo cultural da Educação Física tende a posicionar os estudantes para uma transformação social e contribuir com a construção de uma sociedade menos desigual. Na pratica pedagógica deverá estar junta no contexto social desses alunos apresentando condições para que sejam experimentadas, interpretadas e ressignificadas junto ao cenário social conforme as características de cada grupo.

O currículo da educação física passa a ser compreendido como espaço para análise, discussão, vivência, ressignificação e ampliação dos saberes relativos à cultura corporal. Neste currículo, são incoerentes quaisquer ações didáticas que privilegiam a fixação de padrões, visando ao alcance de níveis elevados de desenvolvimento motor ou transformações em outros domínios do comportamento. Tampouco são cabíveis organizações curriculares que confiram a determinada prática corporal maior ou menor privilégio ou, ainda, que a gestualidade característica de cada uma seja objeto de correção, treinamento ou meio para afirmação de valores. De uma perspectiva funcional e reprodutora das visões de determinado grupo, a educação física passa a ter uma perspectiva crítica e criadora de possibilidades (NEIRA, NUNES, 2009).

 

Currículo Cultural indo além de outras propostas curriculares

 

Segundo Neira (2012), os quatro currículos da Educação Física, não dialogam nem com um mundo globalizado, nem com um contexto democrático, nem com a sociedade multicultural, nem tão pouco com a nova função social da escola. A explicação é bem simples, pois esses currículos projetam somente um tipo de pessoa. Portanto, essas pessoas não dialogam com uma sociedade que a gente defende que todos possam ser diferentes.

Afirma Freire (2005) nossa desesperança na construção de uma sociedade mais democrática e menos desigual por meio de currículos tradicionais e fechados, nos quais todos os grupos que frequentam a escola não se vejam representados dignamente.

Defende-se uma noção curricular aberta ao diálogo cultural. Por isso, é recusado o aceite de qualquer proposta sem debate ou crítica. Não pode haver uma proposta definitiva, um só caminho a seguir.

Existem diversas maneiras, portanto existem sociedades que são marcadas pelas diferenças e que determinadas possibilidades são acessíveis a certos grupos e estão inacessíveis a outros grupos. A partir disso a escola ganha um papel fundamental onde poderá contribuir para uma construção de uma sociedade menos desigual, uma sociedade em que as distinções entre a identidade e as diferenças não sejam tão grandes como são nesse momento.

A educação física é para todos, seja branco, negro, pobre, rico, enfim, todos são diferentes e todos podem conhecer a cultura de cada um sem que haja desrespeito e discriminação.

Portanto entende-se que a escola não é um lugar para se formar atletas e sim um lugar onde todos possam praticar praticas corporais e se no caso haja o interesse de alguns alunos em buscarem conhecimentos técnicos por determinados esportes, o professor poderá encaminhá-lo para clubes entre outros lugares onde haja a pratica de esportes e competições.

 

Princípios e encaminhamentos

 

O currículo multicultural da Educação Física tem um olhar sobre as manifestações da cultura corporal como território de disputas e, entre outras questões, busca tematizar as práticas corporais. Com tal propósito, estimulam os setores menos favorecidos da sociedade que se tornem cidadãos mais preparados em um processo democrático em um modo liberal, tornando-se mais participativos nesta sociedade, onde a voz terá mais poder.

“Nesta direção, entende-se que o poder sempre existirá. O que se discute são as formas de democratizá-lo” (NUNES; RÚBIO, 2008, p. 71-2).

O movimento entendido como forma de linguagem e principalmente as práticas corporais como textos da cultura que veicula significados, aqueles que são conferidos pelos grupos produziram essas práticas corporais com aqueles que são atribuídas por outros grupos. Dessa maneira a Educação Física escolar tem o papel fundamental de ajudar as crianças a ler as práticas corporais e a produzirem as mesmas. Porque as práticas corporais são produto dos grupos sociais. Então se na escola estudarmos capoeira, futebol, bola de gude, entre outros, as crianças terão a chance de conhecer essas práticas e conhecer sobre as pessoas que fazem essas práticas e principalmente produzi-las na escola. Essas crianças terão ampliado seu repertório que lhes permitirão fazer uma leitura mais complexa do mundo (NEIRA, 2015).

A Educação física escolar pode contribuir com o desenvolvimento das crianças, contribuir com a construção de uma sociedade menos desigual, na medida em que ela tematiza práticas corporais de diferentes grupos sociais.

É importante que todas as crianças conheçam, vivenciem e estudem, por exemplo, o futebol, mas é fundamental que elas conheçam o porquê o futebol é produzido dessa maneira, por que o futebol acaba tendo o maior espaço na sociedade e por que outras práticas com menos visibilidade não tem tanto espaço na sociedade. Quais são os fatores que contribuem para que o ballet seja uma pratica corporal aceita socialmente.

Segundo Candau (2010) ele coloca como um item importante o desenvolvimento da pratica pedagógica relacionada num currículo multiculturalmente orientado, ou seja, a partir do momento em que um aluno cria certos tipos de “diferenças” entre os outros com relação a si próprio, ele terá uma visão preconceituosa em relação aos outros na sociedade.

 

Os “outros”, os diferentes, muitas vezes estão perto de nós, e somente físicas como também afetivas e simbólicas mesmo dentro de nós, mas não estamos acostumados a vê-los, ouvi-los, reconhecê-los, valorizá-los e interagir com eles. Na sociedade em que vivemos há uma dinâmica de construção de situações de apartação social e cultural que confinam os diferentes grupos socioculturais em espaços diferenciados, onde somente os considerados iguais têm acesso. Ao mesmo tempo, multiplicam-se as grades, os muros, as distâncias, não entre pessoas e grupos cujas identidades culturais se diferenciam por questões de pertencimento social, étnico, de gênero, religioso etc (CANDAU, 2010, p. 31).]

 

A compreensão do multiculturalismo parte de um pressuposto que é o aceite de que as pessoas têm diferenças. Se as diferenças existem e eu sou diferente de você, em vários aspectos não apenas físicos, mas principalmente de cultura, intelectualidade e afetividade.

Então o aluno que está em sala de aula é um “Outro”, é essa condição que permite a compreensão que cada indivíduo possui manifestação não clara é onde parte a necessidade do respeito. Dessa forma percebemos a forma de tratar o diferente de forma diferente, porque é isso que se espera do multiculturalismo de compreender que as pessoas agem de forma diferente e que as culturas se manifestam, não havendo a princípio uma cultura melhor do que a outra. Na realidade essa é uma sociedade dita democrática onde as pessoas constroem os espaços e dessa forma, as formas culturais também são construções que dependem dessa defesa do espaço coletivo. (CANDAU & MOREIRA, 2008).

A Educação Física escolar deve aproveitar as manifestações corporais das culturas para trabalhar as questões culturais de maneira contextualizada e reflexiva, de modo a contribuir com a diminuição de preconceitos e discriminações que ocorrem visivelmente em nossas aulas. Neste contexto, o professor de Educação Física deve conhecer bem o comportamento de seus alunos, pesquisar, diversificar, tematizar para dar oportunidade de participação a todos, valorizando o que cada um tem de melhor para oferecer aos outros. (CANDAU,2008).

 

O multiculturalismo em ação: a prática pedagógica multicultural

 

Esse tema não pode ser tratado como um modismo ou uma “doação” por parte de camadas favorecidas da população: identidades étnicas, raciais, de gênero e outras têm sido sistematicamente caladas em currículos monoculturais, homogeneizadores, com sérias consequências para a formação de professores e a educação de futuras gerações (CANEN, 1999, 2001; PINTO, 1999; BOYLE-BAISE & GILLETTE, 1998; GRANT & WIECZOREK, 2000 A

Neira (2014) aponta que é importante deixar esse currículo de uma só cultura no passado, pois esse currículo branco, europeu, foi imposto em nossa sociedade deixando de lado nossas bases culturais como brincadeiras, jogos, danças, lutas e ginásticas fora do currículo escolar por muito tempo, sem que estas práticas corporais fossem abordadas e tematizadas dentro da escola nas aulas de educação física.

Frente a isto é de extrema importância que os alunos conheçam na prática as gestualidades de certos grupos presentes em nossa sociedade e aprendam diversas culturas em relações aos outros grupos e que possam aprender que por trás de algumas culturas corporais sempre haverá uma história por trás dela e assim possam ter uma ressignificação em relação a cultura corporal que estará sendo abordada.

Segundo Neira e Nunes (2007, p. 19,20,21) propõem alguns objetivos que orientarão as ações didáticas ao longo do currículo escolar:

É importante o aluno interpretar e entender as manifestações corporais presentes na comunidade e na sociedade, tendo um bom conhecimento das práticas da cultura corporal de forma legitima de expressão de outros grupos sociais; Lutar pelo reconhecimento e direitos do grupo presente na sociedade, verificando as características e a expressão corporal das manifestações às quais serão abordadas em aulas; Identificar nas aulas de Educação Física escolar uma forma onde todos possam participar  visando  compartilhar a cultura, respeitando  as diversas opiniões e práticas corporais, tendo um reconhecimento e um diálogo para que todos possam construir uma sociedade democrática; É importante que a escola, os docentes, contribua para que os alunos reconheçam as diversas culturas corporais como patrimônio cultural da humanidade, e assim agindo de forma solidária, com responsabilidade, comprometimentos e fazendo com que os mesmos trabalhem em grupo durante as aulas de Educação Física sem que haja discriminação.

 

Segundo Neira e Nunes (2009 p. 21)

a perspectiva cultural da educação física traz para o interior da cultura escolar as diversas produções sistematizadas nas mais variadas formas de expressão corporal. O estudo de cada manifestação, por meio de atividades de ensino, proporcionará um processo permanente de reflexão acerca dos problemas sociais que envolvem ou envolveram em seu contínuo processo de construção e a forma como são representadas pelos diversos grupos que compõem a sociedade.

 

Garantindo esse trabalho, foram feitas algumas seleções sobre as manifestações corporais e como devem seguir ao longo do currículo com alguns princípios:

Reconhecimento de identidades culturais, justiça curricular na distribuição das manifestações que serão estudadas, tomando como referência os grupos culturais onde se originaram e o espaço da aula como campo de luta pelo direito de ser. Maior atenção ao processo de descolonização do currículo e por fim evitar o daltonismo cultural sabendo que as diferenças entre grupos e pessoas são culturalmente construídas.

Para Candau (2008) é importante proporcionar aos alunos no ambiente escolar um local onde eles possam construir sua própria identidade cultural estando relacionada com a história de seu país e envolvidas socialmente.

A justiça curricular tem o mesmo sentido de justiça social. Para Connell (1993 apud NEIRA, NUNES, 2009 p. 22), “é importante atentar ao modo como o currículo privilegia certos conhecimentos e identidades em detrimentos de outros”. O que está em tela é a realização da justiça no ato da vivência curricular. Uma distribuição equilibrada das diversas manifestações da cultura corporal prestigiará, pela valorização desse patrimônio, a multiplicidade de conhecimentos presentes na escola e na sociedade.

Neira (2015) aponta que tais esportes na escola como handebol, voleibol, futebol e basquete não podem ter prioridades em um currículo escolar, é de muita importância agregar outras manifestações na escola como danças, brincadeiras, jogos, ginásticas e lutas.

Tais práticas corporais como a capoeira sempre estiveram presentes na sociedade, e sempre esteve ausente no currículo escolar por conta de até pouco tempo atrás ser uma manifestação corporal que era desqualificada como prática corporal e reduzida a uma pequena parcela marginalizada da população, onde sua prática era proibida por lei.

 

Organização e desenvolvimento da ação educativa

 

Usando como referência as características de cada comunidade, identificando por um processo realizado pelo grupo escolar, os docentes poderão dar início a um trabalho de acordo com o projeto pedagógico da escola, posicionando os professores na condição de autor e sujeito das ações didáticas. O importante é que as manifestações corporais que estão em torno da comunidade escolar possam ser trabalhadas de forma que os alunos possam ter uma ampliação de tais culturas que serão estudadas em cada período letivo.

Para alcançar este objetivo: os professores poderão produzir aulas com conhecimentos culturais de uma forma onde haja colaboração e a partir de um diagnóstico feito pelo professor irão discutir sobre informações disponíveis em diversos conteúdos. Na educação infantil, podem ser trabalhadas as brincadeiras de antigamente, já nos anos iniciais do ensino fundamental, as brincadeiras presentes no bairro, no ensino médio, as brincadeiras da cultura dos adolescentes.

Para a prática pedagógica da educação, educação física alinhada à perspectiva cultural, Neira e Nunes (2006; 2007b) sugerem alguns cuidados de ordem metodológica:

Mapeamento dos conhecimentos acerca da cultura corporal na comunidade, desenvolvimento das atividades de ensino, prática e leitura da gestualidade; Interpretação dos aspectos da linguagem corporal presentes no objeto de estudo. Ressignificação de novas possibilidades de vivência, ampliação e aprofundamento dos conhecimentos da prática corporal, relacionando os conhecimentos culturais dos alunos visando à construção de um posicionamento crítico.

 

Todas essas ações, descobertas, informações, devem ser avaliadas pelo projeto pedagógico desenvolvido na escola.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS        

 

Entende-se que as escolas de hoje em dia atuam de uma forma diferente, com currículos onde a formação dos alunos será a mesma sendo que a escola é um grande espaço de socialização e diversidade onde há alunos de diferentes culturas. A educação física escolar junto das outras matérias tem um grande papel na vida do aluno, ao contrário do que se acredita, sua função não é formar atletas e nem lutar contra obesidade infantil e sim oportunizar os alunos de entrar em contato com conhecimentos essenciais para entender a sociedade que se vive.

O professor e a escola têm um papel extremamente importante e fundamental na vida de cada um desses alunos. Pois são eles que darão as bases culturais para que esses novos futuros cidadãos na sociedade em que vivemos, aprendendo sobre o respeito e cada diferença entre as pessoas.

O multiculturalismo é o reconhecimento das diferenças e da individualidade de cada um. Um currículo multicultural na escola deve trabalhar através de diversas linguagens, a construção do saber, do conhecimento e preparando os alunos para o mundo. Pela convivência com as diversas manifestações culturais, cada um com suas crenças, costumes e valores, trabalhando em prol da formação de identidades abertas, onde cada indivíduo passe a reconhecer e respeitar o direito do outro a diversidade, desafiando preconceitos, numa perspectiva de educação para a cidadania, para a paz, para a ética nas relações interpessoais, para a crítica ás desigualdades sociais e culturais.

O princípio da diversidade aplica-se na construção dos processos de ensino de aprendizagem e orienta a escolha de objetos e conteúdos, visando ampliar as relações entre os conhecimentos da cultura corporal de movimento e os sujeitos da aprendizagem.

A igualdade de que se fala é igualdade relativa aos direitos e deveres. Sendo assim entende-se que não é somente importante um currículo multicultural, pois esse currículo pode ser trabalhado juntamente com outros currículos, onde não se deve priorizar somente um determinado currículo nas escolas.

É extremamente importante e fundamental que o professor esteja preparado para aplicar conhecimentos aos alunos e que consiga mostrar a todos que a sociedade é ampla e com diversas culturas, com isso ajudará aos alunos que construam uma sociedade menos desigual.

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

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Autores

  • Bianca Antônia da Silva

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Palavras chave

  • Currículo, Educação Física, Multiculturalismo, Sociedade

Dados da publicação

  • Data: 07/12/2016
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